Pilotos e comissários têm mais que o dobro do risco de desenvolver câncer de pele
A rotina dos pilotos de avião envolve longas horas de voo, expostos a condições adversas que vão além do ambiente pressurizado e ruidoso. Um risco muitas vezes negligenciado é a exposição constante à radiação solar em grandes altitudes, fator que aumenta significativamente a probabilidade de desenvolver câncer de pele.
Pesquisas apontam que pilotos e tripulantes têm índices mais elevados da doença em comparação com a população geral. Um estudo publicado no JAMA Dermatology em 2015 revelou que pilotos e comissários têm mais que o dobro do risco de desenvolver melanoma. Outro estudo no British Journal of Dermatology em 2019 confirmou essa maior incidência, sugerindo que a exposição prolongada à radiação UV e cósmica em altitude é um fator determinante.
Além disso, uma pesquisa comparou os níveis de radiação dentro das cabines das aeronaves e indicou que após aproximadamente 56 minutos de voo a 30 mil pés, a exposição é equivalente a uma sessão de 20 minutos em uma câmera de bronzeamento, tornando a conscientização e a prevenção essenciais para a segurança da saúde desses profissionais.
A exposição à radiação ultravioleta (UV) é uma das principais causas do câncer de pele, e a proteção contra esses raios diminui significativamente na atmosfera superior. Em altitudes de cruzeiro, geralmente entre 30 e 40 mil pés, a densidade da atmosfera é menor, permitindo que uma quantidade mais intensa de radiação solar atinja o interior dos aviões. O estudo da JAMA Dermatology indica que, acima de 30 mil pés de altitude, a exposição à radiação UV é aproximadamente o dobro da registrada ao nível do mar.
A situação se agrava em voos em direção ao oeste, onde o sol incide diretamente sobre a cabine por períodos prolongados. Além disso, quando a aeronave sobrevoa áreas cobertas por neve ou nuvens densas, ocorre um efeito de reflexão da luz solar, aumentando ainda mais a quantidade de radiação absorvida pela pele dos pilotos.
Diferente de uma exposição eventual ao sol durante atividades ao ar livre, os pilotos acumulam horas contínuas de radiação ao longo de suas carreiras. Esse efeito cumulativo pode levar ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer de pele, incluindo o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma, este último sendo o mais agressivo e potencialmente letal.
Pilotos comerciais têm o dobro da incidência de melanoma em relação à população geral. O risco é ainda maior para aqueles que realizam voos frequentes em rotas intercontinentais, onde a exposição a altos níveis de radiação é prolongada.
Além da pele, os olhos dos pilotos também sofrem com a exposição intensa à radiação solar em grandes altitudes. Estudos demonstram que a incidência de catarata é maior entre pilotos e tripulantes, atribuída à ação cumulativa dos raios UV.
A luz azul e a radiação ionizante presentes nas altitudes operacionais podem contribuir para degeneração macular, uma condição que afeta a retina e compromete a visão central. Isso pode impactar diretamente a performance profissional, uma vez que a acuidade visual é um requisito essencial para a pilotagem segura.
O uso de óculos de sol polarizados e com proteção UV, além da adoção de vidros de cabine com filtragem específica, são medidas recomendadas para minimizar esse risco. Assim como a pele, os olhos devem ser constantemente monitorados por especialistas, garantindo que eventuais danos sejam identificados precocemente.
Por Alexandria M.S. Fernandes
Publicado em 05/05/2025, às 13h00
+lidas