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Acidente com 737 no Irã

Vídeo mostra suposto momento que míssil atinge avião no Irã

Especialistas divergem sobre causas do acidente e possibilidade do Boeing ter sido abatido acidentalmente


Sequencia mostra momento que possível míssil atinge o Boeing 737 da Ukraine International Airlines em Teerã

O jornal The New York Times divulgou nesta quinta-feira (9) um vídeo [clique aqui para assistir] supostamente mostra o momento exato em que o avião ucraniano que caiu no Irã é atingido por um míssil terra-ar.

A queda do Boeing 737 da Ukraine International Airlines em Teerã despertou dúvidas sobre os reais motivos da queda. Segundo um oficial do Pentágono, consultado pela revista norte-americana Newsweek, endossaram que existem evidências que a aeronave foi acidentalmente derrubada após ser atingida por um míssil antiaéreo iraniano.

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A possibilidade foi adiantada por AERO Magazine, após análise inicial dos primeiros destroços, onde uma série de danos externos são visíveis em parte da estrutura, inclusive o estabilizador vertical. Ainda que não exista confirmação das causas do acidente, o vídeo postado na internet minutos após a queda, mostra o avião em chamas em pronunciado ângulo de descida.

As autoridades do Canadá afirmaram que diversas fontes de inteligência apontam que o avião foi derrubado por um míssil antiaéreo iraniano. O premiê canadense, Justin Trudeau, afirmou que é provável que tenha sido um tiro acidental, mas afirmou que investigação do caso terá de ser completa.

"Temos inteligência de várias fontes, incluindo nossos aliados, onde as evidências indicam que o avião foi abatido por um míssil terra-ar iraniano. Pode ter sido não intencional", disse Trudeau.

Todavia, a agência Reuters publicou que cinco peritos de segurança, sendo três norte-americanas, uma europeia e uma canadense, afirmaram que o avião sofreu um mau funcionamento, com evidências que um dos motores superaqueceu.

O superaquecimento de um motor a jato não é usual e raramente leva a situação de incêndio, o que também pode ser controlado por sistema de extinção de fogo existente na aeronave. “Em caso de incêndio existem extintores de gás Halon que conseguem conter rapidamente o fogo”, afirma David Cabral, piloto do 737 Next Generation. “Caso o incêndio seja incontrolável, existe um sistema que separa o motor da aeronave”.

A maior parte dos aviões contam com os pinos de fixação do motor ao avião atuando como fusíveis, que se separam caso a temperatura supere sua capacidade de resistir ao calor. O procedimento tem por objetivo evitar que o fogo do motor cause danos estruturais na asa e fuselagem catastróficos. A perda de um motor, mesmo que literal, é prevista em manual e não impede seu voo seguro. “No caso de perda de potência ou separação do motor, o avião passa a ter restrição de desempenho, mas continua voando”, completa Cabral.

Em matéria publicada na imprensa internacional, um consultor de segurança avalia que uma explosão do motor poderia ter avariado sistemas críticos do Boeing 737, como superfícies de controle. Já o engenheiro aeronáutico Shailon Ian, presidente da Vinci Aeronáutica, não acredita que este tipo de problema possa ter comprometido os controles do avião. “É pouco provável que um componente do motor tenha atingido, danificado ou travado, uma superfície de controle”, avalia.

Em recente nota publicada pelas autoridades de aviação civil do Irã, investigadores afirmam que o Boeing 737 da Ukraine International Airlines apresentou uma falha técnica momentos após a decolagem e iniciava um procedimento de retorno ao aeroporto. No entanto, os investigadores não revelaram a natureza do problema e nem a fonte dos dados da análise preliminar. “Não existe evidência que o avião tentou retornar. Por exemplo, os dados transmitidos [pela aeronave] e que são públicos até mesmo pelo Flight Radar 24, mostram que o 737 continuava subindo e em momento algum mudou a proa [direção do voo] ou acionou algum sistema de emergência”, avalia Marcos Fernandes, engenheiro aeronáutico.

Uma das hipóteses levantadas por peritos é que uma explosão tenha derrubado o avião. “Uma explosão no tanque poderia ser uma explicação”, pontua Ian. O especialista, entretanto, acredita que são poucas as chances de um problema no tanque, pois não existem relatos de problemas no sistema do Boeing 737. Um acidente envolvendo o tanque de combustível central foi a causa do acidente com o Boeing 747-100, da TWA, em 1996. O problema foi causado pela existência de gases altamente inflamáveis no interior do tanque, que após um curto circuito, em uma das bombas de combustível, levou a uma explosão. “O tanque do 737 é diferente daquela existente no 747. No acidente da TWA os gases permaneciam no tanque, no caso do 737 existe um sistema que não permite a concentração desses gases”, explica Ian. “Se houve uma explosão no tanque a causa é diferente”.

Outros especialistas, inclusive da inteligência dos Estados Unidos e da aviação civil canadense, avaliam que os danos presentes nos destroços foram causados por um fator externo. A concentração de marcas em parte da fuselagem e até mesmo no estabilizador vertical, apontam que houve uma explosão de fora para dentro.

Em nota emitida pela a Ukrainian International Airlines (UIA), o vice-diretor de operações Ihor Sosnovsky, explicou que a empresa considera o aeroporto de Teerã desafiador, por suas características.

“O Aeroporto de Teerã não é nada fácil. Por isso, a UIA tem usado esse aeroporto há anos para conduzir treinamentos com aeronaves Boeing 737, com o objetivo de avaliar a capacidade dos pilotos de reagir em situações de emergência”, contou Sosnovsky. A experiência dos pilotos no aeroporto é considerada elevada pela empresa que não acredita em uma falha humana. “Dada a experiência da tripulação, a probabilidade de erro é mínima. Nós nem consideramos essa possibilidade”.

O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelenski, ordenou a abertura de um inquérito criminal para investigar as causas do acidente, considerado um dos maiores envolvendo uma aeronave registrada no país. As autoridades ucranianas pediram cautelas nas investigações, especialmente após o governo de Teerã afirmar que não entregaria as caixas pretas para a Boeing ou investigadores dos Estados Unidos.

“Não daremos as caixas pretas para a fabricante [Boeing] ou para os americanos”, declarou Ali Abedzadeh. A escalada nas tensões entre o Irã e o Estados Unidos podem comprometer a investigação imparcial do acidente.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 09/01/2020, às 17h44 - Atualizado em 10/01/2020, às 17h59


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