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Programa de manutenção: vale a pena?

Sistema permite que se tenha controle sobre o custo por hora de uma aeronave, mesmo considerando imprevistos


Custos de reparo dos motores em alguns casos supera a marca de um milhão de dólares

Diz o ditado que o seguro é uma das poucas compras na vida que jamais queremos concretizar. Até porque, na realidade, o que estamos comprando é paz de espírito. O mesmo pode ser dito sobre os programas de serviço de manutenção de aeronaves, exceto em ocasiões em que você sabe que o usará, como em uma inspeção de seção quente.

Essas são políticas de proteção de manutenção ativas que têm semelhanças com o seguro, embora apresentem diferenças. No final, elas proporcionam tranquilidade diante de um evento catastrófico ou uma inspeção grande e cara. Ao dividir os custos por todos os usuários do programa, os riscos podem ser gerenciados e as despesas, previsíveis.

Os programas de manutenção surgiram nos anos 1980, quando os fabricantes tentavam vender mais aeronaves, mas enfrentavam uma percepção geral (e real) de que suas máquinas eram caras de se operar – muito mais do que o anunciado. Para alcançar seus objetivos, a indústria modificou programas já existentes para as companhias aéreas e criou o HCMP (Hourly Cost Maintenance Program, ou Programa de Manutenção de Custo por Hora), para garantir custos operacionais por hora aos operadores privados.

O conjunto de usuários era inicialmente pequeno e o custo continuava caro. Mas, com o tempo, o custo por hora desses programas diminuiu e se popularizou. Hoje, é normal que uma aeronave tenha programas em motores, fuselagem, APU e, às vezes, até aviônicos – tudo em um esforço para minimizar surpresas e trazer previsibilidade aos custos operacionais.

Garantia

Um HCMP pode agregar valor à sua aeronave de diferentes formas. A primeira é que o programa atua como um complemento à garantia do equipamento. Se você acha que a garantia de uma aeronave nova cobre todas as despesas, releia seu contrato. Sim, despesas como envio de peças danificadas para o local de reparo, aluguel, viagem de pessoal durante situações de aeronave no solo (AOG), entre muitas outras despesas imprevisíveis, são frequentemente cobertas. As garantias são boas, mas também podem ser muito restritivas e as “letras miúdas” explicam muito claramente o que é e o que não é coberto. Um HCMP preenche algumas dessas lacunas e garante que você não pague pelo que a sua garantia não cobre.

Riscos rotineiros

O segundo aspecto a se considerar diz respeito às operações rotineiras, mesmo que sua aeronave não disponha mais da garantia de fábrica. Se você optar por não ter cobertura nos motores, por exemplo, estará assumindo o risco total cada vez que o avião voa. Isso pode significar até uma revisão completa diante de uma falha catastrófica, ingestão de aves ou FOD. A maioria das revisões custa entre 500 e 700 mil dólares por motor, mas em muitas aeronaves esse valor pode ser superior a um milhão de dólares. Sem cobertura, você assume o risco de cada centavo necessário para trazer sua aeronave de volta ao estado de aeronavegabilidade.

Com a cobertura, no entanto, o dono sabe qual será o custo por hora da aeronave. Alguns programas cobrem apenas eventos catastróficos. Outros incluem manutenções programadas e não programadas. Tudo se resume à sua capacidade de injetar capital rapidamente para corrigir um problema e à sua tolerância a riscos. Se você não gosta de grandes surpresas financeiras e prefere controlar seu risco, um HCMP é uma ótima maneira de proteger motores, estrutura, APU ou aviônicos de sua aeronave. Faça alguns cálculos e decida o que é melhor para sua situação.

Revenda

O terceiro argumento a favor dos HCMP tem a ver com a depreciação da aeronave. O programa torna seu bem mais atraente na revenda e reduz os “dias de mercado” para concluir um negócio. Muitos proprietários do Brasil simplesmente acham que podem “descontar” do preço de venda o valor do programa, mas essa é uma maneira simplista de encarar a situação. A realidade é que uma aeronave sem HCMP não chamará a mesma atenção de outra com o programa e passará mais dias no mercado para ser vendida. Durante esse período, a aeronave desvalorizará ainda mais e custará mais em manutenção, seguro, armazenamento e salários. Esses são os custos ocultos quando não se tem um programa de manutenção, que podem significar centenas de milhares de dólares em receitas perdidas e despesas.

Muitos proprietários decidem contratar um programa de manutenção no momento em que decidem vender a aeronave. É realmente o pior dos casos, já que o operador usará o dinheiro sem desfrutar dos benefícios, mas acontece o tempo todo. O problema aqui é que, no final, o proprietário acaba arcando com essa despesa, seja contratando o programa para vender melhor ou tendo de abater do valor da aeronave o custo do programa – algo que qualquer comprador vai querer negociar. Moral da história? Adquira um programa agora, enquanto pode aproveitar seus benefícios, e depois venda o avião a partir de uma posição de força, não de fraqueza.

Opções

Existem muitas opções quando se trata de programas de manutenção de custos por hora. Empresas como Honeywell, JSSI, Pratt & Whitney, Rolls Royce, Williams e Textron têm programas para motores, fuselagem, APU e aviônicos. Há soluções mais ou menos semelhantes. Para saber qual é a melhor para o seu caso, é importante mapear suas opções, pesar os prós e os contras e fazer a lição de casa. Caso decida buscar suporte de um consultor aeronáutico, o ideal é que seja independente, sem vínculos com uma ou outra empresa, para que lhe ajude a fazer as escolhas certas, pensando em você.

Por David Clark*, especial para AERO Magazine
Publicado em 26/11/2020, às 10h30 - Atualizado às 15h45


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