Os planos da Air India, sob o comando do Tata Group, para se tornar uma empresa de nível global e sua encomenda de 470 aviões
Uma das maiores encomendas da história da aviação comercial envolveu os dois maiores fabricantes de aeronaves do mundo e uma empresa que recentemente chegou a beira da falência. A Air India anunciou na semana passada um pedido recorde que inclui 470 aviões, sendo 250 jatos da Airbus e outros 220 da Boeing.
A negociação entre Air India, Airbus e Boeing estava em andamento há mais de um ano, em um acordo que envolveu muita diplomacia, mas foi essencialmente comercial.
Após décadas sob controle estatal, a Air India que chegou perto de encerrar suas atividades, foi adquirida em 2022 pelo conglomerado Tata Group, que apenas no ano passado teve receitas na ordem de US$ 128 bilhões (aproximadamente R$ 662 bilhões). O maior grupo privado da Índia tem planos ambiciosos para a principal companhia do país.
Com a economia e a renda indiana crescendo, há uma grande oportunidade da população viajar cada vez mais, inclusive para o exterior. O número atual de 75 milhões de passageiros em voos internacionais pode saltar para até 125 milhões nos próximos dez anos. Comparativamente o volume é maior do que toda a aviação regular brasileira movimenta anualmente.
Sob o comando do grupo Tata, a companhia visa uma maior fatia do mercado aéreo indiano, que registra umas das três maiores taxas de crescimento do setor. Além da competividade interna, a Air India pretende bloquear o êxodo de passageiros que voam para o exterior em companhias estrangeiras, que juntas transportam cerca de 60% dos indianos que viajam em rotas internacionais.
Para evitar a diáspora nos aeroportos de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Doha, no Qatar, a Air India planeja competir de forma direta com as companhias aéreas do Oriente Médio, em especial com a Emirates e Qatar Airways.
Em 2019, ano pré-crise sanitária, o aeroporto de Dubai movimentou 86,4 milhões de passageiros, sendo a Índia o principal destino dos passageiros, com 11,9 milhões de pessoas passando pelo centro de conexões da Emirates. Como comparação, o segundo maior mercado foi a Arábia Saudita, com 6,3 milhões de viajantes.
Devido ao grande fluxo, Dubai é considerada o portão de entrada e saída dos indianos para o mundo, algo que a Air India planeja reverter.
O Tata Group pretende absorver parte do fluxo de passageiros em viagens pelo mundo investindo na ampliação da frota, com consequente melhora na oferta de novos destinos, e oferecendo um produto de classe mundial. A Air India deverá ampliar sua rede de rotas e diversificar a utilização da frota adquirida, permitindo maior flexibilidade e frequências tanto para o público corporativo quando de lazer.
O pedido anunciado na semana passada inclui 70 aeronaves de fuselagem larga, sendo seis A350-900, 34 unidades do A350-1000, vinte 787-9 e dez 777-9. Outros 400 jatos de corredor único foram encomendados, incluindo 210 aeronaves da família A320neo e 190 Boeing 737 MAX das versões -8 e -10.
A variedade de aviões comerciais, embora pouco usual entre companhias aéreas no mundo, promete auxiliar a Air India graças as suas diferentes configurações, tornando mais rentável o uso de cada modelo em rotas chaves para os Estados Unidos, Europa e Ásia, além de concorrer em aeroportos com slots restritos, como o disputado Heathrow, em Londres, um dos principais destinos internacionais do mercado indiano, com aviões mais modernos.
Além dos investimentos que competem diretamente a companhia, a ampliação e modernização da infraestrutura aeroportuária e de navegação aérea na Índia será necessária para o desenvolvimento de um centro de conexões a altura dos pares do Oriente Médio, incluindo os planos da Arábia Saudita que pretende lançar uma nova empresa visando as conexões entre o Oriente e Ocidente. O número de aeroportos operacionais saltou de 74 para 147 em nove anos, devido à ambiciosa conectividade planejada pelo governo.
A competição externa não é o único desafio do Tata Group a frente da Air India. No mercado doméstico a Indigo se tornou líder em pouco mais de uma década, consolidando a posição com preços competitivos e uma frota moderna formada por aeronaves da família A320, sendo inclusive a maior operadora global do A320neo.
Com foco no mercado de baixo custo, a Indigo encerrou o ano de 2022 com 54,6% de participação no mercado indiano, seguida pela Spicejet, operadora que acompanha o seu modelo de negócio, enquanto a outrora gigante Air India detém apenas 9,7%, ocupando a terceira posição.
Diante da crescente demanda do tráfego, resultado do aumento do poder aquisitivo da população indiana e melhorias no setor, as empresas aéreas do país possuem mais de 1.200 aviões encomendados. Neste cenário os novos controladores da Air India planejam levar a companhia a um nível de competição de classe mundial.
O acordo que foi negociado por dias a fio em um hotel em Londres, traçou novos rumos de um dos maiores mercados de aviação global.
Por Wesley Lichmann
Publicado em 22/02/2023, às 13h40
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