Transições no Ministério da Defesa, na Sac, na Anac e na Infraero dão ao país a oportunidade de resolver problemas históricos do setor
Décio Corrêa |
Gosto da frase de um companheiro aviador, e também colunista de AERO, segundo a qual o governo vem administrando o caos. Ele justifica sua assertiva explicando que, para manter a aparente normalidade no sistema de transporte aéreo, o governo vem penalizando alguns segmentos em benefício de outros. Tomemos o aeroporto de Congonhas como exemplo. Primeiro a aviação geral foi sendo "varrida" de lá para fora, depois implantaram o sistema de slots e, finalmente, chegou a vez de a aviação executiva ser eliminada gradualmente das operações do aeroporto para acomodar a expansão das empresas de linhas aéreas regulares. É como no tráfego urbano de São Paulo, por falta de recursos ou vontade política para desapropriar imóveis e construir novas vias de tráfego, implementamos o rodízio de placas e guardamos os automóveis na garagem.
De certa maneira, estamos fazendo a mesma coisa com os nossos aviões. Quem voa sabe, a palavra mais utilizada nas comunicações de tráfego aéreo é... "Aguarde!". Se contarmos quantas vezes essa palavra é utilizada desde a apresentação de um plano de voo entre o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, verificamos que "aguarde" foi utilizada em mais de 20% do total de palavras dos diálogos entre pilotos e controladores de tráfego aéreo. Devo esclarecer que o tempo entre um "aguarde" do controlador e o retorno do contato com a tripulação de uma aeronave no solo, muitas vezes, ultrapassa os dez minutos. Nos horários de pico, um voo comercial partindo de Congonhas para o Rio de Janeiro chega a sofrer atrasos de 30 a 40 minutos entre aprovação do plano de voo, autorização para push back, acionamento, táxi para a cabeceira e ingresso na pista para decolagem. Isso para um voo real de 45 minutos.
Ao somarmos todos os atrasos, chegamos à conclusão de que o "sistema de rodízio de aeronaves" é bem mais grave do que o de automóveis. Na verdade, o caos não está somente na infraestrutura aeroportuária e no controle de tráfego aéreo. Também afeta a formação aeronáutica, as revalidações de licenças, as inspeções de aeronaves, as oficinas, as homologações, o serviço de saúde, enfim, todos os segmentos da aviação civil. O lado bom é que todos esses problemas podem ser considerados "dores do sucesso". Lembro-me de que, em 1993, no auge da crise no transporte aéreo americano, quando as empresas acumularam um prejuízo de US$ 10 bilhões de dólares em três anos, o presidente Bill Clinton criou uma comissão presidencial para qualificar, quantificar e propor soluções para os problemas. Foi uma revolução em todo o sistema.
Penso que esse seja o nosso caso. É claro que, diferente dos americanos, nossos problemas são frutos do sucesso. Nenhum país no mundo teve um crescimento de demanda como o que Brasil experimentou nesses últimos anos. Sim, houve falha do governo em lidar com esse sucesso. Como um bom caminho a ser trilhado, proponho aquela tradicional "faxina da sexta-feira". Temos uma nova presidente, um novo ministro da Defesa, um novo ministro na Secretaria de Aviação Civil, um novo presidente na Anac e um novo presidente da Infraero. Até prova em contrário, são pessoas entusiasmadas, conscientes dos desafios, com vontade de acertar e, o melhor, com disposição para ouvir especialistas e entidades dos diversos segmentos de aviação civil.
É hora daquela tradicional faxina da Sexta-feira
Conheço bem a competência profissional do Dr. Marcelo Guaranys e tenho certeza de que ele fará uma boa presidência na Anac, porém, vai precisar de toda a nossa ajuda e, mais ainda, a dos escalões superiores quanto a recursos e pessoal. Conversei com o ministro Wagner Bittencourt e fiquei igualmente otimista quanto à sua atuação à frente da Secretaria de Aviação Civil. É fundamental que a SAC e a Anac falem o mesmo idioma e sintam as mesmas dores. Da mesma forma, o Dr. Gustavo do Vale, novo presidente da Infraero, vem com igual energia e necessitará da mesma ajuda. Com relação ao Comando da Aeronáutica, a experiência acumulada tanto pelo comandante Juniti Saito como pelo brigadeiro Ramon Borges Cardoso será fundamental para "arredondar a bola". Chegou a hora de nos sentarmos à mesa, qualificarmos os problemas, estabelecermos as prioridades e seguirmos em frente. Falta apenas que a presidente Dilma Roussef e o ministro Celso Amorim entrem em campo para jogar no time e não fiquem no "banco" só cobrando resultados.
Redação
Publicado em 12/09/2011, às 14h00 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
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