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Farnborough 2014

Negócios retomados

Com portfólio renovado, Airbus, Boeing e Embraer batem recordes de encomendas no principal salão aeronáutico do ano e consolidam a recuperação econômica do setor


A330-900neo
Air Asia X encomendou 50 unidades do A330-900neo no valor de US$ 13,8 bilhões

O salão internacional da aviação em Farnborough, na Inglaterra, bateu seu próprio recorde de encomendas de aviões comerciais neste ano de 2014. Juntos, os fabricantes receberam um total de 1.100 pedidos, avaliados em US$ 152 bilhões, o que consolida um processo de retomada econômica do setor. Airbus, Boeing e Embraer, os maiores construtores mundiais de aeronaves, converteram-se nos grandes beneficiados dessa mudança de ares. Os europeus fecharam a semana do evento com negócios firmes que ultrapassaram os US$ 75,3 bilhões, com encomendas para 496 aeronaves. Já os norte-americanos anunciaram novos contratos firmes para 201 aparelhos, no valor de US$ 40,2 bilhões a preços de mercado, enquanto os brasileiros somaram 162 pedidos, com destaque para a segunda geração (E2) dos seus E-Jets E190, E195 e E-175.

Fim do suspense

Logo no primeiro dia, a Airbus colocou um ponto final nas dúvidas que pairavam há algumas semanas no mercado, confirmando o lançamento do A330neo, que inclui duas versões, o A330-800neo e A330-900neo. A família obteve um total de 121 encomendas logo no anúncio, num total de US$ 33,2 bilhões. Conforme esperado, o maior cliente para o A330neo foi a Air Asia X, com um contrato de venda para 50 unidades do A330-900neo no valor de US$ 13,8 bilhões. A empresa asiática vinha mantendo diversas reuniões com a Airbus sobre o desenvolvimento do A330neo. Contrariando a expectativa do mercado de que a Pratt&Whitney seria uma das fornecedoras para os novos motores, a Airbus optou por equipar o A330neo com a nova família Rolls-Royce Trent 7000. Estes novos motores contam com um fan de 2,85 m (112 polegadas) de diâmetro e incorporam as mais recentes inovações obtidas no programa Trent XWB, além de possuirem uma razão de diluição de 10:1.

A350

Farnborough acumulou 1.100 pedidos avaliados em US$ 152 bilhões

A previsão da Airbus é a de que a família A330neo obtenha uma redução no consumo de combustível em 14% por assento em comparação com o atual A330. Segundo o fabricante, os novos aviões terão aumento no alcance de 740 km (400 mn), ao mesmo tempo em que transportarão mais carga útil, graças a diversos aprimoramentos aerodinâmicos, como a inclusão de novos winglets, baseados no utilizado no A350, e maior envergadura, que passa de 60,3 m para 64 m, oferecendo mais sustentação e menos arrasto. Um novo arranjo na cabine permitirá ao A330-900neo acomodar até 10 assentos adicionais (de 300 para 310), ao passo que o A330-800neo terá capacidade para mais seis passageiros (de 246 para 252), com conforto similar ao dos atuais A330. Mesmo sem apresentar dados completos, a Airbus afirma que o custo operacional por assento do A330neo será inferior ao do Boeing 787. As primeiras entregas dos mais novos membros da família A330 devem começar no quarto trimestre de 2017.

No segmento de um corredor, a Airbus obteve 363 encomendas para a família A320, no valor de US$ 39 bilhões. Desses, os modelos A320neo e A321neo obtiveram 317 encomendas, no valor de US$ 34,4 bilhões. Durante a feira em Farnborough, o consórcio europeu ainda celebrou a venda de número 3.000 do A320neo, marco atingido quando a SMBC Aviation Capital encomendou 110 aviões (leia mais sobre o A320neo na reportagem a partir da p. 64). “As encomendas e as intenções de compra que recebemos neste salão, recorde tanto para o A330neo como para o A320neo, demonstram o apoio do mercado em relação a estas aeronaves mais eficientes”, disse John Leahy, diretor de operações e de clientes da Airbus. “Para ambas as nossas categorias de um corredor e widebody, a alta representação de empresas de leasing – amplamente consideradas como o ‘barômetro’ global da indústria – é um indicativo da confiança no longo prazo nas necessidades de crescimento sustentável das companhias aéreas nos próximos anos”.

No ar, a Airbus decolou todos os dias com um A380, um A350 XWB nas cores da Qatar (que também apresentou em exposição estática um A320 equipado com sharklets na ponta das asas) e um A400M, a três semanas da entrega do primeiro de 22 aparelhos encomendados pela Royal Air Force.

Boeing aplicará soluções testadas no 787 Dreamliner no interior da cabine do 777X
Boeing aplicará soluções testadas no 787 Dreamliner no interior da cabine do 777X

Suave transição 

A Boeing, por sua vez, anunciou uma nova opção com 200 lugares no 737 MAX 8, o que dará às companhias aéreas retorno de mais 11 lugares, com uma economia de 20% no consumo de combustível, comparativamente à atual geração do 737. O fabricante norte-americano revelou, ainda, que aplicará soluções testadas no 787 Dreamliner no interior da cabine do 777X, incluindo maior nível de umidade, janelas 15% maiores e uma cabine 40,6 cm mais larga.

A Boeing está focada numa suave transição dos atuais 777 para os futuros 777X, no final da década. Para tal, conta com encomendas firmes de 269 modelos 777-300ER e 777F, com opções para mais 98 aviões da atual geração do triplo sete. A Delta Air Lines, um dos potenciais clientes para o 777-300ER, ainda avalia o A330, o A350 e o 787, para uma encomenda de 50 widebodies que deverá fazer até ao fim do ano.

Red  Arrows da RAF

Tradicional show aéreo contou com os Red Arrows da RAF

Um dos pontos altos para o fabricante norte-americano foi a assinatura de um contrato firme junto à Emirates Airline para 150 novos 777X, avaliados em US$ 56 bilhões. O acordo foi firmado poucos dias após a Emirates ter cancelado a ordem de compra de 70 aviões A350 XWB. O pedido inclui 115 777-9X e 35 777-8X, além da opção para outros 50 aviões da família 777X. Caso o contrato seja integralmente confirmado, o pedido pode ultrapassar os US$ 75 bilhões. A Qatar também fechou um pedido firme para 50 777X-9, avaliado em US$ 46 bilhões.

A previsão da Boeing é que o novo 777X entre em produção em meados de 2017, com as primeira entregas ocorrendo até 2020. A nova família do triplo sete inclui os últimos avanços em motores, aviônica e materiais. A expectativa do fabricante é que os novos aviões sejam até 12% mais eficientes do que os atuais aviões disponíveis no mercado.

O 777-9X será o primeiro avião comercial com pontas de asa dobráveis. Embora o projeto remonte à década de 1990, pensado para o 777-200, a instalação dos dispositivos tornou-se necessária apenas com a nova geração, que inclui asas com maior alongamento e 71,8 m de envergadura – que cai para 64,8 m com a dobragem.

Este ano a Boeing levou a Farnborough o recém-certificado 787-9, uma semana depois da entrega do primeiro aparelho à Air New Zealand. Essa versão tem mais 6 m de comprimento do que o 787-8 (igualmente presente no salão, com as cores da Qatar Airways) e capacidade para até 323 passageiros. Até o fechamento desta edição, a Boeing havia recebido 409 ordens de compra para essa versão, num total de 1.031 encomendas para o 787 Dreamliner. Nos aviões militares, a Boeing apresentou um P-8A Poseidon, versão de patrulha derivada do 737-800 Next-Generation e um caça F/A-18E Super Hornet.

Diferente do que acontecia há não muito tempo, quando a Boeing mantinha suas aeronaves apenas em exposição estática, nos últimos eventos, o fabricante tem apostado nas demonstrações de voo. Um dos destaques foi a exibição do 787-9, que realizou diversas manobras de alta performance. A empresa também demonstrou em voo as capacidades do P-8 e do F/A-18 Super Hornet.

Nova geração

Além de um E-195, um Legacy 650 e um E-135LR em exposição estática, a Embraer apresentou em Farnborough o mock-up da cabine do futuro E-Jet E2, a segunda geração da família dos E-Jet, que mantém filas de dois lugares de 46,5 cm (18,3 polegadas) em cada lado do corredor em classe econômica, uma vantagem sobre outros concorrentes que oferecem fileiras com três lugares. Os bagageiros são 40% mais largos do que os da atual geração, possibilitando a arrumação de cinco trolleys lado a lado. Na configuração de primeira classe, a Embraer avalia um novo conceito de assentos individuais com um espaço ampliado para as pernas, introduzindo um padrão de conforto em aviões de um corredor com poltronas de 1,27 m ou 1,32 m (50 ou 52 polegadas). As janelas também foram redesenhadas para transmitir a sensação de amplitude de cabine e maior luminosidade natural. O E2 deverá dispor de opções de internet via wi-fi e maiores telas individuais para entretenimento. Atualmente em fase de “critical review”, o E-190 E2 é aguardado para 2018, seguindo-se o E-195 E2 em 2019 e o E-175 E2 em 2020. “Esta segunda geração tem proposta diferente do que vêm fazendo Boeing e Airbus. Não estamos só mudando os motores. Há novas asas dedicadas para os E-190 e E-195, assim como para o E-175, além da quarta geração de sistemas fly-by-wire e novos interiores. O E-190 mantém a mesma capacidade, mas o E-195 terá mais três filas de bancos e capacidade para um total de 136 passageiros”, frisou Luís Carlos Affonso, COO da unidade de aviação comercial da Embraer, revelando que o desenvolvimento dos novos aviões prevê um investimento de US$ 1,7 bilhão.

Como previsto, a nova família E2 obteve grandes encomendas, com destaque para a Azul Linhas Aéreas, que se tornou a companhia lançadora do E195-E2, com a assinatura de uma carta de intenções para a aquisição de 50 aeronaves, sendo 30 pedidos firmes e 20 opções, num contrato avaliado em US$ 3,1 bilhões. Para ficar nos contratos maiores, também a Trans States Holdings fez o anúncio de um pedido firme para 50 unidades do E-175-E2, com opções para outros 50 aeronaves.

Na área militar, Paulo Gastão da Silva, vice-presidente da Embraer para o cargueiro KC-390 também fez um update do programa. Com dois protótipos em fase adiantada de montagem final, o primeiro voo está previsto para o final deste ano.

mock-up do interior dos novos E-Jet E2
Embraer apresentou o mock-up do interior dos novos E-Jet E2

Pouca visibilidade

Uma vez mais, a Bombardier não apresentou o CSeries num dos principais salões mundiais de aviação. Depois de Le Bourget, em 2013 (por atraso no primeiro voo do avião), aconteceu de novo em Farnborough, na sequência de uma falha em um dos motores, no decorrer de um teste no solo. Componentes furaram a carenagem do motor, danificando a fuselagem de um dos protótipos. Por ora, o impacto do incidente não alterou o cronograma atual de certificação, embora em seis meses, os protótipos tenham executado apenas 100 horas de voo.

Longe da vista do público, esteve também presente em Farnborough o mock-up do CSeries. A Bombardier reservou, ainda, o mock-up do avião executivo de longo curso Global 7000 (apresentado pela primeira vez no Ebace, em Genebra) para visita exclusiva dos seus melhores clientes. Além disso, o jato executivo Challenger 350 fez a sua estreia europeia em Farnborough, permanecendo em exposição estática apenas no primeiro dia do salão, regressando em seguida aos EUA.

Colaborou Edmundo Ubiratan

Por Alexandre Coutinho, de Farnborough
Publicado em 30/07/2014, às 00h00 - Atualizado às 19h09


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