O Boeing 747-8 pode ser mais econômico que seu carro — entenda

Comparativo revela que o gigante dos céus surpreende em eficiência por passageiro frente a carros e trens em longas distâncias

Por Marcel Cardoso* Publicado em 24/06/2025, às 09h19

O 747-8 consome 11 toneladas de combustível por hora, mas sua eficiência por passageiro pode superar aos automóveis - Divulgação

Você sabia que um Boeing 747-8, em voo de cruzeiro, pode ser mais econômico por passageiro do que um carro popular rodando na estrada? O gigante quadrimotor consome, em média, 11,74 litros de combustível por quilômetro, mas quando se distribui o gasto pelos 410 passageiros a bordo, a eficiência chega a 24,7 km/l por ocupante — desempenho que supera o de muitos automóveis em viagens de longa distância. E mais: o avião rivaliza também com o transporte ferroviário, mostrando que na aviação moderna tamanho nem sempre significa desperdício.

O Boeing 747-8 consome, em média, o equivalente 11,74 litros de combustível por quilômetro ou percorre 0,06 km com um litro de querosene em um voo de cruzeiro, considerando uma configuração com 410 passageiros e alcance de 14.320 quilômetros. Em um voo típico de 10 horas, o consumo pode chegar a aproximadamente 150 mil litros de combustível. Total que considera o peso do avião, passageiros transportados, tripulação e carga.

Embora o índice absoluto pareça elevado em comparação a veículos terrestres, a eficiência melhora de forma significativa quando analisada por passageiro: são 24,7 km/l por ocupante. Já um automóvel popular 1.6 consome, em média, 45 litros de combustível para rodar 500 km, ou 22,5 litros por pessoa para percorrer apenas a distância média entre São Paulo e Rio de Janeiro (considerando um trajeto realista). Considerando uma distância de 10.000 km o valor é quase 18 vezes maior que o registrado por passageiro no 747-8 em voo de cruzeiro.

A locomotiva GE P42DC, da série Genesis, a mais popular no transporte ferroviário de passageiros nos Estados Unidos, tem um consumo por quilômetro de aproximadamente 5,87 litros. Em termos de eficiência por passageiro, a P42DC transportando 400 passageiros tem uma eficiência de cerca de 68 km/l por passageiro.

Por outro lado, a locomotiva elétrica Siemens ACS-64, utilizada pela Amtrak no corredor Nordeste dos Estados Unidos, consome em média 12 kWh por quilômetro em operação com um trem completo de 18 vagões e capacidade total para cerca de 1.000 passageiros. Considerando um hipotético trajeto ferroviário de 10.000 quilômetros e uma base equivalente de 400 passageiros, a ACS-64 consome cerca de 1.080 MJ/passageiro, enquanto o Boeing 747-8 atinge cerca de 13.150 MJ por passageiro na mesma distância — uma diferença de mais de 12 vezes em favor do trem elétrico.

Naturalmente, o perfil de operação — como velocidade, infraestrutura necessária, tempo de viagem e impacto ambiental efetivo — varia entre os modais, mas em termos puramente de consumo energético por passageiro e distância, o 747-8 apresenta uma eficiência surpreendente para um quadrimotor de grande porte.

Consumo em quilos por hora

Na aviação o consumo de combustível não é medido em litros, mas em quilos por hora. Em voo de cruzeiro, a partir da segunda hora, o 747-8 consome cerca de 11 mil quilos de combustível por hora — o equivalente a aproximadamente 4 litros por segundo.

Diversas variáveis afetam esse consumo:

Um estudo da Universidade de Tecnologia de Poznań (Polônia) apontou que um vento de cauda de 40 nós pode reduzir o consumo em até 14%, em comparação com ventos contrários de igual intensidade.

A evolução da eficiência na família Boeing 747

Ao longo de mais de cinquenta anos de operação, a linha 747 evoluiu de forma considerável em termos de eficiência no consumo de combustível. Os dados abaixo mostram o desempenho em voo de cruzeiro:

Apesar da eficiência relativa por passageiro, o Boeing 747-8 enfrenta desafios econômicos no cenário atual. Com apenas três operadores ativos na versão de passageiros, o 747-8 vê a demanda em declínio: segundo dados da Cirium, estão programados pouco mais de 10 mil voos em 2025 — número inferior aos 12 mil registrados no ano anterior. Atualmente existe 31 unidades do 747-8 na versão de passageiros em operação, além de seis BBJ747-8 e outros 89 cargueiros 747-8F.

Embora marque um capítulo importante na história da aviação, o 747-8 é pressionado por aeronaves bimotores mais modernas e eficientes, que oferecem consumo total ainda mais atrativos.

*Colaboraram Edmundo Ubiratan e Grace McPherson

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