Fabricante brasileiro trabalha na preservação do negócio diante da crise e não descarta parceria estratégica futura
A Embraer trabalha na completa reintegração da divisão de aviação comercial ao seu negócio
A Embraer pode buscar novas parcerias após a fracassada negociação com a Boeing, além de trabalhar no desenvolvimento de novos produtos, com destaque para um possível turbo-hélice regional e um avião leve militar.
Em entrevista ao Check 6 podcast, da Aviation Week & Space Technology, o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, apresentou um resumo geral sobre a situação atual do fabricante e os planos para os próximos cinco anos.
A Embraer atualmente está trabalhando para reorganizar suas operações após a fracassada parceria com a Boeing, agravada pela pandemia de covid-19 que praticamente paralisou a indústria de transporte aéreo em todo o mundo. Com diversas companhias aéreas suspendendo entregas ou postergando novas encomendas, a Embraer enfrenta o desafio de reestruturar seu negócio frente a queda de receita combinada com custos muito maiores do que o normal.
Segundo o executivo, uma das primeiras ações da empresa foi a implementação de um comitê de crise. A medida permitiu proteger o caixa ao mesmo tempo que promoveu uma série de melhorias na sinergia das diversas unidades de negócios da Embraer. Ainda que tenha buscado empréstimos junto ao mercado e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gomes Neto afirma que a Embraer possui liquidez para atravessar a crise atual. “Acho que estamos em uma situação de liquidez muito confortável para passar os próximos dois ou três anos”, afirmou o executivo.
Um dos principais destaques foi a confirmação que a Embraer está disposta a buscar novas parcerias de negócios, seja em áreas estratégicas ou para o desenvolvimento de novos produtos. Ao ser questionado sobre uma possível fusão ou venda de uma unidade de negócios, Gomes Neto foi categórico em negar tal opção. “Estamos abertos a parcerias, mas não tão complexas ou radicais como tentamos fazer com a Boeing”, disse.
Entre os modelos de parceria se destaca o projeto para um turbo-hélice regional. O estudo já estava sendo levado consideração antes da pandemia, mas está aguardando uma melhora do mercado para poder ser, ou não, anunciado.
O avião deverá ter capacidade entre 50 e 100 assentos, substituindo a frota de aeronaves do tipo em serviço, que acumulam mais de 30 anos de projeto e se aproximam do limite de modernização e melhorias.
Ainda que descarte um programa bastante inovador, como uso de células de hidrogênio como combustível, a Embraer pode desenvolver um avião de propulsão hibrida, aliando um motor turbo-hélice convencional com um elétrico. Todavia, tal projeto dependeria da criação de uma aliança com outros fabricantes ou sócios interessados em promover uma aeronave dessa classe no mercado de aviação regional.
Chama atenção a declaração de Gomes Neto referente ao desenvolvimento de uma aeronave militar leve, focada nas necessidades da Força Aérea Brasileira, que também deverá contar com propulsão hibrida. Ainda que não exista maiores detalhes do projeto, existem duas opções que podem atrair atenção imediata da FAB: um modelo substituto do Bandeirante ou uma aeronave de treinamento similar ao veterano Tucano. Atualmente ambos aviões se aproximam do final de sua vida útil.
Por fim, o executivo apontou que a Embraer atua atualmente em uma série de áreas, incluindo projetos no setor de cibersegurança, o desenvolvimento de um navio para a Marinha do Brasil, sistemas para o exército brasileiro, entre outros.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 26/10/2020, às 11h30 - Atualizado às 13h00
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