Autoridades da Indonésia e do Reino Unido investigam a Bombardier em suposto esquema de corrupção na venda de aviões comerciais
A Bombardier é acusada de corrupção durante a negociação de aeronaves para a Garuda, a principal companhia aérea da Indonésia. As autoridades do Reino Unido e da Indonésia investigam a compra de seis aviões regionais CRJ1000, em fevereiro de 2012, com opção por outros dezoito.
Um inquérito das autoridades da Indonésia aponta que ao menos cinco pessoas estavam envolvidas no esquema de corrupção de venda de aviões. A justiça indonésia condenou um dos envolvidos e nomeou outros quatro suspeitos no caso.
A investigação indonésia ocorre em paralelo a conduzida do Serious Fraud Office, o órgão anticorrupção do Reino Unido, que trabalha para descobrir como os executivos da Bombardier agiram para viabilizar a venda de aviões comerciais em alguns mercados do mundo.
Embora o fabricante canadense não atue mais no segmento comercial há vários anos, o inquérito analisa uma série de contratos anteriores e que podem ter envolvido diversos crimes, como corrupção, suborno, lavagem de dinheiro, entre outros.
A investigação contra a Bombardier ocorre na sequência da revelação de um grande esquema envolvendo executivos da Airbus, que foram acusados de uma série de crimes de suborno e corrupção durante a venda de aeronaves em vários países do mundo, e que em 2020 levou a um acordo de € 3,6 bilhões com autoridades do Reino Unido, França e Estados Unidos.
Porém, o andamento das investigações contra a Bombardier na Indonésia esbarra justamente no desfecho do caso da Airbus. As autoridades da Indonésia buscam garantias do Reino Unido para poder receber qualquer parte de um acordo financeiro futuro envolvendo o fabricante canadense. Pois, durante o processo contra a Airbus, a Indonésia enviou aos britânicos uma série de documentos comprovando que também foi vítima do esquema. Na ocasião os indonésios conseguiram comprovar que executivos da Garuda, que é controlada pelo Estado, receberam grandes quantias de dinheiro do fabricante europeu. Todavia, em 2020 após a Airbus aceitar acordo bilionário a Indonésia não foi beneficiada e não recebeu nenhum ressarcimento.
Na ocasião, Cahyo Muzhar, diretor-geral de assuntos administrativos jurídicos do Ministério da Justiça e Direitos Humanos da Indonésia, disse que “estava muito infeliz” pelo país não ter sido contemplado no acordo, deixando de receber importantes recursos para compensar as perdas geradas pelos subornos dos executivos da Garuda. O “Reino Unido não sofreu perdas financeiras. A Indonésia sofreu uma perda financeira”, disse Muzhar em entrevista ao jornal britânico Financial Times
A investigação indonésia ajudou as autoridades ocidentais a descobrir as propinas, e ainda resultou em várias condenações, incluindo Emirsyah Satar, ex-presidente-executivo da Garuda.
Visando garantias de ser indenizada, em um eventual entre os britânicos e a Bombardier, a Indonésia ainda não entregou nenhuma das provas reunidas em sua própria investigação e deseja antes formalizar que terá seu papel na descoberta de irregularidades reconhecido.
Segundo o Financial Times, a Indonésia enviou duas cartas ao Reino Unido pedindo € 991 milhões do acordo de € 3,6 bilhões alcançado com a Airbus. O argumento é que as evidências enviadas ao Serious Fraud Office foram terminantes para a condenação do fabricante europeu no esquema global de suborno.
Por ora, as autoridades do Reino Unido ainda não responderam aos pedidos dos colegas da Indonésia.
Redação
Publicado em 28/02/2023, às 15h35
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