Dezenas de operadores registraram casos de vazamento de combustível em diversos pontos do sistema
Lote recente de gasolina de aviação pode ser responsável por danos no sistema de combustível | Imagem: Reprodução
Após uma série de relatos sobre problemas com a qualidade da gasolina de aviação (Avgas) no Brasil, a Petrobras divulgou nota afirmando que suspendeu a comercialização de um lote importado que pode ter um teor de compostos diferente dos demais.
Diversos vídeos feitos por operadores de pequenas aeronaves, equipadas com motores a pistão, mostram a ocorrência de corrosões nas juntas de vedação, filtros de combustível, mangueiras, drenos, seletoras e até mesmo nos bicos injetores, levando ao vazamento sistemático de gasolina.
Inicialmente, uma análise previa conduzida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Petrobras e Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticas (Cenipa), realizada em amostras de gasolina em diversos pontos de amostragem, incluindo tanques de estocagem e tanques das distribuidoras nos aeroportos, mostraram uma ligeira variação nas especificações de Chumbo. Todavia, a ANP afirmou que mesmo com uma diferença maior de teor de chumbo do produto produzido no exterior em relação ao padrão brasileiro, quimicamente estava dentro dos limites da especificação.
“A Petrobras estuda a hipótese de a variação da composição química ter impactado os materiais de vedação e revestimento de tanques de combustíveis de aeronaves de pequeno porte”, afirma a estatal por meio de nota.
Todavia, a empresa afirma que ainda não há um diagnóstico completo que permita assegurar se existe relação direta na diferença química da gasolina e as ocorrências de corrosão nos sistemas de combustível apresentada em dezenas de aeronaves no território nacional.
A Petrobras suspendeu a produção de Avgas em 2018, quando iniciou uma obra de manutenção e reforma da Refinaria Presidente Bernardes, localizada em Cubatão, na baixada santista. Desde então a estatal tem importado gasolina de aviação, a partir do Golfo do México, de grandes empresas que operam na região, inclusive de petroleiras norte americanas.
“Desde a interrupção da produção de gasolina de aviação em território nacional sabe-se que o país se tornou importador desse combustível, que alimenta milhares de aeronaves brasileiras. Apesar de reportada pela Petrobras a expectativa de retomada do refino da gasolina de aviação no Brasil, isso não ocorreu”, comentou Humberto Gimenes Branco, presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves – AOPA Brasil, em nota enviada a Anac.
A Petrobras afirma que as obras na refinaria sofreram atrasos após à interrupção dos trabalhos causada pela pandemia de covid-19, mas a previsão é que a produção seja retomada até outubro.
A associação afirma que a falta de um produtor nacional de gasolina para aviação se tornou bastante critica a operação no interior do país. A aviação geral, composta majoritariamente por pequenos aviões monomotores ou bimotores a pistão, é a principal ligação entre diversas cidades do país, especialmente na região norte.
“É dispensável reiterar as enormes dificuldades enfrentadas pela aviação geral brasileira ao longo dos últimos anos, que resultou, em 2019, nos menores volumes operacionais dos últimos 20 anos”, afirmou Gimenes Branco, em nota. “A deterioração na cadeia de suprimento de combustíveis é fato inconteste, com a saída de revendedores e distribuidores do mercado, deixando centenas de aeroportos outrora supridos, hoje desabastecidos de AVGAs, combustível que movimenta grande parte da frota nacional de aeronaves”.
Segundo relatos enviados a AERO Magazine, diversos aeroportos no interior do Brasil, com destaque para os estados do Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Pará, não contam mais com distribuição de gasolina, enquanto outros o valor teve aumento expressivo, encarecendo ainda mais a operação. Em alguns estados o avião é o meio de ligar comunidades isoladas, visto a total inexistência de rodovias e mesmo de rios navegáveis.
A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que decidiu, preventivamente, interromper o fornecimento de um lote de gasolina de aviação importada após testes realizados em seu centro de pesquisas (Cenpes). A companhia identificou que este lote apresentou um teor de compostos aromáticos diferente dos lotes até então importados, embora de acordo com os requisitos de qualidade exigidos pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A Petrobras estuda a hipótese da variação da composição química ter impactado os materiais de vedação e revestimento de tanques de combustíveis de aeronaves de pequeno porte. A Petrobras reforça que ainda não há um diagnóstico completo que permita assegurar a relação de causa e efeito, o que requer um rastreamento em todo o território nacional. Mesmo assim, a companhia preventivamente decidiu interromper o fornecimento desse lote de combustível. Adicionalmente, a Petrobras informa que todos os lotes importados estão dentro dos parâmetros exigidos pela ANP e que dispõe de produto importado para comercialização imediata, mantendo-se, desta forma, o fornecimento de produto ao mercado. A companhia reitera que todos os produtos que comercializa seguem padrões internacionais. A gasolina de aviação comercializada é previamente testada para garantir o atendimento às especificações do órgão regulador. A companhia seguirá cooperando com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e ANP. A Petrobras importa gasolina de aviação, a partir do Golfo do México, de grandes empresas norte americanas desde 2018, quando a unidade que produzia o combustível, na Refinaria Presidente Bernardes – Cubatão (RPBC), foi paralisada. A reforma da planta produtora sofreu atraso devido à interrupção das obras causada pela pandemia de Covid-19, mas a previsão é que a produção seja reiniciada em outubro de 2020.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 12/07/2020, às 16h00 - Atualizado em 16/07/2020, às 15h08
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