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Turbulência na proa

Cortes de custos no setor aéreo ainda não foi suficiente

Empresas aéreas temem não ter capacidade para lidar com crise prolongada e IATA não descarta onda de falências


Centenas de aeronaves foram retiradas de serviço, além de outros cortes nos custos, mas medida ainda não foi suficiente

A pandemia de covid-19 e o fechamento de fronteiras deverá encerrar o ano com mais uma vítima: o setor aéreo, que deverá registrar uma queda de 46% da receita em relação ao registrado em 2019.

Segundo a análise da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), o setor aéreo não tem mais condições de cortar custos para neutralizar o uso de caixa e evitar falências em 2021.

A Associação aponta que em 2021 receita será quase metade dos US$ 838 bilhões registrados no ano passado, o menor número dos últimos vinte anos. Um dos entraves é que nas últimas duas décadas as empresas aéreas fizeram vultuosos investimentos na modernização e ampliação da frota, visando atender ao crescimento registrado no período. Com custos altos e demanda reduzida, a indústria do transporte aéreo busca soluções para evitar a maior sequência de falências e demissões de sua história.

“Sem alívio financeiro adicional do governo, as companhias aéreas de médio porte têm apenas 8,5 meses de caixa restante, considerando o uso rápido de suas reservas. Além disso, não podemos cortar custos com a rapidez suficiente para recuperar as receitas", disse Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da IATA.

A IATA aponta que mesmo com as empresas tomando medidas drásticas para reduzir custos, incluindo aposentadoria precoce se grande parte da frota, mudança nos prazos para entregas de novas aeronaves, entre outros, aproximadamente 50% dos custos são fixos ou quase fixos, pelo menos no curto prazo.

Assim, mesmo com cortes profundos na operação os custos não acompanharam no mesmo ritmo a queda das receitas. A associação aponta, por exemplo a redução dos custos operacionais no segundo trimestre foi de 48% em comparação com o ano passado; já a redução das receitas operacionais foi de 73%, com base na análise de 76 companhias aéreas.

Segundo estimativas da IATA, o tráfego do ano todo de 2020 deve cair 66% em relação a 2019, com queda de 68% na demanda de dezembro. A entidade aponta que a recuperação não ocorreu devido aos novos surtos de covid-19 e restrições de viagens impostas pelos governos, incluindo o fechamento de fronteiras e medidas de quarentena.

"O quarto trimestre de 2020 será extremamente difícil, com poucos indícios de melhoria significativa no primeiro semestre de 2021 enquanto as fronteiras continuarem fechadas e/ou medidas de quarentena na chegada ao destino permanecerem em vigor”, alertou de Juniac

A IATA reforçou seu apelo aos governos pedindo medidas de alívio financeiro para que as companhias aéreas evitem demissões em massa. Outro pedido tem sido a realização de testes de covid-19 antes do embarque para que as fronteiras sejam abertas, permitindo viagens sem quarentena, considerado um dos maiores entraves para viajantes em todo o mundo.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 29/10/2020, às 15h00 - Atualizado às 16h41


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