Nem todos os passageiros sabem, mas aviões de longo alcance escondem compartimentos exclusivos para o descanso de pilotos e comissários durante o voo

O descanso das tripulações é um elemento essencial para garantir a segurança operacional e o cumprimento dos regulamentos internacionais. Para isso, aeronaves de grande porte incorporam compartimentos específicos de repouso — as crew rest areas — projetados para que pilotos e comissários possam dormir ou relaxar durante o voo.
Embora importantes, esses espaços são módulos discretamente integrados à fuselagem e invisíveis aos passageiros. Geralmente o acesso ocorre por portas que se assemelham a armários e que exigem código de acesso. Dependendo do modelo da aeronave, o acesso pode ocorrer por escadas ou alçapões, levando a compartimentos isolados acusticamente, climatizados e com controle de iluminação.
Nos aviões de fuselagem larga (widebody), existem áreas de descanso separadas para pilotos e para a tripulação de cabine. O espaço destinado aos pilotos, normalmente localizado acima ou atrás do cockpit, acomoda normalmente camas ou assentos reclináveis.
Em aviões como o Airbus A350 e os Boeing 777 e o 787, existe um módulo de descanso para pilotos situado, na maioria das configurações, na parte superior da fuselagem, frequentemente próximo à galley dianteira ou à frente da cabine principal, liberando espaço no piso principal. A localização exata varia conforme o layout escolhido pela companhia aérea.

Dependendo da versão do Airbus A330 e A340, são instalados módulos do tipo container removível. Essa configuração é escolhida conforme o perfil operacional da companhia aérea e permite adaptar a aeronave para rotas de longa duração sem comprometer o espaço da cabine principal. Apesar de situadas em compartimentos inferiores, essas unidades seguem os mesmos padrões de conforto e segurança das áreas fixas — incluem beliches individuais com cortinas, ventilação controlada, iluminação ajustável, cinto de segurança, sistema de comunicação e acesso rápido à cabine de passageiros.
Já os comissários utilizam compartimentos maiores, com seis a doze beliches, dependendo do tipo de aeronave. No Airbus A380, dependendo da configuração o espaço acomoda doze camas dispostas em configuração lateral ou sobreposta, cada uma com cortina, luz individual, ventilação ajustável e cinto de segurança.
Segundo a agência federal de aviação civil dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês), os compartimentos de descanso devem fornecer um ambiente que minimize ruído, vibração e odores, além de manter temperatura controlada e iluminação ajustável. A norma define três classes de instalação a bordo:

Durante o voo, o chefe de cabine organiza escalas de descanso em dois turnos, assegurando que sempre haja tripulantes disponíveis para atendimento e emergências.
O primeiro grupo repousa logo após o serviço de bordo inicial, enquanto o segundo assume as camas mais tarde, aproveitando o período de menor movimento.
Cada compartimento é equipado com interfone, oxigênio suplementar, iluminação de emergência e cintos de segurança — recursos exigidos em certificação para instalações de descanso. Por motivos de segurança, o uso é proibido durante decolagem, pouso e taxiamento, conforme procedimentos operacionais padrão das companhias aéreas.

Embora relativamente simples, as áreas de descanso são projetadas para permitir algumas horas de sono e garantir que os profissionais permaneçam alertas até o final do voo. Alguns tripulantes costumam levar itens pessoais, como pijamas ou cobertores, para aumentar o conforto durante as longas jornadas.
Com a introdução de aeronaves de nova geração, como o Boeing 777, 787 e o Airbus A350, a integração desses módulos ao topo da fuselagem trouxe ganhos de eficiência: o espaço liberado na cabine principal pode acomodar mais passageiros ou aumentar a capacidade de carga.

Apesar de passarem despercebidas pela maioria dos passageiros, as áreas de descanso são componentes críticos para a segurança e eficiência operacional em rotas de longa distância. À medida que as aeronaves ampliam seu alcance e novos voos ultralongos entram em operação, o desenvolvimento desses espaços continuará a ser parte essencial do projeto de cada widebody moderno.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 03/11/2025, às 09h39
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