Retomada da exigência de vistos para turistas dos EUA, Canadá, Japão e Australia pode comprometer o turismo e setor aéreo quer negociar com o governo brasileiro
O governo brasileiro voltou atrás e exigirá a emissão de vistos para viajantes dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália. O argumento do Itamaraty é que a medida, assinada em 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro, não elevou o número de turistas destes países e será retomada a exigência por causa do princípio da reciprocidade.
Todavia, fontes do setor de turismo pontuam que o turismo global foi duramente atingido pela pandemia, reduzindo quase totalmente as viagens internacionais por dois anos. Além disso, a exigência de visto reduz o interesse de viajantes no Brasil.
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A AERO Magazine teve acesso ao ofício assinado pelo setor aéreo e encaminhado as autoridades de Estado. O documento foi escrito em conjunto pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), a Aeroportos do Brasil (ABR), a Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA), a International Air Transport Association (IATA) e a Junta de Representantes das Companhias Aéreas Internacionais do Brasil (JURCAIB), enviado para a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e com cópia para os ministros Rui Costa (Casa Civil), Marcio França (Portos e Aeroportos) e ao presidente da Embratur, Marcelo Freixo e o presidente da Apex, Jorge Viana.
O ofício explica o histórico da evolução do turismo no mundo, que cresceu mais de 5.500% em 70 anos, movimentando em 2018 aproximadamente 1,4 bilhões de viajante em todo o mundo. O setor de turismo é um dos motores do desenvolvimento global, empregando um em cada dez empregos.
Um dos entraves ao turismo, de lazer e negócios, continua sendo as restrições burocráticas, como emissão de vistos. O custo, somado ao tempo necessário para emissão do documento, é apontado por muitos turistas como um dos principais entraves na hora de escolher um destino para viajar. De acordo com o IATA Global Passenger Survey 2022 pesquisa realizada anualmente com passageiros do transporte aéreo, o visto é citado como uma barreira efetiva às viagens quando dois de cada cinco turistas afirmaram se sentir desencorajados devido às exigências da imigração e 65% identificaram as barreiras migratórias como o principal elemento dissuasor da escolha do destino.
O documento é usado, em muitos casos, como forma de limitar ou evitar a imigração ilegal, enquanto em outros apenas como questão de reciprocidade. A porcentagem de viajantes que necessitam de visto para viajar saiu de 77% em 2008 para 53% dez anos depois, enquanto as restrições tradicionais recíprocas de vistos caíram de 57% para 22% no mesmo período.
De acordo com o ofício obtido por AERO Magazine, as entidades apontam os efeitos do visto nas viagens aéreas. Em novembro do ano passado o México retomou a obrigatoriedade de emissão de vistos para brasileiros. Embora a partir de maio de 2021 o fluxo de turistas do Brasil para o México tenha superado os números pré-pandemia, após exigência de visto a procurar por viagens despencou, com a demanda se aproximando da existente no auge da onda de Omicron.
“A conectividade aérea é uma medida do potencial para fornecer benefícios econômicos e Sociais. Segundo a ATAG – Air Transport Action Group – a cada 10% de incremento em conectividade os benefícios quantificáveis podem gerar incremento de 4,7% no Investimento Estrangeiro Direto, 0,5% no PIB e 0,9% na geração de empregos”, afirma trecho do documento.
As organizações ainda alegam que não houve tempo do Brasil promover o turismo nos países após a suspensão do visto. A decisão foi adotada em julho de 2019, pouco mais de seis meses antes da pandemia, que paralisou as viagens internacionais. Além disso, o Brasil ainda não recuperou sua conectividade internacional para os níveis pré-pandemia, estando atrás do México, Peru e Panamá, com fluxo praticamente idêntico ao da Argentina.
As entidades do setor aéreo solicitaram a oportunidade de colaborar com o governo brasileiro na discussão do tema da emissão de vistos, visando manter a competitividade do Brasil e evitar um retrocesso no turismo.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 10/03/2023, às 16h00 - Atualizado às 19h45
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