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Asas para as HQs

A história da aviação nos quadrinhos

Pilotos e aeronaves foram fonte de inspiração para cartunistas criarem icônicas HQ


Há quase 100 anos os quadrinhos se inspiram na aviação e cartunistas criaram grandes histórias
Há quase 100 anos os quadrinhos se inspiram na aviação e cartunistas criaram grandes histórias

A aviação já habitava o imaginário popular antes mesmo dos primeiros voos dos chamados “mais pesado do que o ar”, no início do século 20. Passados 120 anos dos primeiros voos, as máquinas voadoras ainda encantam, exalando magia por onde passam.

Não por acaso são inspiração para artistas de diferentes vertentes. Entre eles estão os cartunistas que, desde sempre, eternizam pilotos e aeronaves em eletrizantes quadrinhos, com histórias que acompanham o desenvolvimento das tecnologias aeroespaciais.

Lançado em 1923, um dos primeiros títulos a ganhar as gráficas foi Tailspin Tommy, de Glen Chaffin, com ilustrações de Hal Forrest. Nos anos seguintes, surgiram diversos outros quadrinhos, como Ace Drummont, criado por Eddie Rickenbacker e ilustrado do Clayton Knight, de 1933, quando os aviões se tornavam poderosas máquinas tanto de transporte como de guerra. Por vários anos, a aviação se manteve como um tema relativamente comum no mercado dos comic books, chegando até o espaço, como na saga SkyMasters, de Jack Kirby e Wallace Wood.

Mais recentemente, algumas histórias retomaram o espírito da aviação nos quadrinhos, como The Aviator, de Jean-Charles Kraehn, com desenhos de Millien Chrys e Arnoux Erik. Nesta reportagem especial, prestamos uma homenagem aos cartunistas da aviação, listando algumas histórias icônicas.

Sem a pretensão de determinar as mais importantes, perpassamos brevemente por um mundo de fantasia onde a aviação esteve sempre presente, em diferentes décadas do século 20 e dos tempos atuais.

Tailspin Tommy (1928-1942)

Com o sucesso das notícias sobre o voo solitário de Charles Lindbergh, que, em 1927, cruzou o Atlântico Norte sem escalas, o mercado editorial viu o potencial da aviação como entretenimento. Tailspin Tommy veio na esteira desse sucesso nos Estados Unidos, sendo lançada em 1928, contando as aventuras do jovem piloto Tommy Tomkins. Com uma narrativa inspirada nas aventuras clássicas, a história foi sucesso e durou 14 anos, com a última revista sendo lançada em março de 1942, já em plena Segunda Guerra.

Skyroads (1929-1942)

A reboque do bem-sucedido Tailspin Tommy, os pioneiros da aviação Lester J. Maitland e Dick Calkins, este último tenente-aviador do exército dos Estados Unidos, lançaram Skyroad, em maio de 1929. Um dos destaques da saga era a ausência de um personagem central, deixando a aviação brilhar como tema principal. Uma série de personagens interagiu dentro do ambiente da aviação ao longo de treze anos. Inicialmente, surgiram Ace Ames e Buster Evans, sócios da empresa de transporte aéreo Skyroads Unlimited. Mas novos personagens e situações davam o tom das histórias. Os autores originais ficaram na Skyroad até 1933, quando novos roteiristas e desenhistas assumiram a revista, como Russell Keaton e posteriormente Leonard Dworkins.

Scorchy Smith (1930-1961)

O protagonista que empresta seu nome a esta HQ estreou em março de 1930 como um piloto de aluguel que percorria as Américas lutando contra criminosos e, lógico, ajudando belas moças em perigo. O desenhista John Terry fez a estreia de Scorchy Smith na AP Newsfeatures, mas ficou pouco tempo à frente da história, falecendo três anos depois, de tuberculose. Na sequência, Noel Sickles assumiu a produção, mantendo o tema aventureiro das séries e filmes de ação daquela época. Com uma publicação que chegou até dezembro de 1961, Scorchy teve tempo de acompanhar a evolução das histórias, tornando-se, logo, o herói que viajava o mundo lutando contra ameaças estrangeiras e espiões.

The Adventures of Smilin Jack (1933-1973)

O mercado editorial norte-americano estava em alta e os títulos de aviação cresciam conforme novos feitos reais se tornavam destaques no mundo. Era um período de grande avanço do transporte aéreo diante da consolidação da Pan American, do surgimento do Douglas DC-3 e do voo solo de Amelia Earhart pelo Atlântico. The Adventures of Smilin Jack surgiu justamente neste momento de aventuras e avanços, tendo sua primeira história publicada em outubro de 1933, no Chicago Tribune. O criador Zack Mosley, que já havia trabalhado em Skyroads, era entusiastas da aviação e membro de entidades como Aircraft Owners and Pilots Association (AOPA), Aviation-Space Writers Association e Silver Wings Society. Originalmente intitulada On the Wing, a história foi rebatizada por exigência do editor do Chigado Tribune, que não gostava do nome. The Adventures of Smilin Jack teve seu herói Jack Martin inspirado na aparência do piloto de acrobacia Roscoe Turner, um ícone da época. A história fez tanto sucesso que a última tira foi publicada em 1 de abril de 1973, exatos 40 anos depois de sua estreia.

Flyin’Jenny (1939-1946)

Mais um entre as histórias pioneiras, Flyin’Jenny, criada pelo ilustrador Russell Keaton, surgiu em outubro de 1939, no início da Segunda Guerra, ganhando notoriedade justamente por retratar o ambiente belicoso e de desenvolvimento daqueles anos. Mas o roteiro se destacava duplamente. Primeiro por ter como personagem central a aviadora Jenny Dare e, segundo, por ela ser piloto de testes da fictícia Starcarft Aviation Factory. Ao longo da trama, a aviadora enfrentou espiões, sabotadores e criminosos, além de se envolver no próprio conflito. Com toda a trama ambientada na guerra, o que se somou à morte de Keaton em 1945, os editores não conseguiram reinventar a história e a última edição foi lançada em 1946.

Terry and the Pirates (1934-1973)

Uma das histórias mais originais dos anos 1930 foi Terry And The Pirates, criada pelo cartunista Milton Caniff e lançada em outubro de 1934. A história inicialmente narrava a aventura do jovem piloto Terry Lee, que viajou até a China com seu amigo, o jornalista Pat Ryan. Embora mantivesse o clichê da visão ocidental sobre a China nos anos 1930, a história envolvia disputa com piratas locais, algo relativamente comum naqueles anos. Com a Segunda Guerra, a história aproveitou o conflito para se atualizar e ainda promoveu um tema audacioso para a época. Em plena década de 1940, a espião Sanjak foi inserida como lésbica. A história se manteve atualizada conforme o mundo e a aviação se desenvolviam, chegando com relativo sucesso até fevereiro de 1973. Em 1946, Caniff venceu o prêmio de “Cartunista do Ano”, da National Cartoonists Society, por seu trabalho em Terry and the Pirates.

Bruce Gentry (1945-1951)

Foi considerado um dos desenhos mais belos de seu tempo, com Ray Bailey tendo sido elogiado por sua técnica lapidar e seus traços extremamente técnicos. A história de Bruce Gentry, que surgiu em março de 1945, teve inspiração no trabalho de Terry And The Pirates – Bailey havia sido assistente de Caniff. A história girava em torno de Bruce Gentry, um ex-piloto da força aérea que trabalhava em uma recém-criada empresa aérea sul-americana. A temática buscava atualizar as HQ com a realidade de muitos aviadores e da própria indústria de transporte aéreo. Lógico, com um ar aventureiro, com Gentry desafiando criminosos e grandes vilões. Logo, o personagem viajou o mundo, mas seu final aconteceu em 1951, quando Gentry se casou com a namorada Cleo Patric. Digamos, bem realista para aqueles tempos.

Les Aventures de Tanguy et Laverdure (1959-1971*)

* houve um relançamento em 2002

A Guerra Fria trouxe a geopolítico para uma série de quadrinhos, aproveitando o momento e expandindo a propaganda de guerra em diversas frentes. Nos anos 1950, muitos filmes, revistas e músicas tinham como pano de fundo a disputa silenciosa entre os Estados Unidos e a então União Soviética (URSS). E o fenômeno não demorou para chegar à Europa. Criada por Jean-Michel Charlier e Albert Uderzo, Les Aventures de Tanguy et Laverdure é uma série sobre dois pilotos da força aérea francesa, Michel Tanguy e Ernest Laverdure. Essa HQ franco-belga ajudou a popularizar o tema aviação no Velho Continente, em especial na França e na Bélgica, o que perdura até os dias de hoje. O sucesso foi tamanho que inspirou o seriado Les Chevaliers du Ciel (Os Cavaleiros do Ar), exibido entre 1967 e 1969. A primeira edição foi lançada em outubro de 1959, sendo publicada até 1971. Mas a saga dos pilotos foi transferida para a revista Tintim em 1973 e passou por outras publicações antes de ser relançada por novos autores em 2002. Mais recentemente, em 2005, foi lançado o filme de mesmo nome, inspirado na temática da série e dos quadrinhos.

Dan Cooper (1954-2010)

O nome desta HQ remete ao famoso caso do sequestro do Boeing 727, quando um criminoso saltou de paraquedas do avião com uma pequena fortuna. O que se especula é que Dan Cooper, o criminoso, tenha se inspirado justamente no personagem de Les Aventures de Dan Cooper, uma série franco-belga sobre um às canadense e piloto de uma fictícia força espacial, para criar uma identidade falsa. Dan Cooper foi uma resposta do desenhista e roteirista Albert Weinberg ao sucesso de Tintim, o ilustre protagonista de As Aventuras de Tintim, sendo lançada em 1954. Inicialmente, a série exibia um ar futurista, como voos em um foguete para uma lua em Marte. Com o passar dos anos, tornou-se mais verossímil, buscando temas realistas. A série foi publicada até pouco antes da morte de Weinberg, em 2011. Faz grande sucesso até os dias de hoje.

Buck Danny (1947-2022)

Outra série franco-belga que é reeditada até os dias de hoje. Buck Danny foi lançada em janeiro de 1947, sendo reconhecida por seu realismo técnico, com descrições bastante coerentes do universo militar. Criada originalmente por Jean-Michel Charlier, com desenhos de Victor Hubinon, a história abordava os conflitos dos Estados Unidos no Pacífico, em seguida, entre 1950 e 1953, passando para os Flying Tigers e pirataria, a Guerra Fria até meados de 1979, e mantendo temas sempre atualizados com o contexto geopolítico e militar. Usualmente, a história tem como pano de fundo a Marinha e a Força Aérea dos Estados Unidos, aproveitando diversos momentos para estruturar o enredo, que já inclui óvnis, fim da União Soviética, terrorismo, ameaças atômicas, entre outros.

Titanium Rain (2008-2022)

Uma das séries mais recentes, Titatium Rain foi lançada em 2008 pela norte-americana Archaia Entertainment. Com desenhos hiper-realistas, a história tem como mote uma guerra civil que eclodiu na China em 1931. A série é escrita por Josh Finney, com arte de Josh Finney e Kat Rocha, e explora o avanço do conflito para uma guerra global. A história mostra o piloto Alec Killian, da força aérea dos Estados Unidos, que voa no 704º Esquadrão de Caça Tático Phoenix, baseado na Ilha de Hainan.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 24/08/2023, às 17h00


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