Após suposta desistência de investir até 50 bilhões de dólares no Brasil, a Antonov Company desmente que tenha representantes no país
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 26/04/2023, às 17h00 - Atualizado às 21h10
A Antonov Company, famosa principalmente por seus grandes aviões An-225 e An-124, desmente que tem interesse de investir em uma fábrica no Brasil.
Segundo a Secretaria de Negócios Internacionais do Estado de São Paulo, em nota divulgada hoje (26), supostos representantes da Antonov Company decidiram suspender as negociações após as últimas declarações do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a Ucrânia ter parte das responsabilidades pela guerra travada com a Rússia.
Todavia, a Antonov, em nota oficial e em postagem pública no Facebook, desmentiu ter feito contato com autoridades brasileiras e existir qualquer interesse em investir no país, afirmando que “não possui um representante autorizado no Brasil e não concedeu a quaisquer pessoas, incluindo escritórios de advocacia, qualquer autoridade para presentar os interesses da empresa”.
A Secretaria de Negócios Internacionais do Estado de São Paulo afirmou que, no dia 11 de abril, realizou uma reunião para discutir investimentos bilionários da Antonov no Brasil. No encontro o vice-presidente da Antonov, Victor Avdeyev, e Oleksandr Nykonenko, conselheiro teriam relatado o “interesse da estatal ucraniana em desenvolver atividades no Brasil, em especial no Estado de São Paulo”.
Na ocasião os supostos executivos teriam afirmado ter interesse em investir até 50 bilhões de dólares (R$ 250 bilhões) em uma fábrica no Brasil. O valor representa 17,4 vezes o valor de mercado da Embraer, avaliada em aproximadamente 14,56 bilhões de reais.
Embora no passado a Antonov tenha sondado criar uma fábrica no Brasil, há quase três décadas a empresa enfrenta uma grave crise financeira e intelectual. Com praticamente nenhum negócio relevante fechado na última década, a Antonov Company passou a realizar apenas serviços de manutenção e atualização de alguns aviões, sobretudo da família An-124, além de trabalhar em dois novos projetos, o An-148-201 e o An-178, um avião comercial regional e um cargueiro tático, respectivamente.
Ambos aviões compartilham diversos componentes e sistemas, sendo que o An-148 é uma evolução do An-72, desenvolvido ainda na era soviética. As vendas do An-148, que voou pela primeira vez em dezembro de 2004, não chegaram aos cinquenta aviões, com apenas 47 produzidos, incluindo os protótipos. A série An-148-200 deveria ser uma versão alongada, com até 99 lugares, mas que jamais entrou em produção seriada.
O An-178 é cargueiro militar tático, derivado do An-148, mas que teve apenas um protótipo construído e uma única venda internacional, para a Polícia Federal do Peru, além de uma carta de intenções de compra para três unidades pelo governo ucraniano.
Sem investimentos e interesse em seus aviões, que são revisões de projetos dos anos 1980, a Antonov Company passou a perder capacidade industrial e intelectual, com seu quadro de técnicos e engenheiros envelhecido, muitos buscando a aposentadoria, enquanto outros migraram para outros setores.
Antes mesmo da guerra com a Rússia a Antonov Company não tinha condições financeiras para concluir nenhum dos seus projetos, seja o An-148-201 ou o An-178, que se arrastavam no processo de produção e certificação.
O valor de 50 bilhões de dólares, apresentado pela Secretaria de Negócios Internacionais do Estado de São Paulo, como investimentos da Antonov no Brasil, representa quase metade do valor de mercado da Boeing, atualmente o maior fabricante aeroespacial do mundo, avaliado em 121,6 bilhões de dólares. A ação da Antonov valia, em cotação de 2013, um centavo de euro (0,01 €).
A Antonov Company passou as últimas décadas focada na sua divisão de transporte aéreo, a Antonov Airlines, que opera com uma pequena frota de An-124-100 e até o ano passado voava com o único An-225 existente.
Atualmente a Antonov, que é controlada pelo Estado, trabalha para evitar sua completa dissolução, tendo inclusive enviado a base operacional da divisão de transporte aéreo para a Alemanha.