Guerra comercial avança e Pequim amplia pressão sobre empresas norte-americanas
Situação é confortável para a China graças a redução da demanda causada pela pandemia e problemática para a Boeing
O jornal chinês Global Times afirmou que Pequim poderá cancelar uma série de pedidos e acordos formalizados com a indústria dos Estados Unidos, incluindo a Boeing, como maneira de pressionar a Casa Branca na atual guerra comercial entre os dois países.
O jornal que é a versão inglesa do jornal Diário do Povo do Partido Comunista Chinês, é utilizado como um porta-voz do governo da China, comentando questões internacionais de uma perspectiva nacionalista. Os temas tratados pelo periódico são uma mostra dos planos de Pequim, o que ampliou as preocupações do mercado em relação ao futuro das encomendas da Boeing.
Horas após o texto ser publicado as ações da Boeing foram negociadas em queda nesta sexta-feira (15), registrando baixa no início do pregam na ordem de 2,5% sendo negociadas a US$ 119,44. O declínio das ações da Boeing no acumulado do ano é de aproximadamente 64%. Um dos temores do mercado é a ameaça da China cancelar todos os pedidos da Boeing, pressionando o fabricante justamente em um momento de grave crise interna, agravada pela pandemia da COVID-19.
A intenção do governo chinês é pressionar a Casa Branca, através de uma tensão no mercado internacional, visando evitar um provável bloqueio norte-americano as remessas de semicondutores (processadores) para a empresa Huawei, que é o centro de uma disputa comercial e estratégica entre os dois países.
Recentemente banco chinês cancelou pedido para 29 aviões da família 737 MAX
O Global Times afirma que o governo do presidente Xi Jinping poderá incluir as empresas dos Estados Unidos em uma "lista de entidades não confiáveis", iniciando investigações unilaterais e impondo restrições a empresas, com destaque para a Apple, Cisco System e Boeing. No caso da gigante aeroespacial, o texto destaca que uma das propostas é cancelar a totalidade de encomendas de aviões comerciais por parte das companhias aéreas chinesas.
"Para retaliar a proibição comercial da Huawei nos Estados Unidos, a China pode potencialmente anular todas as suas ordens atuais junto a Boeing, mesmo que isso signifique que algumas empresas chinesas tenham que pagar pelos danos liquidados", escreveu o jornal.
Em abril a China Development Bank Financial Leasing cancelou um pedido de 737 MAX, que incluía 29 aviões, ampliando a pressão sobre a carteira de pedidos da Boeing. Além disso, a China trabalha na certificação do Comac 919, que compete diretamente com a família 737 MAX. Ainda que a estratégia não seja conquistar o mercado internacional, apenas atender a demanda doméstica chinesa, o potencial de venda é superior aos 3.000 aviões, ampliando a dificuldade da Boeing no país.
A situação é relativamente confortável para a China, dentro do atual cenário de redução da demanda por viagens aéreas, ao mesmo tempo que representa um forte impacto para a Boeing que acumula problemas que vão da recertificação do 737 MAX a crise gerada pelo novo coronavírus, que ironicamente teve sua origem na China.
A guerra comercial avança para uma série de acusações mutuas. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos pretende restringir o acesso da Huawei às tecnologias de semicondurores avançados. A gigante de telecomunicações chinesa é uma das líderes na aplicação e implementação de tecnologia 5G no mundo, mas a Casa Branca acusa a empresa espionar companhias ocidentais e cidadãos, entre outros argumentando que a transparência em seus termos de uso é bastante vago. Além disso, a Huawei tem disputado diversos contratos globais para a tecnologia de quinta geração de internet, inclusive no Brasil.
A China por sua vez afirma que Washington continua a criticar o país pelo do surto de coronavírus e que vem incentivando de maneira ilegítima as empresas norte-americanas de reestabelecerem suas cadeias de suprimentos nos Estados Unidos.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 15/05/2020, às 13h50 - Atualizado às 14h29
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