O vice-presidente de Marketing para Aviação Comercial da Boeing esteve no Brasil para divulgar as projeções da empresa em relação à América Latina. Randy Tinseth, com quase 30 anos de Boeing, conhece como poucos o mercado de aviação regular. Ele recebeu a reportagem de AERO Magazine e falou sobre as expectativas promissoras para o Brasil e das disputas com sua principal concorrente, a Airbus. A seguir, os principais trechos desta entrevista.
MERCADO GLOBAL E O BRASIL
RANDY TINSETH - Os acontecimentos na Europa afetam a economia global, mas o PIB mundial vai continuar a crescer no longo prazo. Além disso, o preço do combustível tem caído, mas continua alto e volátil, o que é outro desafio. Entretanto há boas notícias. A primeira é que o número de passageiros continua a crescer. Nossa estimativa era que esse crescimento fosse 5%, e tem se realizado. A outra é que as companhias aéreas estão gerenciando seus negócios como nunca vimos antes. Estão trabalhando duro para reduzir custos nas operações, buscando mais eficiência, descobrindo novas maneiras para aumentar as receitas. As linhas aéreas vão ser rentáveis. Acho que em outros tempos, com as dificuldades atuais, isso não iria acontecer. Há alguns mercados que estão em má situação, como a zona do euro, mas há outros que estão muito bem. Hoje, mais ou menos 25% do mercado fica na Ásia, 25% na América do Norte, 25% na Europa e 25% distribuído pelo resto do mundo. Raramente tivemos esse tipo de equilíbrio. Isso quer dizer que quando um mercado está em apuros, há linhas aéreas saudáveis e crescendo em outros lugares. O potencial de perda na Europa aumentou, a rentabilidade da América do Norte aumentou, a projeção de rentabilidade para a América Latina aumentou. Depois de um período difícil no Brasil, no ano passado, as coisas estão se alinhando. Se olharmos no longo prazo, claramente haverá crescimento. A economia vai crescer, as linhas aéreas irão crescer, a infraestrutura irá melhorar. Há eventos grandiosos chegando. No ano passado, vimos alguns casos da oferta sendo maior que a demanda e você tem que ter algum tipo de conciliação entre ambas nesses casos, e as companhias aéreas fizeram isso. Ajustaram suas rotas e horários, reduziram a capacidade. Vimos isso na Índia, mas pouco na América Latina. A grande vantagem latino-americana é possuir um mercado forte e em crescimento, no entanto, poucas empresas são bem-sucedidas. Essas poucas são rentáveis e estão crescendo, têm gerenciado bem sua capacidade e seus negócios. De uma década para cá, testemunhamos a redução da idade da frota e a lucratividade aumentarem bastante. Essas companhias têm se comportado racionalmente, e se continuarem é difícil imaginar que não haverá crescimento contínuo.
AMÉRICA LATINA EM CRESCIMENTO
- A América Latina vai precisar de 2.600 aeronaves para os próximos 20 anos, o que representa investimentos de US$ 250 bilhões. Acreditamos que desses 2.600 aviões, 2.100 serão single aisles (de corredor único). A China é outro mercado com alta demanda para os single aisles. Por isso acredito que o 737 MAX, a família A320 e a Embraer vão ser muito importantes para o desenvolvimento desse mercado. Atualmente, o governo saiu de cena nos mercados bem-sucedidos. Quando isso se aliou a uma economia em expansão, as linhas aéreas tiveram permissão para crescer. Estamos numa posição bem melhor por causa disso. Ainda faltam investimentos em infraestrutura e vai haver problemas com o gerenciamento do tráfego aéreo. Tem se falado que não está havendo o investimento necessário, mas com os Jogos Olímpicos chegando, esses investimentos em infraestrutura serão feitos. Acreditamos que em termos globais, 70% do mercado será absorvido pelos single aisles. Se considerar a América Latina, esse percentual sobe para 82%. O número de assentos na América Latina tem crescido robustos 6% ao ano.
“Latino-americanos vão precisar de 2.600 aeronaves para os próximos 20 anos, o que representa investimentos de US$ 250 bilhões. Desse total, 2.100 aviões serão de corredor único” | |
Randy Tinseth, da Boeing |
A CHEGADA DO 737 MAX
- Tivemos que fazer mudanças nos nossos aviões. O 737 não possuía o alcance, a eficiência de combustível e a economia que o A320 tinha. Trouxemos ao mercado o Next Generation, um avião novo e superior ao A320. Reduzimos os custos de manutenção e trabalhamos para aumentar a confiabilidade da aeronave. Estamos mais eficientes que a concorrência em termos de consumo de combustível, e continuamos a fazer melhorias. Os winglets, por exemplo, de acordo com as estatísticas, têm poupado US$ 3 bilhões de combustível aos operadores. O NG é 6% mais eficiente do que antes. A grande vantagem do MAX sobre os concorrentes é o peso. Nosso avião pesa menos. Isso é importante porque peso representa 75% do custo de operação e influencia no gasto de combustível. O MAX tem economia de 13% do consumo de combustível e uma redução de 40% em ruído, com um interior novo e moderno. Temos uns mil pedidos de 16 companhias. Desses, cinco já assinaram contrato. Estamos na fase final dos testes no túnel de vento. Esperamos o primeiro voo em 2016 e a primeira entrega, para a Southwest, em 2017.
BOEING VERSUS AIRBUS
- Com novos fabricantes em cena, acredito que esse duopólio entre Boeing e Airbus não é mais uma realidade. Mas ainda há espaço de crescimento para nós e a Airbus, e mais um ou dois concorrentes. Quem vai ter sucesso é algo que o mercado vai decidir. Concorrência nova nos força a sermos melhores. Mas no final das contas, a concorrência não lhe puxa. Você a observa, mas quem tem que lhe puxar é você mesmo. Se quisermos continuar a ter sucesso, temos de ficar perto dos nossos clientes, ter a estratégia certa e investir em tecnologia e novos aviões. Nossa vantagem é que construímos mais aeronaves do que qualquer outro. O que temos de fazer é encontrar maneiras de baratear os custos na construção de aviões. Vai haver equilíbrio no mercado. Nem Boeing, nem Airbus podem permitir que um ou o outro tenha 60% do mercado. A nossa vantagem é que temos uma boa fatia do mercado de wide bodies (fuselagem larga), e não vejo mudanças nesse cenário.
FAMÍLIA 777X
- Ano passado foi um ano recorde para a família 777. Tivemos 200 pedidos. Os modelos que se sobressaíram foram o 300ER e o 777 cargueiro. Este ano tivemos um ótimo começo. Sabemos que vamos precisar substituir o 777, e nos últimos 18 meses estivemos desenvolvendo um plano tecnológico para fazê-lo no final dessa década. O conceito que estamos pleiteando é uma família de aviões um pouco maior do que os de hoje, com asas novas, motores novos e altamente competitivos.
Christian Burgos E Giuliano Agmont
Publicado em 11/07/2012, às 13h22 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
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