De monoturboélices a jatos de ultralongo alcance, aviões de negócios passaram a oferecer toalete a bordo
Lavatórios em aviões comerciais são uma realidade há décadas. Desde o início dos voos regulares, sempre havia um pequeno sanitário ao menos instalado nas rudimentares aeronaves que desbravaram o serviço de transporte de passageiros.
Ainda antes do pós-guerra, o mundo percebeu as virtudes das viagens privativas, surgindo diversas propostas para aeronaves destinadas ao que hoje chamamos de aviação geral, surgindo modelos como o Lockheed Model 10 Electra, Lockheed Vega, Cessna Model A, Cessna Model C-37, Beechcraft Model 17 Staggerwing, entre outros.
Já na década de 1950, com o rápido avanço das tecnologias, sobretudo dos motores a reação, sejam os jatos puros ou os turbo-hélices, um novo segmento surgiu: os aviões de negócios, construídos desde o início para atender às necessidades de viajantes que necessitavam se locomover de forma rápida, eficiente e entre pares de cidades nem sempre atendidos por voos regulares ou horários adequados.
Como o foco inicial eram voos realmente rápidos, os lavatórios não foram priorizados. Primeiro pelo tamanho diminuto da cabine de passageiros e a necessidade de evitar peso, segundo pela proposta de realizar etapas com duração sempre inferior a três horas e, por fim, pela proposta de transportar dois ou três passageiros na maioria dos voos.
Ver essa foto no Instagram
Os primeiros modelos contavam apenas com um assento que podia ser convertido em um sanitário para emergências. Uma proposta que foi padrão em jatos leves até meados dos anos 2000.
Contudo, aviões de cabine larga, na maioria dos casos, surgiram já com um lavatório bastante razoável. Neste caso havia algumas diferenças em relação aos primeiros modelos de aviões de negócios, começando pela cabine maior e o impacto menos expressivo na adição de peso, e o mais importante, eram projetos para voos de média a longa duração, transportando um número maior de pessoas, em alguns casos, mais de dez por etapa.
Com o avanço da demanda por jatos leves, em especial no início do século 21, diversos fabricantes aeronáuticos passaram a apostar no segmento que prometia revolucionar o transporte executivo, sobretudo os então chamados VLJ, ou Very Light Jets.
Os primeiros aviões, como o diminuto Eclipse, tinham como proposta custar menos de 1 milhão de dólares, exigindo, assim, uma cabine espartana. Já a Embraer, que havia acabado de lançar seu primeiro avião de negócios, o Legacy, derivado do ERJ 135, viu nos jatos de entrada a oportunidade de ampliar seus negócios.
Mas, para competir com modelos consagrados, como os das famílias Citation e Learjet, o projeto teria de oferecer soluções muito além das esperadas pelos potenciais clientes. Uma das grandes virtudes da família Phenom foi trazer de série um lavatório, colocando os jatos em um novo patamar de conforto.
Na sequência, a Honda Aircraft, que trabalhava no HondaJet, também trouxe o novo espaço para seu avião. Na época, já havia aviões leves com lavatórios, como o Hawker 400, mas, ao tornar o sanitário um destaque até na campanha de vendas, a Embraer definiu o projeto como um padrão a ser seguido desde então.
Modelos turboélices leves, como os monomotores Daher TBM e Pilatus PC-12, trazem o lavatório como um opcional.
Em alguns casos, mesmo em jatos leves como o PC-24, o espaço é modular, com seu uso ainda restrito, mas que permite atender especialmente voos em família, com crianças a bordo.
Mais recentemente a Cessna passou a oferecer lavatórios mais ergonômicos e espaçosos em seus modelos de entrada, apostando inclusive em iluminação natural, como na família Citation CJ.
Já os jatos médios passaram a oferecer mais espaço no lavatório, com muitos permitindo o acesso ao bagageiro justamente por uma porta no lavatório. Uma forma de maximizar o espaço interno e ampliar as comodidades oferecidas aos passageiros. Ter acesso às bagagens em voo é considerado extremamente relevante pela maioria dos usuários dos jatos médios e grandes.
Para os modelos de cabine larga, sobretudo com capacidade de voos ultralongos, na última década, as chamadas suítes, que incluem um lavatório com ducha, se tornaram quase obrigatórias na categoria.
Ainda que seja normalmente oferecido como um opcional, os operadores que realizam voos de longa duração são adeptos da ideia. A suíte oferece uma ampla cama de casal, em vez de um sofá que se transforma em cama, e um lavatório completo, incluindo uma ducha digna de grandes hotéis.
Embora em um primeiro momento pareça uma extravagância, a solução tem sentido e é apreciada por uma questão econômica. Para executivos e celebridades que voam com seus jatos de cabine larga e longo ou ultralongo alcance, o avião é uma extensão do escritório e um hotel alado.
Assim, quando a aeronave conta com suíte com ducha é possível chegar ao destino, após uma noite de sono, tomar um banho, ir até à reunião, fechar o acordo, retornar ao avião, tomar um banho, dormir e acordar em outro destino, para repetir o processo.
A simples ducha a bordo evita perder tempo se deslocando até um hotel, o que reduz o tempo gasto em cada viagem, ou seja, em um mundo onde tempo é dinheiro, a razão se tornou puramente econômica.
Não por um acaso, algumas empresas aéreas, em especial as árabes, oferecem na primeira classe, em geral chamadas também de suítes, uma ducha. A proposta é exatamente a mesma e mostra a importância do lavatório em aeronaves.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 23/10/2024, às 06h00