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Uma arma de dissuasão

B-21 realiza o primeiro voo

O bombardeiro B-21 Raider realiza seu primeiro voo e inicia uma nova era na aviação militar


O revolucionário bombardeiro estratégico B-21 Rider promete ser a máquina de guerra mais poderosa do mundo - Matt Hartman@ShorealoneFilms
O revolucionário bombardeiro estratégico B-21 Rider promete ser a máquina de guerra mais poderosa do mundo - Matt Hartman@ShorealoneFilms

O novo bombardeiro dos Estados Unidos, o B-21 Raider, realizou hoje (10), seu primeiro voo. O avião furtivo foi apresentado ao mundo no final do ano passado, tendo passado ao longo de 2023 por uma série de testes e ensaios em solo, até a realização do voo inaugural na manhã de hoje, a partir de Palmdale, na Califórnia.

O B-21 é uma marco histórico na aviação de combate e foi formalmente apresentado no dia 2 de dezembro de 2022, quando Northrop Grumman fez seu rollout, na Plant 42, dentro do complexo da base aérea de Edwards, em Palmdale, na Califórnia.

O bombardeiro é promete colocar os Estados Unidos em um patamar ainda mais elevado na disputa pela supremacia aérea global. O B-21 será a nova bala de prata da USAF, a força aérea norte-americana, sendo uma resposta altamente capaz e tecnológica aos potenciais conflitos no Oceano Pacífico, sobretudo contra a China.

Na ocasião o B-21 Rider foi apresentado em um evento surpreendentemente público, transmitido até pela internet. A estratégia vai na contramão de todos os segredos que envolveram grandes aeronaves dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, o F-117 Nighthawk só foi revelado uma década depois que estava voando.

Ademais, o Plant 42 é um dos complexos militares mais protegidos dos Estados Unidos, sendo berço de projetos altamente secretos, como foi o B-2 Spirit, o antecessor do B-21. O acesso ao local é bastante restrito e raramente pessoas não envolvidas diretamente em algum projeto são autorizadas a entrar.

Na cerimônia de rollout, convidados dos círculos militares e políticos, assim como funcionários da Northrop Grumman e a imprensa, foram colocados diante do hangar construído para abrigar o novo bombardeiro.

O primeiro voo também ocorreu sem grandes esquemas de segurança, com o avião sendo amplamente fotografado por entusiastas próximos da base. Isso reflete uma mudança na estratégia e que vai muito além de um simples marketing do Pentágono ou da Northrop Grumman, revelando-se, na prática, a primeira missão de dissuasão do novo avião.

A intenção foi exibir em todos os meios de comunicação, dos grandes jornais às mídias sociais, a capacidade norte-americana de criar um avião tecnologicamente muito superior a tudo o que existe no mundo. A Northrop Grumman afirma que o B-21 Raider é o primeiro avião de sexta geração, embora essa definição seja bastante controversa.

Mais que bombardeiro

Em uma definição preliminar, o B-21 seria um bombardeiro estratégico, o primeiro da força aérea norte-americana desenvolvido após o fim da Guerra Fria. Porém, ele vai além e poderá atuar em uma série de missões, incluindo reconhecimento, inteligência, guerra eletrônica, entre outras.

B-21 Raider
Por que B-21 Raider?

O B-21 Raider é considerado um avião furtivo “top secret”, ainda que sua apresentação tenha contado a máxima visibilidade possível.

A cerimônia, que foi transmitida pela internet, teve a presença de centenas de convidados e sobrevoos dos irmãos B-52H, B-1B e B-2 (nesta ordem) logo após a execução do hino nacional. O formato do evento faz parte de uma nova estratégia de marketing do Pentágono, que começa com o próprio nome do avião.

A escolha da designação B-21 atendeu a dois requisitos básicos. Os norte-americanos queriam a primazia no desenvolvimento do primeiro bombardeiro estratégico furtivo do século 21. Além disso, o modelo combina as designações dos dois bombardeiros que deverá substituir, o B-2 e o B-1.

Já o nome Raider é uma homenagem ao histórico Doolittle Raider, a histórica missão de ataque a Tóquio, em abril de 1942, quando os aviadores da Força Aérea do Exército dos EUA (USAAF) decolaram de um porta-aviões USS Hornet com os bombardeiros B-25.

Os bombardeiros não tinham originalmente capacidade para decolar de um porta-aviões, muito menos atacar um alvo tão distante dos Estados Unidos. Ainda assim, o tenente-coronel James Harold Doolittle viabilizou a missão, que partiria do USS Hornet e, se tudo desse certo, pousaria na China após atacar Tóquio.

Embora quinze dos dezesseis aviões tenham sido destruídos, com mais de 80 militares mortos em combate, sem contar oito prisioneiros de guerra (que não sobreviveram ao cativeiro), a missão foi considerada um sucesso.

Foi o primeiro contragolpe no império japonês depois de Pearl Harbor e o início da reviravolta nos rumos da Segunda Guerra Mundial.

“O B-21 é o primeiro bombardeiro estratégico em mais de três décadas. É a prova do compromisso de longo prazo do Departamento [de Defesa] em construir capacidades avançadas, que fortalecerão a capacidade dos EUA de impedir agressões hoje e no futuro”, destacou Lloyd Austin, secretário de Defesa dos Estados Unidos durante seu discurso.

Embora o B-2 Spirit, o famoso bombardeiro furtivo em formato de asa voadora, continue sendo único em suas capacidades, sem um rival à altura, ao menos em termos tecnológicos e de preço, sua vida útil se aproxima do limite economicamente aceitável.

Em se tratando de um programa cujas unidades custaram cada uma mais de dois bilhões de dólares, o valor de manutenção de ciclo de vida se mostra um problema sério. Não que o B-21 seja mais barato.

O custo fixado no programa Long-Range Standoff Bomber, vendido pela Northrop Grumman há sete anos, prevê um valor, por avião, de aproximadamente 600 milhões de dólares, em um contrato para cerca de cem unidades de série. Em resumo, uma conta de ao menos 60 bilhões apenas para construir os aviões, descontando os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e testes.

Caso o valor fixo de cada unidade fique próximo da meta, o bombardeiro continuará entre os mais caros aviões da história, mas ainda distante dos custos do B-2 e mesmo do programa Joint Strike Fighter, que deu origem ao F-35 e, ao seu final, deverá ultrapassar a marca de um trilhão de dólares.

Seja como for, atualmente, com o avião ainda em desenvolvimento, o B-21 Raider representa aproximadamente 10% das receitas da Northrop Grumman, o que deverá aumentar conforme os jatos forem sendo construídos e entregues.

Todo esse dinheiro deverá ser justificado ao permitir à força aérea dos Estados Unidos ter um avião incomparável. “Cinquenta anos de avanços em tecnologia furtiva foram investidos neste avião e mesmo os sistemas de defesa aérea mais sofisticados terão dificuldade para detectar o B-21 no céu”, disse Austin.

Asa voadora

B-21 Raider
O B-21 Raider é a evolução de mais de sete décadas de estudos em asa voadora por parte da Northrop

Durante o rollout, a presidente da Northrop Grumman, Kathy Warden, destacou os investimentos em alta tecnologia, permitindo criar um bombardeiro ainda mais capaz do que o B-2.

Há mais de 70 anos, o fabricante trabalha no conceito de asa voadora, tendo mantido ao longo de todo esse tempo equipes dedicadas a pesquisar novas soluções para esse desenho de projeto.

Embora quase nada tenha sido divulgado sobre o B-21, seguindo a abordagem em relação ao B-2, sobre o qual pouco se divulgou, o que se sabe é que o novo bombardeiro tem uma seção de corpo-asa mais larga e profunda, com motores integrados e uso de novas tecnologias de materiais.

Embora seja ligeiramente menor em comprimento, possivelmente, com maior envergadura, o B-21 deverá ter maior capacidade de carga paga, em uma combinação de redesenho dos espaços internos e uso de materiais mais leves e resistentes.

O pouco que se tem de informações sobre o avião é que o projeto distribui o perfil de sustentação e peso em todo corpo-asa, permitindo o desenvolvimento de uma estrutura mais leve e criando uma maior relação sustentação/arrasto.

Um dos desafios desse tipo de projeto é oferecer as condições necessárias para a fabricação de um avião que combine elevada sustentação com menor arrasto, isso tudo atendendo aos requisitos extremos de furtividade.

Visualmente, o B-21 tem janelas de cockpit bastante diferentes daquelas adotadas pelo B-2, assim como entradas de ar dos motores quase rentes ao perfil da estrutura da asa, mostrando uma preocupação em evitar que qualquer assinatura radar possa ser identificada, especialmente por cavidades.

“O B-21 Raider define uma nova era em tecnologia e fortalece o papel dos Estados Unidos de entregar a paz por meio da dissuasão”, disse Warden.

A executiva destacou as principais capacidades do B-21, como possibilidade de atacar qualquer alvo na Ásia de maneira mais autônoma, dependendo de um mínimo suporte externo, incluindo reabastecedores e aviões de guerra eletrônica.

Embora deva se tornar o mais avançado avião militar do mundo, segundo Austin, o B-21 foi construído para ser confiável e disponível a todo tempo, sem exigir toda complexidade de suporte do B-2. Isso se traduz em um grande alcance, capacidade de interagir com demais sistemas de combate por meio de enlace de dados, possibilidade de atuar como plataforma de guerra eletrônica e, o mais curioso, podendo ser usado até mesmo como bombardeiro pesado não tripulado.

Sem pilotos

Na teoria, o B-21 poderá voar em missões sem pilotos em ambientes altamente contestados, evitando expor norte-americanos ao risco de serem mortos ou capturados por forças hostis.

Alguns analistas apontam que essa capacidade, que também é estudada pelos russos, poderá significar o primeiro passo para que aeronaves altamente complexas possam voar sem pilotos já nos próximos anos.

Até agora, apenas drones de médio porte e relativamente simples em relação a um B-21, por exemplo, são usados em operações militares. É provável que, até 2040, a maior parte dos veículos aéreos militares voe de forma autônoma.

Em dezembro, durante todos os discursos da breve cerimônia de apresentação em Palmdale, os interlocutores destacaram a grande tecnologia embarcada do avião e como ela poderá dissuadir eventuais ameaças aos Estados Unidos e seus aliados. “O que estamos vendo com o B-21 Raider é a capacidade de penetração de longo alcance, que nos permitirá realizar nossas missões no teatro Indo-Pacífico e em todas as partes do mundo”, destacou Andrew Hunter, chefe de aquisições da força aérea.

Embora China e Rússia não tenham sido citadas textualmente, ambos são potenciais rivais militares dos Estados Unidos, enquanto o primeiro já é um entrave político e econômico para os interesses de Washington.

“Este não é apenas mais um avião. Não é apenas mais uma aquisição. É a personificação da determinação dos Estados Unidos em defender a República que todos nós amamos. É uma prova de nossa estratégia de dissuasão, com recursos para apoiá-la, sempre e em qualquer lugar”, afirmou Austin.

Primeiro voo

O B-21 deverá substituir os B-1B Lancer e B-2 Spirit, servindo ao lado dos veteranos B-52, que estão sendo modernizados e devem voar ao menos até a década de 2040, ou além. A previsão inicial da Northrop Grumman era que o primeiro voo tivesse ocorrido no primeiro semestre deste ano, mas a agenda foi alterada para atender as realidades da produção final do avião.

Ainda assim, a USAF afirma que o rápido desenvolvimento do B-21, que contou com milhares de estudos, beneficia-se de modelos de testes e ensaios digitais, o que reduz o tempo de desenvolvimento e permite entregar um modelo final próximo das reais capacidades e características de voo exigidas.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 10/11/2023, às 16h00


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