MiG-29 soviéticos pousaram em base do Alasca durante a Guerra Fria
Enquanto a crise avançava no Bloco Soviético, o mundo ainda temia uma nova guerra mundial, mas agora com risco nuclear. Desde o final da Segunda Guerra a ameaça de um conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética, as duas grandes superpotências militares, era uma realidade.
O ano era 1989 e, apesar de ser o último ano da Guerra Fria, o temor de um golpe de Estado em Moscou ou um colapso no governo assustava os líderes ocidentais. No domingo, dia 1 de agosto, dois caças MiG-29 Fulcrum adentram no espaço aéreo norte-americano, precisamente sob o estado do Alasca, e alertam a defesa aérea.
A invasão temporária de caças soviéticos no espaço aéreo do Alasca não era uma novidade, eventualmente, em um exercício ou manobra militar, os aviões ultrapassavam por alguns instantes o limite internacional e ingressavam no espaço aéreo dos EUA.
Ainda assim, como resposta dois caças de superioridade aérea F-15E Eagle partiram para o encontro dos aviões soviéticos em um cenário típico de interceptação daquela época. O único risco era um épico ‘Dogfight’, ou seja, o enfrentamento entre dois dos caças mais famosos e temidos de cada lado da Cortina de Ferro.
Mas essa história é diferente, criando um novo momento de parceria entre Moscou e Washington, algo que duraria até meados de 2014, quando as relações entre ambos os governos ficou abalada.
Os MiG-29 soviéticos não apenas entraram no espaço aéreo norte-americano, mas também pousaram na base aérea de Elmendorf, no Alasca, para reabastecimento e depois prosseguiram para o Canadá.
Os aviões estavam indo para o Abbotsford International Air Show, em Vancouver, no Canadá. A escolha do Alasca foi deliberada, pois mostrava uma nova perspectiva de amizade entre duas potências rivais e ainda era o melhor ponto para uma escala técnica. Tudo já estava preparado, inclusive os F-15 foram ao encontro, não para interceptar, mas sim acompanhar os MiG-29 até a base aérea.
Em solo norte-americano os militares e a imprensa aguardam os caças soviéticos. Até então era um fato inédito caças da União Soviética chegarem aos Estados Unidos sem estarem desertando ou na pior das hipoteses, sem ser um ataque real. O fato rendeu muitas histórias e notícias na época.
A permanência em solo foi de aproximadamente quatro horas e, após entrevistas, fotos e almoço, os caças partiram rumo ao Canadá novamente escoltados pelos F-15.
Ao adentrar no espaço aéreo canadense, as aeronaves receberam a escolta de caças CF-18 Hornet do Canadá.
Os caças vindos da União Soviética não estavam aramados, nem mesmo eram oficialmente da Força Aérea. Eram do fabricante, que pretendia iniciar uma campanha internacional de vendas do MiG-29, agora dentro de uma nova visão de mercado. Era um reflexo da abertura soviética, dentro da famosa perestroika.
Seus pilotos eram civis e iriam fazer demonstrações, visando vendas no importante airshow canadense.
Não bastando a presença de caças MiG-29 nos Estados Unidos, a base aérea de Elmenford também recebeu o gigante Antonov 225 Myria, que também seria exposto no show aéreo do país vizinho.
A presença do gigante soviético no Alasca chamou a atenção de muitos, principalmente dpor ser o maior avião do mundo em atividade. O modelo tinha poucos meses de serviço e já despertava admiração e curiosidade.
A presença dos aviões soviéticos chamou a atenção da imprensa, que cobriu a chegada dos aviões. O AP News fez uma das coberturas dessa inusitada vista.
″Fomos recebidos por excelentes aeronaves e excelentes pilotos″, disse Anotoly Kvochur, um piloto do Mikoyan Test Bureau que fazia os voos de demonstração dos MiG-29 em shows aéreos.
″Esta é a primeira vez desde 1945 que caças soviéticos sobrevoaram o espaço aéreo do Alasca″, disse o tenente-general Thomas McInerney, comandante do Comando Aéreo do Alasca.
“É um avião bonito. Eu me senti um pouco como você quando tem convidados em sua casa. Você quer fazer com que eles se sintam confortáveis, você os ajuda”, disse Richard Armstrong, um dos pilotos de caça F-15 Eagle.
Após 33 anos do histórico encontro as relações política e diplomáticas entre a Rússia, herdeira da União Soviética, e os Estados Unidos não permitem que essa cena seja repetida. Possivelmente um encontro entre MiG-29 e F-15E levaria a um enfrentamento real. Um forte revés nas relações entre duas grandes nações.
Por André Magalhães
Publicado em 22/03/2022, às 11h11
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