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O que é turbulência, o que causa e quando pode ser perigosa

Descubra como pilotos enfrentam a turbulência, por que ela parece mais assustadora para os passageiros e quais fenômenos realmente causam instabilidade nas aeronaves


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Turbulência é um fenômeno comum e geralmente limitada ao desconforto, mas sem risco estrutural para a aeronave - IA

Por que enfrentamos turbulência em voos comerciais, quais os tipos mais comuns e quando ela pode ser perigosa? Turbulências, frequentemente percebidas pelos passageiros como episódios de risco, são controladas pelos pilotos e, em termos físicos, sentidas de forma semelhante por eles. A entrada em áreas de instabilidade é evitada sempre que possível, tanto por razões operacionais quanto pelo conforto dos ocupantes.

Em determinadas situações, contudo, não há como escapar do ar turbulento. A travessia de nuvens, por exemplo, quase sempre resulta em leve instabilidade devido à própria dinâmica de sua formação. Além disso, voos em céu aparentemente limpo podem enfrentar a chamada turbulência em céu claro (CAT, na sigla em inglês), muitas vezes indetectável pelo radar meteorológico da aeronave em razão das características físicas do deslocamento do ar.

Estrutura certificada

Aviões comerciais passam por testes de certificação que incluem cenários muito mais severos do que as encontradas em voo real. Os fabricantes realizam ensaios que levam a estrurura do avião ao extremo, como as asas que são flexionadas muito acima do previsto no pior cenário de um voo real, o que ocorre até a ruptura, garantindo que existe uma ampla margem de segurança. A fuselagem passa por um estresse muito superior ao encontrado em turbulência severa. A regulamentação exige que asas e estabilizadores suportem pelo menos 150% do esperado em operação normal.

Velocidade controlada

No planejamento e durante o voo, pilotos e controladores utilizam radares meteorológicos, imagens de satélite, relatórios de outras tripulações e modelos computacionais capazes de projetar a ocorrência de CAT. Quando não é possível desviar, a tripulação reduz a velocidade até a chamada turbulence penetration speed (Vb), minimizando os efeitos das rajadas sobre a aeronave e garantindo maior conforto a bordo.

A turbulence penetration speed — também conhecida como Rough Air Speed ou VRA — corresponde à velocidade máxima em que o avião pode enfrentar rajadas severas sem ultrapassar seus limites estruturais de carga. O treinamento dos pilotos inclui o voo próximo a esse regime, justamente para reduzir o estresse sobre a célula e manter o controle da aeronave em condições adversas. O valor específico de Vb é definido no manual de voo e situa-se normalmente entre a velocidade de estol e a velocidade de manobra (Va). Em aeronaves mais pesadas, essa velocidade tende a ser mais elevada devido às características aerodinâmicas e estruturais.

Percepção e realidade

Para os passageiros, a sensação de queda repentina durante a turbulência pode provocar forte desorientação. Esse efeito ocorre devido ao conflito entre os estímulos visuais e o sistema vestibular, localizado no ouvido interno, responsável pelo equilíbrio e pela percepção de movimento. Quando a aeronave sofre uma súbita variação de altitude ou movimento lateral, o líquido nos canais semicirculares do ouvido interno se desloca, enviando sinais ao cérebro que nem sempre coincidem com as imagens percebidas pelos olhos. Essa discrepância provoca a sensação de perda de referência espacial e contribui para o desconforto e, em alguns casos, para o enjoo.

Para os pilotos, entretanto, essas mesmas variações de arfagem ou rolamento são interpretadas como pequenas, já que a visão direta e ampla da linha do horizonte a partir da cabine fornece uma referência estável e contínua. Estudos indicam que a maioria dos episódios registrados em voos comerciais é classificada como leve ou moderada.

Para o avião a imensa maioria dos episódios está muito abaixo dos limites estruturais.

Tipos de turbulência

Fenômenos atmosféricos distintos podem causar instabilidade do ar:

  • Turbulência em céu claro (CAT): ocorre geralmente entre 20.000 e 40.000 pés, associada às correntes de jato. É invisível a olho nu e muitas vezes não detectada por radar meteorológico, o que a torna uma das formas mais imprevisíveis de turbulência.

  • Convectiva: resulta do desenvolvimento de tempestades e nuvens cumulonimbus, nas quais correntes ascendentes e descendentes intensas provocam variações bruscas de altitude e velocidade.

  • Mecânica: manifesta-se próxima ao solo quando o fluxo de ar é interrompido por obstáculos, como prédios, florestas ou terrenos irregulares.

  • Orografia: surge quando massas de ar são forçadas a subir ao encontrar cadeias de montanhas. Pode gerar ondas de montanha, responsáveis por instabilidade severa que se estende a dezenas de milhas da barreira geográfica.
  • Vórtice de esteira: formado pelas pontas das asas de grandes aeronaves em voo, cria redemoinhos de ar persistentes que podem afetar aviões menores durante decolagens e pousos em sequência. É considerada uma das mais severas e potencialmente perigosas. Porém, por ser facilmente evitada é raro um avião encontrar esse tipo de turbulência.

Apesar da variedade de causas, a maioria dos episódios de turbulência é classificada como desconfortável, sem representar risco à integridade da aeronave ou à segurança dos passageiros. Na prática, trata-se sobretudo de uma sensação incômoda, causada pelas variações de movimento, mas que raramente se aproxima dos limites previstos pelos fabricantes e pelas normas de certificação.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 24/09/2025, às 10h03


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