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Piruletas e cambotas

O relato de um piloto de acrobacia aérea

Prepare-se para um vôo cheio de adrenalina com Mike Goulian a bordo de um dos mais avançados aviões acrobáticos do mundo


Ricardo Beccari
Ricardo Beccari

Na edição 2005 do AirVenture, que ocorre em Oshkosh, Mike Goulian um dos maiores pilotos de acrobacia aérea do mundo gentilmente produziu este texto com exclusividade para AERO Magazine. O olhar de um aviador sobre a pilotagem de um dos mais avançados aviões acrobáticos de seu tempo e a relação da máquina, o piloto e o show aéreo.

Sente-se na cadeira, ajuste o encosto e aproveite...

O CAP 232 é uma das aeronaves mais ágeis que eu já voei. O menor movimento dos controles é imediatamente sentido nos poderosos ailerons, dando ao piloto a sensação não apenas de controlar o avião, mas de fazer parte dele. Nunca senti isso em qualquer outra aeronave. Mas não foi esta a razão de eu ter escolhido o CAP 232. Eu vôo o CAP porque ele é um dos poucos aviões que me permite inventar manobras criativas quando estou no ar.

Isso se deve ao fato de ele ser instável em arfagens e de possuir um potente leme, o que torna possível explorar coisas novas. Imagino que o leitor quer saber como é voar a bordo de um CAP 232, certo?

Bem, tudo começa ao vestir o páraquedas que cabe justinho no assento e que foi fabricado sob medida para o meu tamanho (1,75 metro). Assim, quando estou preso ao banco não há qualquer folga, portanto posso me concentrar totalmente no voo sem lutar contra a força da gravidade.

Em seguida vem a decolagem. Se a aplicação de potência ocorrer de forma suave, o CAP sai do chão antes da manete chegar à posição Full On. Uma vez no ar, sinto-me completamente integrado à máquina: o que penso em fazer, ele faz. É simples assim.

Diminuo a velocidade para 100 nós indicados (185 km/h) e estamos prontos para mais uma apresentação. Quando giro o nariz do avião, minha visão enche-se só com a pista do show aéreo, 2.500 pés (760 metros) abaixo.

Estabelecemos um ângulo de 45 graus embalando para o chão e começo com um roll (tunô no eixo) usando ao máximo os ailerons e o mundo fica fora de foco. Uma parada! Um giro para o outro lado. Outra parada! Agora executo mais duas rotações. É bom ficar preparado porque agora estamos a 250 milhas por hora (402 km/h) e o chão está chegando a mais de 250 pés por minuto. Estabilizamos a 10 pés (3 metros) e preparamos para a nossa manobra de número 2.

Cabro o manche e o alerta G imediatamente começa a soar no meu capacete, avisando-me que estamos nos aproximando do limite de 9 g. Uma vez na vertical, comando o manche todo para o lado e o horizonte mais uma vez sai de foco. Após algumas rápidas rotações, aplico suavemente o leme e efetuo um lindo parafuso. Não um parafuso comum, mas um parafuso “fio de navalha” (knife edge spin) no qual as asas ficam perpendiculares ao chão e o flight path é todo voltado para cima.

Quando perdemos energia, o avião executa seu flip no topo, uma transição para um parafuso chato normal durante a queda enquanto mantenho os olhos no altímetro, uma vez que o chão se aproxima rapidamente. Duas manobras concluídas; restam apenas outas 18. Enquanto nos apresentamos neste dia maravilhoso, reflito em como sou uma pessoa de sorte. Ganho minha vida fazendo algo que sinto ter nascido para fazer, com a paixão inocente de uma criança.
Mike Goulian

A história de um campeão

Michael George Goulian nasceu em Winthrop, Massachusetts, nos Estados Unidos, em 1968. Pode-se dizer que ele praticamente nasceu dentro de um hangar de avião já que sua família fundou, em 1964, uma das maiores escolas de aviação do nordeste dos EUA, a Executive Flyers Aviation (EFA).

Na infância e durante a adolescência, esteve sempre em contato com o universo da aviação, lavando aviões e varrendo o chão dos hangares. Em 1984, no dia de seu 16º aniversário, fez o primeiro voo solo num Cessna 150.

Rapidamente iniciou os treinamentos acrobáticos. Aos 22 anos já era campeão regional na categoria Advanced de acrobacias, para decolar numa carreira vitoriosa sem limites. Mike Goulian foi campeão norte-americano nas categorias Advanced e Unlimited e participou das principais equipes norte-americanas, como o Stars of Tomorrow e o US National Aerobatic Team.

Em 2006, Goulian se juntou a um grupo de pilotos de elite competindo no Red Bull Air Race World Championship, onde competiu com os melhores pilotos acrobáticos do mundo.

Suas apresentações em shows aéreos são consideradas hoje as mais radicais e arrojadas do mundo, onde criou manobras próprias, o que lhe confere um estilo único. Considerado uma autoridade no mundo da acrobacia aérea e com larga experiência, Mike Goulian é co-autor do livro “Basic Aerobatics & Advanced Aerobatics”.

Atualmente voa em um avançado Extra 330SC, um dos mais potentes, agressivos e performáticos aviões de acrobacia aérea do mundo.

Além de suas credenciais em shows aéreos e corridas aéreas, Goulian também é instrutor de voo e e atravessa regularmente os Estados Unidos em um Cirrus SR-22, ministrando palestras para grupos de aviação destinadas a aumentar a conscientização sobre segurança e proficiência entre os pilotos de aviação geral. Atualmente, possui e opera a Mike Goulian Aviation, como Centros Autorizados de Treinamento Cirrus.

Por Mike Goulian
Publicado em 28/03/2024, às 14h00


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