Caça de decolagem vertical / O monstro do mar / Bombardeiro gigante / Autogiro, precursor do helicóptero
Quem visitou Sun’n Fun já viu, junto à entrada principal, um dos dois aviões de caça Lockheed XFV-1 Salmon de decolagem vertical que foram construídos, desajeitadamente pousado sobre a sua cauda. Em uma tentativa de explorar novas áreas do poderio aéreo e estimulada pela concorrência com a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), nos anos 1950, a Marinha Norte-americana (US Navy) iniciou os estudos de caças de decolagem e pouso verticais (VTOL). O Salmon, junto com o seu concorrente, o Convair XFY-1 Pogo, foram interessantes conceitos que poderiam ter permitido aos aviadores navais ir para o combate decolando praticamente de qualquer lugar, sem a necessidade de um aeroporto ou um porta-aviões. O conceito pode ter sido inspirado, em parte, pela velocidade com que as tropas chinesas arrasaram as bases aéreas norte-americanas na Coreia em janeiro de 1951. Mesmo que ele tenha tido boa potência, é questionável se o Pogo teria entrado em serviço. Ao contrário do seu concorrente, o Salmon nunca realizou uma decolagem ou um pouso vertical bem-sucedido. Quando os testes terminaram, a Marinha continuou com o desenvolvimento de aeronaves convencionais.
A única coisa revolucionária do enorme Dornier Do X era seu tamanho. Mas tal empreitada representava apenas um grande salto para o desconhecido. Com um peso de 56 toneladas era, de longe, o maior avião do mundo, mas, apesar de ter mais potência do que qualquer outro avião de seu tempo, o Do X nunca foi mais do que uma aeronave razoavelmente bem-sucedida do ponto de vista operacional. O gigantesco hidroavião era exasperantemente lento e demorava uma eternidade para atingir sua altitude de cruzeiro de apenas 1.250 m. Contudo, o Do X determinou o ressurgimento da Alemanha ao mundo da aviação, apenas uma década após sua indústria aeronáutica ter sido destruída no final da Primeira Guerra Mundial. E esse renascimento foi marcado pela viagem inaugural de uma aeronave voando da Europa até a África e, depois, sobre o Atlântico até a América do Sul, voltando para a Inglaterra via Nova York. A Lufthansa assumiu o avião, que, inviável economicamente, nunca recebeu um passageiro pagante. Ele terminou seus dias num museu de Berlim e foi destruído num ataque aéreo em 1945.
O Convair B-36 Peacemaker (nome recebido anos depois de ter sido retirado de serviço) foi um bombardeiro construído durante a chamada “Guerra Fria”. Exatas 383 dessas enormes aeronaves formaram a espinha dorsal do Comando Aéreo Estratégico da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) entre 1948 e 1959. Os maiores aviões a voar no Ocidente podiam transportar as mais robustas bombas de hidrogênio já produzidas e transportadas ao redor do mundo em alertas nucleares ou em altamente perigosas missões de espionagem. Chegaram até a transportar seus próprios aviões de caça Republic F-84E Thunderjet “encaixados” na ponta das asas ou um jato de reconhecimento GRF-84F Thundeflash no porão de bombas, na perigosíssima combinação conhecida como Fighter Conveyor (FICON). Originalmente projetado para lançar bombas sobre a Alemanha nazista decolando de bases nos Estados Unidos, o grande B-36 era equipado com seis motores que acionavam hélices localizadas no bordo de fuga das asas, mas logo quatro motores a jato foram acrescentados, permitindo-lhe alcançar o coração da União Soviética num ataque retaliatório, utilizando bombas de hidrogênio como a Mk.17 que pesavam mais do que um Douglas DC-3. O bombardeiro era tão longo que a tripulação utilizava uma pequena plataforma motorizada para se deslocar por um túnel circular entre o nariz e a cauda.
Os autogiros parecem uma mistura de avião com helicóptero, mas apenas parecem, já que seu funcionamento é totalmente diferente. Sua história começa na Espanha, onde em setembro de 1895 nasceu Juan de la Cierva. Ele projetou e construiu um planador quando tinha 15 anos. Mas seu verdadeiro objetivo era projetar uma aeronave que pudesse ser capaz de manter a sustentação e pousar em segurança após uma falha no motor. Helicópteros eram impossíveis com os materiais existentes na época, por isso, ele se voltou para o conceito de um aparelho que utilizasse um rotor não propulsado para sustentação e uma hélice convencional para propulsão. Cierva patenteou o projeto do autogiro. Sua principal característica – uma contribuição vital para o desenvolvimento do helicóptero – era a cabeça do rotor articulada. Suas dobradiças permitiam a cada pá subir ou descer e “nivelar a sustentação”. A primeira aeronave operacional, o C.4, voou 4 km em janeiro de 1923. Em setembro de 1928, o projeto C.8L Mk II de Cierva, equipado com um motor Lynx de 149 kW (200 hp) e baseado na fuselagem de um Avro 504 fez um voo de 40 km sobre o canal que do lado da Inglaterra é conhecido como “Canal inglês”, do lado da França como “La Manche” e que foi mal traduzido por portugueses como Canal da Mancha e por espanhóis como Canal de la Mancha, já que “manche”, em francês não quer dizer “mancha” e, sim, “manga” (de roupa) ou a parte pela qual se segura um instrumento. Cierva morreu num acidente de aviação comercial, em 1936, quando suas ideias já haviam sido aceitas. Ele havia fundado sua própria companhia na Inglaterra e seus projetos foram produzidos na Grã-Bretanha, Estados Unidos, França e Alemanha. O C.40 estava equipado com um recém- desenvolvido rotor basculante que lhe permitia decolar verticalmente.
Por Santiago Oliver
Publicado em 01/09/2014, às 00h00
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