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Como pousar em uma pista com ventos fortes?

Apresentamos as duas técnicas mais usadas por pilotos de aviões para pousar em pistas com ventos fortes e rajadas


Conheça as duas técnicas mais usadas por pilotos de aviões para pousar em aeroportos com incidência de ventos fortes - FAA Airplane Flying Handbook
Conheça as duas técnicas mais usadas por pilotos de aviões para pousar em aeroportos com incidência de ventos fortes - FAA Airplane Flying Handbook

Realizar um pouso suave e seguro é fundamental para qualquer piloto. Tocar o solo com uma aeronave em condições de baixa temperatura, alta pressão e vento alinhado com a pista é uma tarefa relativamente simples, uma vez que é exaustivamente treinado desde as primeiras aulas de instrução de voo.

Todavia, realizar a mesma tarefa em um cenário com vento vindo obliquamente ou até mesmo na perpendicular (soprando em uma direção que forme 90° com a pista) é assaz desafiador. Isso porque a aeronave assumirá a tendência natural de sair da pista, desviando do seu eixo para o lado oposto de onde o ar está soprando. 

Esse tipo de pouso desalinhado traz inúmeros prejuízos. Tocar o pavimento com o eixo longitudinal do avião em um ângulo muito grande em relação ao eixo da pista (center-line), poderá gerar danos nas borrachas dos pneus, tração assimétrica ou carga excessiva em uma  nas pernas do trem de pouso, possibilidade de uma excursão de pista lateral (conhecida como veer-off), etc.

A seguir, vamos descrever as duas principais técnicas para executar um crosswind landing (ou pouso com vento cruzado), que ajudarão a reduzir a tendência natural da aeronave de aproar o vento, desalinhando-o com o eixo da pista ou mesmo quando, pela intensidade do ar soprado, o avião saia da pista no exato momento do toque sobre o pavimento, principalmente em aeroportos que estão sobre incidência de vento de rajada. 

Tais técnicas são largamente treinadas em voos de instrução, especialmente durante o curso de Piloto Privado de avião e fundamentais para as situações de ventos cruzados nos voos do dia a dia.

Aproximação Caranguejada

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FAA - Airplane Flying Handbook

A Aproximação Caranguejada (Crab Approach) é uma manobra que pode ser executada com ventos fortes, muito úteis em aviões com as asas montadas na parte mais baixa da fuselagem. 

Nela, o avião voa na aproximação final com o nariz apontado em direção do vento para evitar desvio lateral da linha central da pista. O nome se dá pela forma que a aeronave aproxima a pista, de lado, semelhante ao andar de um caranguejo. 

Para realizá-la, em voos de instrução, costumo ensinar ao aluno-piloto a identificar de onde vem o vento e manter o nariz aproando o vento, mantendo as asas niveladas com os ailerons e o leme corrigindo a trajetória lateral, até o momento da flare (toque na pista) e, pouco antes de fazê-lo, aplicar o pedal do leme para alinhar o nariz do avião com a centerline, dosando-o conforme a intensidade das rajadas de ar. 

Essa é uma das técnicas mais usadas por aviões a jato, uma vez que se o piloto optar por uma aproximação glissada, a aeronave pode aproximar-se com uma razão de descida e velocidades acima das ideais para uma aproximação estabilizada (stabilized approach), além do pouco espaço entre o pavimento e a ponta de asa (ou motor) na hora do arredondamento para o toque.

Aproximação glissada

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FAA - Airplane Flying Handbook

Essa é uma das técnicas mais úteis para aeronaves leves e com asas altas. Nessa técnica, o piloto usa o leme para alinhar o nariz da aeronave com a pista e os ailerons para corrigir a deriva lateral, mantendo o alinhamento desde a aproximação final até o pouso. Isso resulta em uma aproximação mais firme quando as rajadas de ventos estão mais intensas.

Por envolver o uso simultâneo de controles opostos (leme e ailerons), essa técnica pode parecer confusa no início. Para facilitar o aprendizado, em voos de instrução, eu normalmente divido a manobra em três partes distintas.

Primeiro, oriento o aluno a identificar de onde o vento vem e baixar o nariz do avião para que a linha do horizonte fique ligeiramente acima do capô do motor do avião, aumentando, assim, o ângulo de ataque da asa, prevenindo um possível estol à baixa altura. 

Segundo, baixa-se a asa para o lado de onde vem o vento. Isso é importante para que a corrente de ar mais forte não empurre o avião para fora do eixo da pista. Terceiro, e quase simultaneamente, aplica-se leme contrário, ou seja, para o lado oposto (exemplo: se baixou a asa esquerda com o aileron, aplica-se o pedal direito), a fim de evitar que, com a asa abaixada, o avião comece a executar uma curva para o lado da asa mais baixa. 

Normalmente, com o vento mais forte, essa técnica deve ser executada aplicando-se o pedal até o final de seu curso, e ir “dosando”, ou seja, diminuindo ou aumentando a pressão nesse pedal a fim de manter a trajetória do voo (ou o eixo longitudinal) alinhado com o eixo da pista (center-line)   

Uma forma que costumo aplicar com os alunos e bastante eficaz é realizar uma aproximação baixa sem tocar na pista, até a plataforma (flare), o que permite ao aluno-piloto aperfeiçoar o controle do leme e dos ailerons. Com o tempo, essa combinação de controles se torna natural, permitindo pousos precisos com a técnica glissada.

Além dessas duas, há uma terceira que é a combinação de ambas, onde o piloto aproxima-se da pista glissando e, na curta-final, troca-se a manobra pela caranguejada, para que as asas estejam niveladas na hora do touchdown.  

É conveniente lembrar que em aproximações que iniciem glissadas um fator importante a considerar é que a aproximação normalmente inicia-se com uma altura da pista mais alta, imprimindo uma razão de descida bem mais acentuada, o que é desaconselhada em aviões a jato ou que possuam análises de performance de pouso mais criteriosos.

Por Micael Rocha
Publicado em 19/10/2024, às 09h00


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