Após encerrar produção na China, Embraer reforça atuação e mira novos contratos no país
A Embraer operou, entre 2003 e 2016, uma linha de produção na China por meio de uma joint venture com a estatal AVIC (Aviation Industry Corporation of China). A parceria resultou na criação da Harbin Embraer Aircraft Industry Company (HEAI), voltada à fabricação local dos jatos regionais ERJ-145 e dos modelos executivos Legacy 600 e 650.
O acordo foi firmado no início dos anos 2000, em um contexto de fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e China. A Embraer havia inaugurado um escritório de negócios no país em 2000 e, posteriormente, avançou com a produção em território chinês visando consolidar sua presença no mercado e, futuramente, viabilizar exportações da família E-Jet.
No entanto, o projeto enfrentou desafios logísticos e comerciais. A produção local se mostrou mais onerosa do que no Brasil, impactada por tarifas de importação e carga tributária elevada. A partir de 2008, o avanço da indústria aeronáutica chinesa, com investimentos em programas próprios como o ARJ21 (atual COMAC C909) e o C919, reduziu o interesse por parcerias com fabricantes estrangeiros.
Com demanda abaixo do esperado e mudanças na estratégia do mercado chinês, a joint venture foi encerrada em 2016, após a entrega do último Legacy 650. Ao todo, foram produzidas cerca de 40 aeronaves ao longo de 13 anos de operação.
Apesar do fim da linha de montagem, a Embraer mantém presença ativa na China. Mais de 80 jatos da fabricante já operaram no país, e, em março de 2025, a empresa reforçou sua atuação ao nomear Patrick Peng como Diretor-Geral e Vice-Presidente Sênior de Vendas e Marketing da Embraer Aviação Comercial na China.
A empresa também obteve, em 2023, a certificação dos modelos E190-E2 e E195-E2 no país, ampliando o potencial de vendas. Outro foco estratégico é a conversão de aeronaves comerciais em cargueiros, atendendo à crescente demanda do comércio eletrônico chinês.
Segundo projeções da própria Embraer, o mercado chinês deverá demandar cerca de 1.500 novas aeronaves com até 150 assentos até 2040. Com isso, a empresa busca expandir sua cadeia de suprimentos com parceiros locais e fortalecer sua presença comercial.
O acirramento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China também afeta o setor aeronáutico global e pode abrir espaço para uma reaproximação entre Brasil e China no setor.
Nesta quarta-feira (16), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, fez um raro elogio público à indústria aeronáutica brasileira: “Gostaria de destacar que o Brasil é um importante país da aviação, e a China atribui grande importância à cooperação direta com o Brasil em vários campos, incluindo a aviação.”
O governo brasileiro tenta, há dois anos, viabilizar a venda de 20 jatos da Embraer para companhias aéreas chinesas, em uma nova tentativa de fortalecer os laços comerciais e reativar parcerias no setor.
Por Gabriel Benevides
Publicado em 16/04/2025, às 13h28
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