AERO Magazine
Busca

Saiba quais são as alterações fisiológicas que sofremos durante um voo

Por mais avançadas que sejam as aeronaves atuais o corpo humano continua sofrendo algumas alterações


Passageiro em classe executiva

Voar ainda traz algumas reações ao corpo humano, mas que são facilmente contornadas com cuidados simples

Voar em qualquer tipo de aeronave, seja um avião pressurizado ou um helicóptero, é visto pela maioria das pessoas como algo trivial. Não existe mais o temor do voo nem a áurea de heroísmo do passado, porém, o corpo humano ainda sofre algumas alterações fisiológicas pontuais em voo.

As mudanças momentâneas no corpo são mais intensas em aeronaves comerciais ou de negócios, que voam em grandes altitudes e contam com cabines pressurizadas. Por exemplo, acima de 30.000 pés (10.000 m) de altitude a vida humana é praticamente impossível. Mas é onde estão grande parte dos aviões que cruzam os céus neste momento, que mantém todos em segurança graças aos recursos que auxiliam na respiração, manutenção da temperatura na faixa dos 20ºC, na pressão atmosférica estável, entre outros.

Hipóxia

A respiração durante um voo só é possível graças a pressurização da cabine. Em geral durante as fases de subia e descida alguns passageiros se queixam de dores de cabeça e ouvido, que está relacionado a mudança rápida de pressão atmosférica, mas em voo de cruzeiro este efeito pode estar ligado a menor quantidade de oxigênio nos tecidos dos órgãos do corpo (hipóxia), afetando a visão, audição e dificuldade para se equilibrar e fadiga.

Ninguém vai morrer sem ar, exceto em uma despressurização, mas em um voo normal existe uma menor capacidade do corpo em absorver oxigênio. Geralmente, estes efeitos são sentidos com mais facilidade em viagens com maior duração, pois não estamos acostumados a ficar um longo período condicionados em um ambiente com ar seco e altitude próxima de cidades elevadas. Para ter uma ideia, o Boeing 787 trouxe como grande inovação o diferencial máximo de pressão de cabine, próxima 6.000 pés (1.830 m), contra os 8.000 pés (2.440 m) na maioria dos aviões comerciais.

Para o passageiro a sensação fisiológica é como se tivesse subido em uma montanha entre 1.830 metros e 2.440 metros acima do nível do mar. Como comparação, a cidade de Campos do Jordão, no interior paulista, fica a 1.620 metros acima do nível do mar, enquanto Diamantina, em Minas Gerais, está situada a 1.280 metros.

O corpo em grandes altitudes necessita de um maior esforço para respirar por conta da diferença de pressão, aumentando o cansaço, sono e dores de cabeça.

A fisiologia tem como limite 8.400 metros como a altitude máxima que uma pessoa normal sobrevive, mas caso não conte com oxigênio suplementar a morte ocorre em aproximadamente três minutos. Acima de 15.000 metros a morte é instantânea pela falta de oxigênio capaz de ser absorvido pelos pulmões. Existe ainda um agravante, a pressão atmosférica será de 87 mm, exatamente a mesma pressão interna dos pulmões, o que torna impossível respirar sem estar em um ambiente pressurizado.

Piloto do SR-71 Blackbird

Aviões que voam em altitudes extremas, como os da família Blackbird, exigem roupas pressurizadas especiais

Acima de 19.000 metros a pressão atmosférica é de apenas 47 mm, o que faz a água ferver com 37°C. A temperatura média do corpo humano é de 36,7º C. Ou seja, toda a água do corpo ferveria instantaneamente, de forma explosiva. Por isso, voos de aeronaves militares que voam em altitudes extremas exigem uma roupa pressurizada especial.

Desidratação do corpo

Vale destacar também que durante um voo nosso corpo acaba desidratando em decorrência da baixa umidade de ar, que podem ficar em torno de 5%, já que estamos em um ambiente fechado com ar-condicionado. Os aviões por serem, na maioria dos casos, produzidos com ligas metálicas de alumínio, exigem um ar mais seco para garantir a integridade da sua estrutura. Ao voar por longos períodos com ar extremamente seco, com umidade próxima de regiões desérticas, o nosso corpo começa a perder líquido com maior facilidade, gerando um incômodo adicional com boca, lábios, olhos e nariz mais ressecados.

Inchaço no corpo

Conforme o voo prossegue, a mudança nos níveis de hidratação se soma ao fato de estarmos sentados em uma mesma posição por longos períodos. Esta combinação contribui para que partes do nosso corpo como as mãos, pernas ou barriga sofram inchaços, causados pela retenção de líquido. Isso torna ainda mais importante a hidratação em voo, e quando possível, e fazer caminhadas pelo corredor do avião, ou se possível, usar meias de compressão que podem aliviar os sintomas.

Cabine de passageiros da Biritish Airways

Ouvido Entupido

Como há uma mudança abrupta na pressão atmosférica a bordo de uma aeronave  é comum sentirmos o ouvido entupido por este desequilíbrio da pressão de ar na tuba auditiva e o ar externo. A sensação é similar a descer ou subir uma serra, mas o tímpano ainda pode sofrer um leve estiramento, dando a sensação de algo estar abafando o ouvido. A sensação pode ser aliviada ao mascar chicletes, que ajuda a compensar a mudança de pressão no canal auditivo.

Jetlag

Em voos intercontinentais é comum passarmos por diversos fusos-horários diferentes, o que causa uma confusão no ciclo circadiano do corpo. Os seres humanos contam com um relógio biológico interno que mantém a capacidade de interagir com os processos de metabolismo, sono e vigília de forma natural.

Ao cruzar rapidamente várias zonas de horários, podendo chegar até doze horas de diferença, o corpo perde a capacidade de manter seu padrão circadiano. O resultado é maior cansaço, dores de cabeça, alterações bruscas de humor, insônia, falta de concentração e dificuldade para digestão.

Manter um sono equilibrado em voos transatlânticos pode ser fundamental, principalmente se houver um boa noite de sono na noite que antecede o voo. Também é recomendado neste caso tentar na semana anterior ao voo se adaptar gradualmente ao novo fuso horário, o que ajuda amenizar alguns sintomas e se torna um atalho para que o nosso corpo possa se adaptar mais facilmente sem sofrer um maior estresse.

Por Gabriel Benevides
Publicado em 20/04/2021, às 12h00 - Atualizado às 16h24