Helicóptero voava com condições especiais de visibilidade e piloto pode ter perdido contato com o solo segundos antes da queda
Helicóptero que transportava o astro Kobe Bryant era um dos mais sofisticados do mercado | foto: Reprodução FlightAware
O mundo do esporte recebeu na tarde de domingo (26), a trágica notícia da morte de Kobe Bryant, ex-ala-armador e estrela do time de basquetebol Los Angeles Lakers. O acidente envolvendo um dos mais sofisticados helicópteros do mercado, o Sikorsky S-76B pegou a toda comunidade aeronáutica de surpresa, ao mesmo tempo, o mundo do esporte chora a partida de um de seus maiores ídolos.
O modelo é considerado um dos mais versáteis helicópteros médios da atualidade. O S-76 é uma aeronave para até 16 passageiros, sendo amplamente utilizado no transporte de autoridades e até mesmo voos offshore, atendendo plataformas de petróleo em alto mar. A aeronave utilizada por Kobe Bryant, registrado como N72EX, foi fabricado em 1991 e mantinha condições de voo de acordo com as rígidas exigências da FAA, a agência de aviação civil dos Estados Unidos.
O áudio e dados de radar divulgados mostram que a aeronave voava nas proximidades de Los Angeles, com condições climáticas adversas e visibilidade restrita. Todavia, por regras de tráfego aéreo existe a possibilidade de voar visual mesmo com restrição de visibilidade, desde que atendendo a estritas regras de voo. O chamado VFR Especial (SVFR) atende algumas normas onde as condições permitem o piloto manter contato visual com o lado externo, sem ter de recorrer a um voo por instrumentos. Nos Estados Unidos as regras para o SVFR mostram que aeronave pode voar em áreas congestionadas em uma altitude de pelo menos 1.000 pés acima do obstáculo mais alto. Em casos de áreas não congestionadas a restrição passa uma altitude de pelo menos 500 pés acima da superfície.
Segundo as Regras Gerais de Operação e Voo (14 CFR Part 91) não é proibido o voo de helicóptero SVFR quando a visibilidade for inferior a 1 milha, porém, o piloto é responsável por manter a separação vertical e horizontal do terreno. Por voar sob condições especiais, sem estar operando instrumentos, não existe vetoração do controle de tráfego aéreo, aumentando a exigência de consciência situacional por parte do piloto.
Os voos SVFR não são raros e muito menos desconhecidos entre pilotos de helicópteros e aviões, mas exigem atenção redobrada. As mudanças nas condições de visibilidade podem mudar rapidamente.
O áudio entre a aeronave e o centro de controle mostra que o piloto estava voando em condições visual especial, voando a 1.500 pés (450 metros). Logo após ter seu controle repassado para o controle Socal, (Southern California Terminal Radar) o helicóptero perde contato via rádio, possivelmente pela baixa altura do voo que comprometeu a propagação das ondas de rádio. O controle informa antes da queda que o N72EX voava mais baixo que o ideal para aquela área. "Você ainda está em um nível baixo para seguir um voo neste momento”, afirma o controlador. Menos de um segundo após a transmissão o controle perde o contato radar, mostrando que aeronave havia colidido com o terreno.
O acidente possivelmente será classificado como CFIT, acrônimo em inglês para colisão com o solo em voo controlado. Esse tipo de acidente ocorre quando a aeronave, com todos seus equipamentos e sistemas funcionando normalmente, mantendo total controle do piloto colide inadvertidamente com o solo. A causa mais comum para esta ocorrência é o fator humano, que varia desde uma incorreta leitura dos dados, desconhecimento do terreno sobrevoado e até completa desorientação espacial. No caso de um voo SVFR, onde uma mudança abrupta de condições visuais é possível, o piloto pode ter perdido sua referência imediata com o solo, sem tempo suficiente para corrigir o voo.
Abaixo aúdio e imagem do sistema radar do helicóptero momentos antes do acidente [conteúdo em inglês]
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 27/01/2020, às 00h00 - Atualizado em 10/06/2020, às 16h57
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