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Tempestade no caminho

COVID-19 pode comprometer acordo entre Boeing e Embraer

Fabricante norte-americano poderá reavaliar negócio após pedir socorro de US$ 60 bilhões ao governo dos EUA


Novo 777X promete ser o principal produto da Boeing, mas crise do COVID-19 pode impactar nas vendas do jato

As restrições de viagens gerada pela pandemia do COVID-19 podem inviabilizar o acordo entre a Embraer e a Boeing. O negócio avaliado em mais de US$ 4 bilhões foi anunciado no final de 2018, mas a crise pela qual passa a gigante norte-americana, somada as perspectivas futuras da economia global pode forçar uma reavaliação do acordo.

A Boeing enfrenta uma grave crise institucional e de engenharia principalmente oriunda dos problemas com o 737 MAX e de falhas diversas no cargueiro militar KC-46 Pegasus. Recentemente a empresa fez um pedido emergencial de ajuda ao governo dos Estados Unidos, solicitando um aporte de US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões).

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Com a redução no número de viagens internacionais esperado para 2020, que poderá ser até 30% menor que o ano passado, segundo previsão da IATA, as ações da Boeing acumulam queda de 62% desde janeiro, seguida pela Airbus com 54% e da Embraer que perdeu 50% de valor.

Apenas na última quarta-feira (18) as ações da Embraer registraram queda de 14%, atingindo um valor de mercado de cerca de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,53 bilhões), ou seja, quase dois terços menor que o existente em dezembro de 2018. Caso a Boeing mantenha a proposta do valor acordado estará pagando pela Embraer quase três vezes mais que o seu real valor de mercado (março de 2020).

A queda nas ações da Embraer e a crise interna da Boeing ganharam novo impulso com o surto global do coronavírus. Ainda existe a incerteza de como a comissão regulatória da União Europeia vai tratar o assunto. Os europeus vinham solicitando uma série de documentos e dados sensíveis aos dois fabricantes, atrasando consideravelmente todo o processo.

O acordo é visto como favorável a ambos os lados. A Boeing tem claro interesse na capacidade de engenharia da Embraer, que se notabilizou nas últimas décadas por seu dinamismo e acerto em projetos e visão de mercado. Desde 1994, quando a Embraer foi privatizada, todos aviões lançados se tornaram referência em seus respectivos segmentos. Do outro lado, a Boeing tem enfrentado desafios constantes por problemas de engenharia e projeto em seus principais produtos. Do ponto de vista financeiro a Embraer planeja alocar mais de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) líquidos em suas unidades de aviação de negócios e defesa. O aporte permitirá ampliar os investimentos em setores bastante lucrativos e ainda desenvolver novos projetos em áreas com potencial de crescimento, como de veículos aéreos urbanos. Além disso, a empresa brasileira ainda deverá parar um dividendo especial de US$ 1,6 bilhão (8 bilhões) a seus acionistas.

A definição final do acordo dependerá da retomada dos serviços em todo o mundo, visto que com o isolamento social uma série de processos ligados ao acordo não podem ser concluídos. Ainda assim, sua definição final dependerá das condições do mercado ao longo de 2020. Por ora, a divisão de aviação comercial da Embraer já tem novo nome, Boeing Brasil Commercial.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 20/03/2020, às 16h00 - Atualizado em 25/03/2020, às 16h49


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