Relatório oficial aponta que falha técnica ignorada em 2018 causou o incêndio em subestação que paralisou o aeroporto de Heathrow
Um relatório final divulgado pela National Energy System Operator (NESO) apontou que a falha catastrófica que causou o incêndio em uma subestação elétrica próxima ao aeroporto de Heathrow, em março desde ano, teve origem em um problema técnico identificado em 2018.
O incidente deixou o aeroporto de Heathrow, o mais movimentado da Europa, praticamente sem energia, impactando mais de 270.000 passageiros e paralisando suas operações por quase 24 horas.
Segundo a NESO, o incêndio foi provocado por uma falha elétrica em um dos buchas de alta tensão de um transformador localizado na subestação North Hyde, estrutura da qual Heathrow dependia majoritariamente. A análise indica que a provável causa foi a entrada de umidade no componente, que havia apresentado níveis elevados de umidade em amostras de óleo coletadas em julho de 2018 — sem que, à época, fossem adotadas ações proporcionais à gravidade do caso.
@BBCLondonNews There’s a huge fire in Hayes - London, looks like North Hyde Electricity sub station pic.twitter.com/PJNpbHjZxu
— Vil (@fire_at_Vill) March 20, 2025
O blecaute ocorreu na noite de 20 de março e exigiu a atuação de aproximadamente setenta bombeiros e dez viaturas. O aeroporto permaneceu fechado durante boa parte do dia seguinte, enquanto equipes trabalhavam na reconfiguração da rede interna para redirecionar a energia a partir de dois outros pontos de fornecimento ainda operacionais. Esse processo, de acordo com a própria administração de Heathrow, leva entre dez e doze horas.
Em comunicado, Fintan Slye, CEO da NESO, disse que o objetivo do relatório é aprimorar os protocolos de resposta e planejamento diante de incidentes com grande impacto, como forma de fortalecer a resiliência do sistema energético.
O relatório também destaca que operadores da rede elétrica geralmente não têm conhecimento sobre quais clientes fazem parte da Infraestrutura Nacional Crítica — como é o caso de Heathrow —, o que pode comprometer o nível de prontidão e priorização em emergências.
A administradora do aeroporto de Heathrow disse nesta quarta-feira (2), que acolheu as conclusões do relatório e culpou a falta de manutenção da infraestrutura elétrica, a obsolescência regulatória e a ausência de mecanismos de segurança eficazes como causas da falha.
Ainda segundo o relatório, embora o aeroporto reconhecesse que interrupções no fornecimento de energia poderiam afetar significativamente suas operações, avaliava a perda total de um dos três pontos de fornecimento como um evento de baixa probabilidade, ainda que de alto impacto. A NESO recomendou, por isso, que o aeroporto diversifique sua estrutura elétrica para evitar que a falha de um único ponto comprometa todo o sistema.
A Ofgem (Office of Gas and Electricity Markets), reguladora britânica do setor, anunciou a abertura de uma investigação formal contra a National Grid Electricity Transmission (NGET). A apuração buscará verificar se a empresa cumpriu as obrigações legais e de licenciamento em relação ao desenvolvimento e manutenção da rede elétrica na subestação de North Hyde.
A Ofgem também pretende discutir com a agência reguladores da aviação britânica (CAA) as lições que o episódio pode oferecer para a resiliência mais ampla do sistema de transportes.
Em resposta ao relatório, a National Grid afirmou ter adotado medidas adicionais desde o incêndio, como a revisão completa do processo de análise de óleo, e declarou apoio às recomendações do relatório e à investigação conduzida pela Ofgem.
Heathrow também conduziu uma apuração interna, coordenada pela ex-ministra Ruth Kelly, que apontou 28 áreas prioritárias de melhoria. O aeroporto informou que já iniciou a implementação de todas as recomendações. Um dos pontos destacados pela revisão foi a indisponibilidade de Thomas Woldbye, CEO do aeroporto, no momento inicial do incidente, pois seu celular estava no modo silencioso.
A infraestrutura da subestação de North Hyde, construída antes da implementação dos padrões atuais de controle de incêndio da NGET, também contribuiu para a gravidade do caso. Em 2022, uma revisão identificou que os sistemas de supressão de fogo em dois transformadores estavam inoperantes. Um novo laudo, realizado em julho de 2024, confirmou que os sistemas continuavam fora de serviço — e que, em caso de incêndio, não haveria contenção adequada. Uma ação prioritária foi registrada para manutenção do sistema de névoa d’água, mas ela permanecia pendente na data do incidente, sete meses depois.
O engenheiro de prontidão da National Grid chegou à subestação às 23h50 do dia 20. Às 6h da manhã do dia 21, os bombeiros de Londres puderam entrar no local após a emissão de autorizações de segurança elétrica, conforme as diretrizes operacionais do Conselho Nacional de Chefes de Bombeiros.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 02/07/2025, às 14h31
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