Piloto acrobático norte-americano se apresenta em Minas Gerais e conversa com AERO Magazine em sua passagem pelo país
O piloto acrobático fez sua primeira apresentação no Brasil durante o Aerorock, em Minas Gerais
Um dos melhores e mais ousados pilotos acrobáticos do mundo esteve pela primeira vez no Brasil. O norte-americano William Lewis Stewart, famoso como Skip Stewart, desfilou sua sequência de alta energia e passagens baixas em Pará de Minas (MG), durante a quarta edição do Aerorock, em junho último, e levantou o público com a sua clássica manobra "Double Ribbon-Cut". Nela o piloto primeiro passa em voo de dorso por baixo de fitas esticadas perpendicularmente à pista, depois corta a fita superior em voo de dorso e, enfim, rompe a fita inferior em um espetacular voo de faca bem próximo ao solo. Realizado no aeroclube da cidade, o evento reúne música, aviação e esportes de aventura com atrações como paraquedismo, acrobacia aérea, aeromodelismo, balonismo, pirofagia e falcoaria. Muita gente chega voando, os pátios receberam 30 aeronaves. Além da atração internacional, participaram dos shows aéreos sob o céu mineiro a Esquadrilha Céu, formada por aviões RV baseados no Clube Ceu, do Rio de Janeiro, o piloto Lucas Bonventi com seu Pitts S-2A e Wilson Brasil, que cedeu seu Pitts S2B para Stewart. AERO Magazine conversou com Skip Stewart durante sua vinda para o Brasil. O piloto falou sobre a carreira e o desafio de fazer acrobacias aéreas.
AERO - Como e onde você começou sua carreira como piloto acrobático?
SKIP STEWART - Oficialmente, comecei minha carreira em 1999, mas comecei quando criança, como piloto de aeromodelo radiocontrolado. Ali percebi que aviões eram feitos para acrobacias, e esta crença me motivou. Assisti adolescente ao meu primeiro show aéreo. Ali o inseto do show aéreo me picou, soube desde então que teria de me esforçar, ser bem sucedido ao menos para tentar participar de shows aéreos.
- Além de acrobacia, o que mais faz da vida?
- Trabalho para a Fedex, como comandante de Boeing 727. Devo iniciar, agora, a operação com o MD-11.
- Voou ou ainda voa em campeonatos de acrobacia?
- Comecei como instrutor acrobático e até criei uma escola de acrobacia em Pensacola, na Florida. Depois, comecei a participar de campeonatos, o que me levou a participar de shows aéreos. O piloto que deseja voar em shows aéreos precisa antes ser bem sucedido em competições acrobáticas.
- O que achou das regras e limitações brasileiras para o show aéreo em que participou no Brasil?
- Percebi que as regras são eficientes e promovem a segurança. Os agentes da autoridade aeronáutica foram cordiais e trataram sobre os detalhes de uma maneira cooperativa e amigável.
- Estava em Dayton, em 2007 (quando o companheiro de equipe de Stewart, Jim Leroy, faleceu num acidente na demonstração durante o Dayton Airshow), e pude ver como você e Jim Leroy voavam baixo, com extrema precisão e arrojo, muitas vezes no limite tanto da aeronave como dos pilotos. Com certeza, isso é o que mais atrai e excita o público. Após o acidente, pode me dizer se houve alguma mudança nas regras de segurança adotada pelo FAA?
- O acidente de Jim foi exatamente isto: um acidente. Muitos fatores levaram ao acidente, mas nenhum relacionado à regulamentação ou ao seu estilo de voar. Não queria entrar em detalhes sobre o ocorrido, mas posso dizer que Jim voava uma aeronave nova, e estava sob os efeitos de fadiga. A maior lição que tirei daquele acidente foi que pode acontecer com qualquer um, e ele era o melhor. Então, eu me asseguro de estar 100% pronto para voar antes de cada voo. Às vezes, sei que posso fazer o voo completo e, às vezes, me seguro um pouco, executo apenas parte da sequencia, devido a estresse, fadiga, condições climáticas ou qualquer motivo que me faça sentir que um voo mais tranquilo é o melhor para o momento.
- E o seu avião, o Prometheus, o que pode falar sobre ele? Tem vontade de voar com outro?
- O meu avião é muito especial, foi construído e modificado por mim mesmo, e sinto como se fosse extensão do meu corpo. Agora, estou no andamento de um novo projeto, um biplano todo feito em fibra de carbono, construído na Holanda. Com o tempo, espero que seja um avião tão especial para mim quanto o Prometheus.
"Já tenho o avião dos meus sonhos! Mas estou desenvolvendo o novo "SAW P3 Revolution", na Holanda, que deve voar no fim do próximo ano" |
Esquadrilha CEU, do Rio de Janeiro, marca presença em Minas
- Quais suas impressões sobre o Brasil?
- Fui muito bem tratado, todo mundo muito simpático e amigável, sempre fazendo o possível para assegurar que eu era bem-vindo. Foi meu nono show aéreo em 2013, e o Brasil foi o sétimo país em que voei este ano. Já demonstrei em inúmeros países, como Austrália, Emirados Árabes, Panamá, El Salvador, Honduras, República Dominicana, China, México, Ilhas Virgens Francesas, Estados Unidos, Canadá. E agora estou orgulhoso de adicionar o Brasil à lista.
- Quantas pessoas fazem parte de sua equipe? E qual o tempo necessário para você criar uma nova sequência de manobras, incluindo treinamento, para um show aéreo?
- Normalmente tenho ao menos uma pessoa me acompanhando. Mas muitas vezes estou sozinho nos shows. Geralmente, levo de um a dois anos para adicionar uma nova manobra à minha sequência. Acredito que é muito importante voar sempre da mesma maneira, em cada demonstração, então, qualquer mudança precisa ser feita com cuidado e com tempo de sobra.
- Qual é a "aeronave dos seus sonhos", não necessariamente um acrobático?
- Eu tenho o avião dos meus sonhos! Mas acredito que seja importante evoluir sempre, por isso estou desenvolvendo o novo "SAW P3 Revolution", na Holanda, que deve voar no fim do próximo ano.
- Depois das suas demonstrações, quando assiste a algum vídeo dos voos, você chega a pensar "dessa vez eu passei baixo..." ou coisas do gênero?
- Não, geralmente penso: "Cara, isso foi muito monótono. Como as pessoas conseguem dizer que foi bom?" (risos).
Maurício Lanza | | Fotos Divulgação/Fred Vianna
Publicado em 11/07/2013, às 08h08 - Atualizado em 02/08/2013, às 23h34
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