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Efeitos da crise

Passagens aéreas baratas podem ser coisa do passado

Executivo da Ryanair afirma que tempo de passagens aéreas baratas pode ter ficado no passado


Demanda em alta, falta de pilotos, frota reduzida e alta no preço dos combustíveis pressionam preço das passagens no mundo - Ryanair
Demanda em alta, falta de pilotos, frota reduzida e alta no preço dos combustíveis pressionam preço das passagens no mundo - Ryanair

Ao longo dos últimos 50 anos o mundo assistiu uma massiva popularização do transporte aéreo, com passagens aéreas cada vez mais baratas, em especial nos Estados Unidos e Europa. O modelo de baixo custo da norte-americana Southwest revolucionou o mercado, seguido da irlandesa Ryanair que elevou o modelo para ultrabaixo custo.

No Brasil, a desregulamentação do transporte aéreo, promovido no início dos anos 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, permitiu uma drástica redução nos valores das tarifas, que passaram a rivalizar com os ônibus interestaduais.

Porém, esse movimento de tarifas ultrabaixas pode ser coisa do passado, ou ao menos não ser uma realidade para os próximos anos. Ao menos é o que pensa o diretor financeiro da Ryanair, Neil Sorahan, em entrevista à Bloomberg Television.

A retomada das viagens após três anos da pandemia, que impactou severamente o caixa e a capacidade das empresas aéreas ao redor do mundo, os executivos trabalham para retomar o ponto de equilíbrio e os lucros perdidos.

Ainda assim, o principal motivo da alta é relacionado à escassez de aeronaves e pilotos, somado a forte demanda por viagens de lazer. A retirada de serviço de centenas de aviões no mundo, somado a aposentadoria de pilotos, em alguns casos as frequências reduziram significativamente em apenas três anos.

Por várias décadas as companhias aéreas tinham como principal base de clientes os viajantes de negócios, em especial na Primeira Classe e Executiva, quando corporações pagavam valores mais elevados visando um maior conforto para seus executivos. Com a lenta retomada das viagens corporativas, muitos passageiros passaram a ser prioridade nas classes superiores dos aviões, todos dispostos a pagar mais caro por conforto.

Na Europa, onde famílias já planejam as férias de verão (do hemisfério Norte), a Ryanair notou que os clientes estão dispostos a pagar mais caro para garantir que terão lugar nos voos cada vez mais lotados e em quantidade menor.

Durante a entrevista na Bloomberg Television, Sorahan afirmou que bilhetes podem estar custando o dobro, mesmo em ofertas. “Os dias de 9,99 possivelmente ficaram para trás por algum tempo”, disse.

A Ryanair divulgou hoje (22) lucro após impostos de € 1,43 bilhão no ano fiscal encerrado em 31 de março, ante o prejuízo de € 355 milhões no ano anterior, mas a pressão por rentabilidade ainda deverá enfrentar um novo inimigo: a alta dos combustíveis. A empresa espera uma fatura até 1 bilhão de euros maior no próximo ano, em especial por causa da alta inflação gerada pela Guerra da Ucrânia.

A posição de caixa ficou em € 4,7 bilhões no final do ano fiscal, e a empresa disse que planeja manter uma posição líquida de caixa sobre dívida “amplamente estável”. Uma das alternativas para encontrar esse equilíbrio em tempos de escalada dos custos é a adição de novos Boeing 737 MAX na frota, que permitem reduzir em até 20% o consumo. O problema, por ora, é o ritmo lento de substituição dos aviões. Ainda assim, a Ryanair encomendou, este mês, mais 300 unidades do 737 MAX.

A Ryanair, ainda que ciente da alta dos custos e tarifas maiores, acredita que atingirá sua meta de transportar 185 milhões de passageiros em 2023, embora tenha divulgado que o total poderá ser impactado pelos atrasos na Boeing em entregar novos 737 MAX.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 22/05/2023, às 17h45


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