Mudança no transponder permitiu um RC-135W ser identificado como uma aeronave comercial baseada na Malásia
O RC-135W é uma aeronave de reconhecimento eletrônico dos Estados Unidos
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Supostamente um avião de espionagem da força aérea dos Estados Unidos (USAF) voou na costa chinesa se passando por um voo comercial da Malásia. O objetivo foi tornar a missão mais discreta a defesa aérea da China.
Ao se aproximar da ilha de Hainan, território chinês, o RC-135W da USAF mudou seu código transporte para um utilizado por uma aeronave comercial, passando a ser identificado como um voo procedente da Malásia. O ‘truque’ permitiu o avião de reconhecimento se aproximar até 55 milhas (101 km) do território da China, sem despertar suspeitas.
As aeronaves militares e civis utilizam sistemas de identificação diferentes no transponder, equipamento que ajuda a reconhecer a aeronaves nas telas dos radares. Ainda que voos militares em missão real de reconhecimento tentem não serem descobertas, não é usual a mudança para o modo civil.
Monitoramento mostra RC-135W em rota para a costa chinesa ainda identificado como uma aeronave militar
A aviação civil utiliza o chamado Modo-S do transponder, uma identificação eletrônica de 24 bits que é utilizado de forma individual por todas as aeronaves civis. O sistema é atribuído seguindo uma normativa da ICAO, a Organização de Aviação Civil Internacional, órgão internacional que é responsável por coordenar e estabelecer regras para a aviação.
O RC-135W decolou da base aérea norte-americana em Kadena, na ilha de Okinawa, no Japão e voou para sudoeste, passando por Taiwan, até se aproximar da ilha de Hainan. Poucos minutos antes do território chinês o avião mudou seu transponder do código militar AE01CE para 750548, um registro pertencente a uma aeronave civil registrada na Malásia, mas desconhecida pelas autoridades locais.
Já com identificação civil o avião de espionagem dos Estados Unidos passa a voar próximo da fronteira da China
A informação foi compartilhada no twitter pela organização chinesa South China Sea Probing Initiative (SCSPI), que afirma se tratar de uma organização que promove a transparência, paz e cooperação no Mar do Sul da China. Embora seja uma organização civil, sabe-se que ela conta com diversos membros das forças armadas chinesas, sendo considera por analistas dos Estados Unidos como uma estratégia de Pequim para promover seus interesses na região.
A força aérea dos Estados Unidos não comentou a mudança no código transponder, nem mesmo confirmou se o RC-135W estava voando na região. A aeronave é utilizada pelos militares norte-americanos para obter uma série de dados de inteligência, especialmente de sinais magnéticos e informações eletrônicas.
O voo do avião ocorreu em uma área de disputa internacional, próximo ao arquipélago de Paracel, reivindicado pela China, mas não reconhecido internacionalmente.
Alguns analistas acreditam que a artimanha adotada pelos Estados Unidos pode comprometer a segurança do transporte aéreo, já que o código inserido no transponder e que identifica individualmente aeronaves civis não pode ser alterado. O uso de identificação civil em um voo militar em missão real pode tornar pouco confiável para as defesas aéreas a informação de que se trata realmente de um voo comercial, permitindo abrir brechas para casos extremos de um avião de passageiros ser abatido acidentalmente.
O curioso é que o RC-135W não teria em momento algum invadido o espaço aéreo da China, mantendo o voo estritamente no espaço aéreo internacional. Um perfil que não exigiria qualquer mudança no transponder, pois a aeronave já estava sob proteção de leis internacionais.
Imagens da SCSPI mostram que em momento algum o RC-135W ingressou em espaço aéreo chinês
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 14/09/2020, às 14h00 - Atualizado em 15/09/2020, às 19h39
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