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HAI 2014

Rotores acionados

Com muitas novidades, Heli-Expo aponta para o início iminente de uma recuperação real do mercado de helicópteros, com destaque para o potencial dos modelos offshore e o crescimento da América Latina


Novo EC225e
Novo EC225e

A edição 2014 da Heli-Expo não apenas marcou a estreia de grandes novidades no mercado de helicópteros como também serviu de termômetro para ratificar a retomada dos negócios na atividade aérea de aeronaves de asas rotativas de maneira global. Realizado em Anaheim, Califórnia, Estados Unidos, entre os dias 25 e 27 de fevereiro, o evento foi palco, ainda, de anúncios de importantes aquisições de helicópteros. No total, os organizadores calculam mais de US 1,5 bilhão de dólares em novos pedidos. Nos eventos paralelos e demais atividades promovidas pela Associação Internacional de Helicópteros (HAI, na sigla em inglês), o que se viu foi uma busca incessante de padrões operacionais para o desenvolvimento e o crescimento da aviação sem perder o foco na segurança de voo. Novas tecnologias apresentadas na Heli-Expo deste ano apontam claramente para um futuro com alta tecnologia embarcada nos sistemas operacionais das aeronaves, bem como a possibilidade de atualizações nos atuais helicópteros com processos mais simples de serem executados diante das diversas integrações possíveis de serem feitas. O conceito NextGen, por exemplo, é uma realidade mais próxima de todos e promete facilitar as ações dos pilotos ao exercerem suas atividades a bordo.

Durante os três dias do evento, quase 20.000 pessoas puderam conferir de perto as novidades de 714 expositores, que exibiram 65 helicópteros e demonstraram 42 aeronaves. Nos estandes, notava-se a interação entre fabricantes, pilotos, proprietários, autoridades e todos os que fazem desse mercado um importante vetor de desenvolvimento para o mundo inteiro, inclusive o Brasil. Fica claro para todos os que visitam a Heli-Expo a relevância do helicóptero, que chega a lugares aonde nenhum outro meio de transporte alcança com a mesma agilidade, versatilidade e segurança. Uma ferramenta de trabalho, até agora, sem alternativa viável.

América Latina em foco

A maioria dos fabricantes de helicópteros não divulga suas projeções anuais de produção e entregas, ao contrário do que fazem grandes empresas da indústria de asas fixas. Coube à Honeywell, fabricante de componentes e motores, como acontece há 16 anos com resultados bastante fiéis à realidade, lançar projeções para o mercado de asas rotativas entre 2014 e 2018. Segundo o grupo, nos próximos cinco anos, podemos esperar um acréscimo de até 5.500 unidades na frota mundial de helicópteros a turbina, com destaque para o aumento na quantidade de helicópteros biturbina médios, ou supermédios, como o AW139, o AW189, o Bell 525 Relenteless e o EC175, para as operações de exploração de óleo e gás. De acordo com o analista Charles Park, da Honeywell, “é o melhor lugar para se posicionar agora”, numa menção clara ao destino para onde os investimentos dos fabricantes devem ir. Porém, mesmo com a força de entregas que se viu na feira de Anaheim deste ano, para o analista, o mercado ainda apresenta uma estagnação, e não um crescimento, só que em um patamar superior ao de anos anteriores. Ou seja, o mercado de helicópteros parece estar na iminência de uma recuperação real de suas atividades.

O mercado de substituição de aeronaves também segue aquecido, com destaque para a América Latina, que continua a ter a maior expectativa de crescimento entre as regiões globais. “Em termos de demanda regional projetada para os novos helicópteros, a América Latina agora rivaliza com a Europa ao reivindicar o segundo maior mercado regional do mundo, atrás da América do Norte”, diz o estudo. As operações no mercado offshore lideradas pelas necessidades da Petrobras no Brasil, prevê o levantamento da Honeywell, apontam para um grande movimento de seus fornecedores com novos requisitos operacionais sendo implantados a cada dia pela estatal. Os prestadores de serviço devem se adiantar às novas exigências de capacidade de pessoas transportadas por viagens e aumentar tanto o tamanho de suas aeronaves quanto o de suas frotas.

Eurocopter não, Airbus

Em uma ousada manobra de marketing, a Airbus Helicopters – empresa que pertence ao grupo europeu EADS e que fabrica os aviões Airbus – fez sua primeira grande aparição ao público. No dia 1º de janeiro de 2014, a Eurocopter passou a se chamar Airbus Helicopters. Desde então, todas as suas subsidiárias estão promovendo a troca de seus nomes para acompanhar a mesma marca da matriz. A única exceção será no Brasil, onde deverá ser mantida a marca Helibras. Com relação ao nome dos produtos, a linha atual irá preservar os “EC´s” e “AS´s”, disse o novo CEO da empresa, Guillaume Faury. O primeiro helicóptero com uma nova designação deverá ser o X4, bimotor médio em desenvolvimento.

A Airbus Helicopters, ainda sob o nome Eurocopter, faturou US$ 8,7 bilhões e apresentou lucro líquido de US$ 546 milhões em 2013. Entregou 497 helicópteros e vendeu 422 novas aeronaves (contra 469 unidades em 2012), porém, com valor agregado maior. O mercado civil responde por 55% do faturamento da empresa. Os gastos com pesquisas e desenvolvimento ficaram em US$ 421 milhões.

Jet Ranger

Jet Ranger X resgata mais famosa e consagrada marca da Bell helicopter

O destaque do fabricante durante o evento foi o lançamento oficial da nova linha de produtos da família Super Puma, o EC225e. A versão renovada evoluiu para atender às necessidades dos operadores em missões de longo alcance, em particular em apoio às atividades de transporte aéreo do segmento de óleo e gás. O modelo oferece maior carga útil, um tanque de combustível adicional para voos de longo alcance, mudanças no layout de cabine para melhorar o conforto dos passageiros e novos aviônicos, que aumentam significativamente a consciência situacional dos pilotos, reduzindo a carga de trabalho. Entre os novos equipamentos estão sistema de moving map Euronav 7, sistema de identificação automática (AIS), sistema anticolisão TCAS2 e sistema de gestão do voo. Entre as funções aprimoradas do helicóptero, destaque para a capacidade de localizar no GPS automático (sistema de posicionamento global) a aproximação de plataformas de petróleo ou aeródromos que não estejam equipados com meios de radionavegação. Os motores Turbomeca Makila 2B que equipam o EC225e proporcionarão melhor desempenho e uma ação de amplitude estendida para 555 km (300 milhas náuticas), com 10 passageiros, segundo a Airbus. Estes motores incorporam uma nova câmara de combustão e pás de alta pressão na turbina, permitindo ao EC225e decolar com seu peso máximo em condições CAT A. A certificação do EC225e está prevista para o final de 2015, e as primeiras entregas acontecerão em meados de 2016. “É um ganho valioso especialmente para missões no setor de petróleo e gás, como a exploração de recursos energéticos em águas mais profundas”, explicou o CEO da Airbus Helicopters, Guillaume Faury.

No estande da Airbus, destaque para a maquete do EC175 em tamanho real e também para o EC145 T2 com rotor de cauda do tipo Fenestron. Certificado pela EASA em janeiro de 2014, o EC175 recebeu 62 encomendas e 14 aeronaves já estão na linha final de montagem, segundo o fabricante. Com 16 passageiros a bordo, tem capacidade de voar 260 km (140 nm) oceano adentro. É mais um concorrente no segmento biturbina médio (em linha com o relatório da Honeywell). Já o EC145 T2, além da aparência diferenciada com rotor de cauda do tipo Fenestron, apresenta novos motores Arriel 2E com sistema redundante de FADEC, que aumenta a performance e a segurança de voo. Também teve seu peso máximo de decolagem aumentado para 3.650 kg e aumento da velocidade máxima para 270 km/h (145 knots).

A volta do Jet Ranger

Em um dos mais esperados anúncios da Heli-Expo 2014, a Bell Helicopters proporcionou um evento digno de uma superestrela. A apresentação do Bell 505 – Jet Ranger X foi feita pessoalmente pelo CEO da empresa John Garrison. A Bell nomeou a aeronave com sua mais famosa e consagrada marca, que havia sido retirada de linha em 2006, num movimento exatamente oposto ao da sua concorrente Airbus. Considerado um dos helicópteros mais aguardados pelo mercado, o novo Jet Ranger X apareceu em um novo formato de concepção, com tecnologia embarcada de sobra e motor fornecido pela Turbomeca. Com valor inicial em torno de US$ 1 milhão, entra diretamente na briga com o Robinson 66 – que já tem mais de 500 aeronaves entregues em pouco mais de quatro anos de existência – e com o EC120 Colibri.

Concebido para transportar um piloto e mais quatro passageiros, o Jet Ranger X promete uma performance semelhante à do seu antecessor, porém com mais tecnologia. A Bell anuncia uma velocidade máxima de mais de 230 km/h (125 knots) e alcance de, no mínimo, 665 km (360 nm). Com a nova turbina, haverá aumento na potência de decolagem, passando de 315 kW (420 shp), do antigo Jet Ranger, para 375 kW (504 shp). Oferece painel no conceito NextGen. Não há disjuntores elétricos na cabine, ficando todos na parte traseira da aeronave. A montagem é toda feita em treliças, que diminuem o peso da aeronave e os custos de produção e manutenção. A certificação está prevista para ocorrer entre 2015 e 2017.

A Bell Helicopters também apresentou durante o evento o Bell 429 com sistema de trem de pouso retrátil por meio de sistemas totalmente elétricos, e não hidráulicos, que, segundo o fabricante, tornam sua mecânica mais leve, simples e barata. O helicóptero apresentou um ganho de velocidade de 7 km/h (4 knots) com o sistema retrátil de trem de pouso. Destaque também para o helicóptero biturbina médio Bell 525 Relenteless, com direito a maquete em tamanho real, que coloca novamente o fabricante na briga de aeronaves prestadoras de serviços no mercado de óleo e gás. Considerado pela fabricante um supermédio, o Bell 525 Relenteless promete um alcance de mais de 920 km (500 mn), alcançando uma velocidade máxima de 285 km/h (155 knots) com capacidade para 16 passageiros ou até 20 passageiros em configuração de alta densidade – porém, não aceita pela OGP, organização que determina os padrões operacionais da indústria de exploração de óleo e gás.

Maquete do EC175 da agora Airbus Helicopter
Maquete do EC175 da agora Airbus Helicopter:

62 encomendas

Novidades Agusta

O tradicional fabricante italiano apresentou durante a Heli-Expo o A109 Trekker. Trata-se do consagrado e bem aceito modelo A109, que já voa no Brasil e no mundo inteiro, só que com trem de pouso fixo e um moderno sistema de aviônicos. Esse novo sistema, além de diminuir o peso da aeronave, também retira todos os sistemas analógicos do painel. O protótipo apresentado ainda utiliza a fuselagem de uma aeronave antiga, porém, as que serão entregues ao mercado contarão com a cabine do Agusta A109 Grand.

Para o mercado offshore, a Agusta apresentou o biturbina AW189 e realizou voos de experiência durante o evento aos seus potenciais clientes interessados. Um deles relatou que ficou impressionado com a melhora do sistema de piloto automático em relação à aeronave AW139, que conta com uma frota de mais de 500 unidades voando no mundo. Com peso máximo de decolagem de 8.300 kg, o AW189 pode voar a até 200 milhas náuticas mar adentro transportando 12 passageiros de 100 kg cada e com velocidade de cruzeiro entre 270 km/h a 275 km/h (145 a 150 knots). É mais um concorrente nos médios.

A Agusta anunciou que promoveria voos de demonstração do AW609 durante a Heli-Expo 2014. Tentamos embarcar sem sucesso no novo helicóptero. Segundo o gerente regional de Vendas para América do Sul, John Arbach, o FAA não permitiu voos demo do tilt rotor. De fato, a aeronave não estava nem no estacionamento do estádio do Anaheim, como todas as outras que voaram por lá.

Sikorsky militar



AgustaWestland A109 Trekker (no alto) e maquete do Sikorsky S-97

O fabricante norte-americano ­Sikorsky levou seu novo S-76D para a Heli-Expo. Somente o formato lembra o consagrado modelo, porém a estrutura, as pás, os motores e os aviônicos são novos, o que contribui para um considerável ganho de performance da aeronave. O grande destaque para o fabricante, porém, foi a maquete do S-97 com novas tecnologias ainda em desenvolvimento, principalmente para atender ao mercado militar de transporte rápido de equipes táticas.

O S-97 está sendo desenvolvido para o mercado militar e promete alcançar distâncias maiores de 600 km a velocidades superiores a 465 km/h (250 knots). O fabricante promete uma aeronave com baixo nível de ruído, aumentando sua capacidade furtiva, alta manobrabilidade e comandos fly-by-wire. Poderá ser equipada com armamentos de ataque como mísseis e metralhadoras.

Marenco e Enstrom

Umas das surpresas deste ano foi a exposição em tamanho real de um protótipo do helicóptero suíço em desenvolvimento Skye SH-09, do fabricante Marenco. Com a expectativa de revolucionar o mercado de monoturbinas, o Skye SH-09 promete tecnologia de ponta embarcada, muito espaço na cabine, agilidade e versatilidade em operações. O alcance prometido é de 795 km (430 nm) com o tanque de combustível padrão com velocidades de até 270 km/h (145 knots).

O sistema de rotor principal de 5 pás, totalmente em material composto e sem rolamentos na cabeça, deve proporcionar alta manobrabilidade, risco zero de corrosão, custo de manutenção reduzido e maior segurança ao voo. Na cauda, o rotor foi nomeado pelo fabricante como “Shrouded”, que em tradução literal para o português significa “envolto”, proporcionando voos com menores níveis de ruído interno e externo. A Marenco espera fazer voar a primeira aeronave de testes ainda no primeiro semestre deste ano.

Para quem achou que a Enstrom estava esquecida, também se enganou. Após ter sido adquirida por um grupo chinês, apresentou o modelo TH-180 Trainer. Esse modelo marca o início das aeronaves de asas rotativas desse fabricante com governador eletrônico de potência, que reduz sensivelmente a carga de trabalho do piloto durante o voo. Segundo o fabricante, esta aeronave apresenta baixo custo de manutenção, aumentando as margens das escolas que podem utilizá-la como uma aeronave treinadora de voo. Destaque, ainda, para o painel digital fornecido pela Aspen Avionics, que dá um ar de modernidade ao helicóptero.

A Robinson e o Brasil

Em entrevistas durante o evento, o CEO da Robinson, Kurt Robinson, repetiu que manterá a austeridade implantada por seu pai na fabricação e desenvolvimento das aeronaves que levam seu sobrenome. Tendo produzido 523 helicópteros em 2013 contra 517 no ano anterior, o modelo R44 se mantém como “chefe de vendas” da marca. Porém, com o modelo R66 recebendo certificações em mais países, é natural que o modelo com motor a turbina da Robinson seja seu número um em vendas brevemente. Com mais de 70% de sua produção exportada para o mundo inteiro, Kurt Robinson declarou que o Brasil diminuiu o ritmo de compra de aeronaves da marca no último ano. Segundo sua avaliação, a alta do dólar foi fator determinante para essa queda no número de aeronaves vendidas no país.

A tecnologia já existente nos grandes aviões comerciais, e antes tão cara para a aviação geral, está ficando mais acessível para instalação nos helicópteros. Os fabricantes de equipamentos e aviônicos correram para mostrar suas novidades para os painéis dos helicópteros e o que já tem disponíveis sob a ótica NextGen. Todos os fabricantes de helicópteros apresentam suas novas aeronaves com painéis modernos que reduzem muito a carga de trabalho dos pilotos e aumentam a segurança de voo. Em destaque, soluções da Garmin com painéis integrados, telas sensíveis ao toque e até teclados para digitação.

Clássicas asas rotativas

A cultura norte-americana mantém viva a história de tantos anos de sua aviação de asas rotativas, principalmente daqueles que arriscaram suas vidas nas tantas guerras das quais seu país participou recentemente. Não era difícil cruzar com visitantes do evento com uma tarja escrita “Veteran”. Mas não somente as pessoas são lembradas, destacadas e homenageadas. Os helicópteros antigos também fazem parte do show, sempre com cuidados e manutenção impecáveis.

Os destaques deste ano ficaram para o helicóptero de ataque Bell AH-1 Cobra, “carinhosamente” apelidado de “The Beast”, e o Bell UH-1 Huey. Ambas as aeronaves foram fundamentais na campanha da guerra do Vietnã na década de 1970. Na imagem do Cobra, é possível notar que a pá é mais larga do que a fuselagem.

Por Rodrigo Duarte, de Anaheim, Califórnia
Publicado em 29/03/2014, às 00h00 - Atualizado às 17h36


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