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A350-1000, o concorrente do 777

Airbus espera reverter hegemonia da Boeing no mercado para aviões com mais de 260 assentos com a maior versão de seu novo widebody, que deve entrar em serviço em 2017


A Airbus trava com a Boeing uma histórica disputa pelo mercado de jatos comerciais de grande porte. Por suas estatísticas, o consórcio europeu está em vantagem. Acumula 55% dos pedidos firmes de aeronaves com mais de 100 assentos, o que significa 1.093 ordens de compra até outubro último, enquanto a Boeing detém 890 pedidos, ou 45% do market share. Em dólares, essa participação é de US$ 151,6 bilhões (56%) para a Airbus contra US$ 118,6 bilhões (44%) ao fabricante norte-americano. Mas existe uma faixa de mercado em que a Boeing ainda reina soberana, justamento aquela ocupada por seu 777, capaz de transportar de 290 a 365 passageiros, em média. A aposta da Airbus para entrar nesse nicho quase exclusivo da rival é o novo A350-1000, cujo primeiro voo deve acontecer em 2016 com entrada em operação em 2017.


Tradicional operadora de jatos Boeing, JAL assina pedido de 31 modelos A350 XWB

Embora tenha “apenas” 176 encomendas para o A350-1000, a Airbus está otimista com o pedido de 31 jatos A350 XWB feito pela Japan Airlines. O contrato assinado com a JAL prevê a compra de 18 unidades da versão -900 e 13 da -1000, com opção para mais 25 aeronaves. Ao todo, a companhia aérea japonesa possui 117 aeronaves Boeing, entre modelos 777 e 787, e fechou pela primeira vez um contrato com a Airbus. Fazem parte, ainda, da lista de clientes do A350-1000, que teve seu projeto congelado no início deste ano, as companhias aéreas United, Asiana Airlines, British Airways, Cathay Pacific, Emirates Airline, Air Lease, Etihad Airways e o cliente lançador da família, a Qatar Airways.

Com o anúncio do programa 777X, ficou demonstrada a indisposição da Boeing de ceder terreno para seu principal concorrente, mas a Airbus tratou logo de partir para a ofensiva. Pouco tempo após o lançamento do projeto, os europeus convocaram a imprensa mundial para uma conferência em sua sede, em Toulouse, na França. Lá os executivos envolvidos no programa A350 divulgaram uma atualização sobre os testes em voo dos dois protótipos do -900, que já acumulam mais de 75 decolagens e pelo menos 370 horas de operação, e aproveitaram para fazer uma enfática comparação do A350-1000 com os novos 777-9X e -8X, além dos atuais 777-300ER e -200LR.

Nas palavras de Sophie Pendaries, responsável pelo Marketing de Produto da Airbus, o A350-1000 irá aonde o 777-300ER vai, mas será mais confortável para os passageiros, com o melhor projeto de cabine do mercado e, principalmente, uma altitude de cabine mais baixa. “Para as companhias aéreas, oferecemos um projeto totalmente novo, que proporcionará mais eficiência, com motores novos, disponíveis já em 2014, e maior economia de combustível. Além disso, todos os sistemas serão mais robustos, simples e confiáveis”, acrescenta a executiva, enfatizando que o projeto nasceu do zero.

Em termos de tamanho, o A350-1000 (com 73,9 m de comprimento e 64,8 m de envergadura) terá dimensões similares às do Boeing 777-300ER, porém, com alcance maior. “Já o 777-9X terá a fuselagem quase três metros maior e precisaria que as pontas das asas se dobrem para ficar com a mesma envergadura do 350-1000 e caber dentro dos boxes código E dos aeroportos, que têm 65 metros, o que representa mais risco, além de maior peso e complexidade”, compara Sophie Pendaries, deixando claro que está usando dados preliminares da Boeing, divulgados por veículos de comunicação. “Quanto à compatibilidade nos aeroportos, o -1000 integrará a mesma categoria que o -900 e que o 777-300ER, com o mesmo tipo de assistência em solo. O raio de manobra em solo será a mesma do -300ER da Boeing. No que se refere ao peso, tomando como base o 777-300ER, enquanto o 777-9X será 15 toneladas mais pesado, o A350-1000 será 20 toneladas mais leve, ou seja, o -1000 terá 35 toneladas a menos do que o -9X”. Sophie Pendaries destaca também a oferta de assentos. Segundo a executiva, embora tenha as mesmas medidas do 777-300ER, o A350-1000 poderá contar com mais poltronas. “O 777-300ER tem cinco portas enquanto o -1000 oferecerá quatro portas. Isso significa uma linha adicional com até nove assentos”, afirma Pendaries.

Com início da montagem do primeiro protótipo previsto para 2015, o programa A350-1000 está em progresso. Segundo Didier Evrard, responsável pelo Programa A350XWB, o -1000 é um -900 alongado, com muitas equivalências, o que significa um baixo risco de desenvolvimento em relação à cadeia de fornecimento de sistemas, peças e partes. “Temos compatibilidade em itens como elétrica, aviônica, hidráulica, controles de voo, tanque de combustível, ar condicionado, entre outros”, explica Evrard. “O -1000 será impulsionado por dois motores Trent XWB -97, que devem voar em 2016 e entrar em serviço em 2017”. A expectativa da Airbus é conseguir produzir 10 aeronaves A350 por mês quando todas as versões da família já tiverem entrado em serviço.

Por Giuliano Agmont, de Toulouse
Publicado em 10/11/2013, às 00h00


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