Há quinze anos os bombardeiros russos Tu-160 voaram próximos do litoral do Brasil
Dois voos recentes com o WC-135R na costa brasileira foram o assunto da semana na comunidade aeronáutica. Porém, esse não é um caso isolado e nem feito apenas pelos Estados Unidos. Em 2008, os bombardeiros russos Tu-160 Blackjack, que tem capacidade de ataque nuclear, passaram próximo do Brasil em uma viagem com destino à Venezuela.
Na ocasião o evento marcava a aliança estratégica de Caracas e Moscou, em claro sinal de enfrentamento a seus oponentes na região, e ainda reforçava os laços de amizade entre ambos os países.
O deslocamento ocorreu no 10 de setembro de 2008, quando dois Tu-160, na companhia de um Antonov An-124 Ruslan, que atuou como avião-tanque, e um Ilyushin Il-62, voaram sem escalas da Rússia até a base aérea de El Liberador, próximo de Caracas, em um voo que durou mais de treze horas.
No dia seguinte, as aeronaves russas realizaram voos sobre águas internacionais, iniciando uma missão de treinamento conjunto com os venezuelanos na região do Caribe. Todavia, no segundo voo os bombardeiros Tu-160 voaram próximos da costa brasileira, em uma rota considerada pouco usual e distante dos limites de fronteira da Venezuela com o Brasil.
O voo que fazia parte de uma visita de boa vontade entre a Rússia e a Venezuela não despertou atenção das autoridades brasileiras. O então presidente venezuelano Hugo Chavéz, comemorou a presença dos bombardeiros no país e destacou a importância da missão para os interesses do governo. “Graças à cooperação estratégica com a Rússia e à chegada dos aviões [Tu-160] em solo venezuelano, faremos missões sobre o Caribe hoje e nos próximos dias, [assim] seremos informados deaté mesmo os menores movimentos da 4ª Frota [da Marinha dos EUA]", salientou Chavéz.
O presidente Hugo Chávez, que mantinha uma turbulenta relação com os Estados Unidos, mostrou entusiasmado com a visita dos bombardeiros russos.“Vocês chegaram a uma nação irmã, a um povo que aprecia a Rússia e sua bravura”, disse.
Apesar da capacidade de transportar armas nucleares, as aeronaves não estavam com mísseis ou bombas atômicas abordo. A missão foi considerada de grande importância para a força aérea russa, já que foi a primeira viagem de longa duração realizada pelos Tu-160, que jamais haviam voado para além da França, quando participaram do Paris Air Show, em 1995, apenas três anos após a dissolução da União Soviética e em um momento conturbado na Rússia.
O voo dos bombardeiros entre a Rússia e a Venezuela observado com atenção pelos países da Otan, com os Tu-160 sendo acompanhados pelos F-16 noruegueses e na sequência por F-16 dos EUA baseados na Islândia.
Este fato, ocorrido há quinze anos, lembra os recentes voos do WC-135R, "farejador nuclear", perto da costa brasileira.
O avião norte-americano partiu de Porto Rico voando rumo ao sul, mantendo o limite da costa brasileira, voando além das 12 milhas náuticas, região considerada espaço aéreo internacional e que não exige nenhum tipo de autorização formal.
O objetivo da missão, segundo a força aérea norte-americana (USAF, na sigla em inglês) era coletar amostras primárias para estabelecer os níveis padrão de radiação atmosférica.
Por André Magalhães
Publicado em 25/01/2023, às 16h25
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