Ucrânia vendeu para a Rússia os bombardeiros usados contra ela mesma

Na década de 1990 a Ucrânia aceitou vender seus bombardeiros Tu-160 para a Rússia

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 10/04/2022, às 16h26

Parte da frota de Tu-160 usados contra a Ucrânia já pertenceu a força aérea do país - Força Aérea da Rússia

A Força Aérea da Rússia tem empregado diversos aviões em suas missões de ataque contra a Ucrânia, entre eles o bombardeiro Tupolev Tu-160. Possivelmente incluindo unidades que um dia pertenceram a própria força aérea da Ucrânia.

O Tu-160 foi desenvolvido na década de 1970 como uma resposta ao avanço do poderio aéreo norte-americano, sobretudo com o surgimento do programa do bombardeiro B-1A, que previa um bombardeiro pesado capaz de voa supersônico.

Se a força aérea dos Estados Unidos enfrentava alguns contratempos, inclusive políticos com o B-1A, os soviéticos optaram por não esperar para ver o desfecho do resultado e avançaram com seu novo bombardeiro supersônico. O avião teve um desenvolvimento relativamente tranquilo, considerando que seu primeiro voo ocorreu em 1981, já próximo do fim da União Soviética.

Nos anos 1990 a Ucrânia desmontou nove Tu-160 e vendeu os oito bombardeiros remanecentes para a Rússia

 

O Tu-160, chamado pela Otan de Blackjack, entrou em serviço em abril de 1987, pelo 184º Regimento de Bomabrdeiros Pesados, localizado em Pryluky, justamente na Ucrânia. A então República Soviética era um dos estados mais estratégicos do bloco, justificando assim sua grande capacidade militar, que incluía até mesmo um vasto arsenal nuclear. Os Tu-160 inclusive podiam atacar com armas atômicas.

Em agosto de 1991, apenas quatro anos após os bombardeiros serem declarados operacionais, a recém-independente Ucrânia, decretou que manteria o controle do arsenal que estivesse no país. A União Soviética decretaria seu fim em dezembro, iniciando assim um novo capítulo na diplomacia entre Moscou e Kiev.

Uma ironia do destino: Um dos Tu-160 pintados em homenagem ao piloto russo Vasily Reshetnikov ostenta faixas em amarelo e azul, coincidentemente as cores nacionais da Ucrânia.

Foi negociado que a Ucrânia devolveria o arsenal atômico, incluindo seus bombardeiros Tu-160. Com falta de recursos e uma economia próxima do colapso, a Ucrânia não tinha condições financeiras de manter uma poderosa linha de defesa. Dos dezenove bombardeiros Tu-160 no país, ao menos metade já não tinha condições de voo em meados de 1993.

O governo russo passou a negociar a compra dos aviões, tendo realizado uma série de inspeções na frota entre 1993 e 1996, quando chegaram ao veredito que as 19 aeronaves tinham boas condições gerais, podendo todas serem reformadas e alocadas em serviço. Assim a força aérea da Rússia fez uma oferta de 3 bilhões de dólares pelos bombardeiros, o que foi inicialmente aceito por Kiev.

O conturbado cenário político e econômico de ambos os países atrasou a formalização do acordo, levando a Ucrânia iniciar o desmantelamento do primeiro Tu-160 em abril de 1998, exatamente onze anos após receber o avião. Esse primeiro exemplar estava já parcialmente canibalizado e sua manutenção teria um custo elevado para o baixo orçamento militar do país. Ciente do risco dos vizinhos desmontarem a até então importante frota de Tu-160, a Rússia acelerou as negociações, chegando ao acordo que ficaria com oito aeronaves, que tinham boas condições de uso, em troca da quitação de uma parte da dívida pela compra de gás natural. O valor total pago por Moscou pelos aviões foi de 285 milhões de dólares, uma redução superior aos 90% do valor ofertado apenas três anos antes.

O primeiro Tu-160 deixou a Ucrânia em novembro de 1999, enquanto o último saiu do país em fevereiro de 2001. Ironicamente, esses mesmos aviões hoje são parte da força russa contra qualquer rival, sendo usado inclusive contra a Ucrânia.

A Rússia realizou uma série de melhorias e modernizações na frota de Tu-160, tendo atualmente ao menos dezessete unidades em serviço ativo, além de uma encomenda adicional para mais dez bombardeiros.

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