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Objetos não identificados

Os relatos de aparecimento de óvnis no Brasil e a contribuição de pilotos e controladores de voo no debate em torno da existência de seres extraterrestres


Pernoite no APP-RJ. Noto a presença de um alvo primário, com dimensões maiores do que as de retorno das aeronaves comerciais. Ele se encontra fixo, na RDL (radial) 360 do VOR PCX, bem acima da Serra de Teresópolis. O que chama mais a atenção é que o Sistema de Tratamento Radar possui um recurso que cancela o retorno de alvos primários fixos, justamente para evitar a reprodução de grande quantidade de informações na tela, sobretudo retornos do terreno. Sim, o alvo pode ser um defeito, mas passo a observá-lo. Faço isso por alguns minutos, até iniciar a vetoração para pouso de uma aeronave da Vasp que chega ao nordeste da Terminal Rio (TMA-RJ), cuja trajetória passará a aproximadamente cinco milhas ao norte do objeto não identificado. Quando o voo se encontra com o alvo à sua posição de 10 horas, por desencargo de consciência, indago a tripulação se avista algo no setor. Surpreendentemente, o piloto da Vasp responde que sim, informando que o objeto era circular, com muitas luzes, de várias cores e que não era um balão junino. Pergunto ao comandante do voo se gostaria de fazer um reporte oficial. Ele responde que não. Mais alguns minutos se passam e um voo da Transbrasil, procedente de Salvador, declara avistar o mesmo tipo de objeto descrito pelos pilotos da Vasp, e que também não irá reportar oficialmente. Minutos mais tarde, o alvo não identificado some da tela, sem deslocamento horizontal. Diminui de tamanho até desaparecer completamente. Uma aeronave da Lufthansa ingressa na terminal e sua tripulação já não avista qualquer tipo de objeto”.

Ainda inexplicável, o episódio narrado acima aconteceu por volta das duas horas da manhã (05h00 UTC), em uma data anterior ao ano de 1996, quando o APP-RJ ainda operava com o console do tipo AMC 901. Seu autor é um controlador de tráfego aéreo de larga experiência, que hoje atua em um dos ACC (Centro de Controle de Área), denominados Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo). Ele não pode se identificar. É que, em casos como esse, de aparição de óvnis (objetos voadores não identificados), sejam eles de qualquer origem, o reporte deve ser endereçado estritamente ao COpM (Centro de Operações Militares), e qualquer tipo de relatório é classificado como confidencial. Por isso os controladores de tráfego aéreo envolvidos não podem falar publicamente sobre o assunto.

EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, EM 1986, PILOTOS AVISTARAM ALVOS LUMINOSOS E OBLONGOS, QUE GERARAM INDICAÇÕES NO RADAR

LUZ FORTE E FIXA NO ESPAÇO
Nos últimos 50 anos, relatos de objetos voadores não identificados e de encontros com seres extraterrestres se multiplicaram como estrelas no céu. Em boa parte das narrativas há evidências claras de óvnis, praticamente à prova de contestações, uma vez que não se pode colocar em cheque a idoneidade das pessoas envolvidas. Como explicar, por exemplo, o que aconteceu na noite de 19 de maio de 1986, quando 21 óvnis foram detectados durante três horas pelos radares na região de São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), e trechos do estado do Rio de Janeiro? O evento foi confirmado à imprensa na época pelo então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Moreira Lima. Por volta de 18h30, controladores de voo da Torre de Controle do Aeroporto de São José dos Campos avistaram dois objetos luminosos de cor alaranjada, a 2.000 metros de altura. Meia hora mais tarde, o Controle São Paulo (APP) e o Centro Brasília (ACC) entram em contato com a Torre, confirmando a presença de três objetos não identificados na área de cobertura radar. Em seguida, os controladores da Torre avistaram mais dois objetos se movimentando de norte para o oeste para se juntar aos outros óvnis. Diversos voos comerciais estabeleceram contato visual com os objetos luminosos, incluindo uma aeronave bimotora Xingu, que se aproximava de São José em voo procedente de Brasília, tendo no cockpit Ozires Silva, que, na época, deixava a presidência da Embraer para assumir a Petrobrás, e o comandante Alcir Pereira da Silva. O relato, a seguir, é do próprio coronel Ozires Silva, também divulgado por ele em seu livro A Decolagem de um Sonho:

“Após quase duas horas no ar, mantendo uma altitude de 22 mil pés, aproximávamo-nos de Poços de Caldas, o último fixo de controle da rota que nos levaria a São José dos Campos. Naquele momento, ao solicitarmos autorização do Centro Brasília para iniciar a descida, recebemos uma pergunta do controlador se estaríamos observando algum objeto estranho nas imediações do nosso destino. Em princípio, olhamos em torno e nada de diferente foi visto. Solicitei mais informações ao controlador e ele nos informou que via três indicações, em áreas diferentes, na tela do seu radar e, sem saber do que se tratava, classificou-as como ‘alvos não identificados’. O controlador acabou nos fornecendo a localização de um dos objetos assinalados no radar; decidimos voar na direção indicada e acabamos avistando algo diferente. O que víamos, bem verdade, era algo muito semelhante a um astro – equivalente aos que sempre identificávamos como planeta. Luz forte e fixa no espaço. Talvez mostrasse umas pequenas diferenças. Era bastante amarelo, tendendo ao vermelho e provavelmente um pouco mais alongado no sentido vertical. Sua forma oblonga e o fato de aparecer no radar nos surpreenderam. Astros sempre aparecem redondos ou cintilantes e não respondem aos sinais eletromagnéticos. E também não geram imagens nos radares.”

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“O piloto da Vasp avistou um objeto luminoso, que não era um balão junino. Ele teria atingido Mach 15 em segundos”

“Durante todo o período, mantivemos a escuta do rádio e ouvindo informações de outros pilotos que também operavam na mesma área. Eles reportavam estar observando o mesmo fenômeno. Bem, afinal não estávamos sozinhos. Eram quase dez horas da noite e, então, algo estranho começou a acontecer. À medida que nos aproximávamos do objeto, enquanto voávamos na direção de São Paulo, ele ia se desvanecendo até que desapareceu por completo. Nada mais vendo na proa em que voávamos, solicitei ao controlador a posição de um dos outros objetos não identificados e, seguindo suas instruções, voei para leste, cruzando o aeródromo de São José dos Campos para um ponto ao sul da cidade de Taubaté. Lá encontramos uma luminosidade, abaixo do nosso nível de voo, que parecia ser uma enorme lâmpada fluorescente, emitindo uma luz intensa com frequência e cor equivalentes às das lâmpadas que encontramos em nossa residência. Aí, nossa compreensão do que estávamos vendo ficou mais complicada.”

Na ocasião, a Força Aérea acionou três caças F-5E da Base Aérea de Santa Cruz (RJ) e outros três caças Mirage da Base Aérea de Anápolis (GO). Houve tentativa de perseguição, mas os objetos não se deixavam ser interceptados. Em depoimento divulgado no livro Um Mergulho na Ufologia Militar Brasileira, de Marco Antonio Petit, o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas, que pilotava um dos Mirage, disse ter se espantado com a aceleração do objeto, que teria atingido a velocidade de Mach 15 em questão de segundos. Já o capitão Márcio Brizolla Jordão, que conduzia um dos F-5E, relatou ter sido acompanhado por 13 objetos, sendo seis de um lado e sete do outro. Jordão chegou a seguir um dos óvnis até cerca de 200 km além da costa do Estado de São Paulo, sobre o mar, mas não conseguiu se aproximar mais do objeto, mesmo mantendo a aceleração máxima em seu caça. Com o combustível no limite, acabou retornando ao Rio de Janeiro.

“Dentro da Via Láctea existem estrelas, mundos e, possivelmente, uma enorme diversidade de seres vivos, seres inteligentes e civilizações capazes de viajar pelo espaço” - Carl Sagan

OS “FOO FIGHTERS”
Os primeiros relatos sobre a presença de óvnis foram registrados na Europa, nos meses finais da Segunda Guerra Mundial. “Vimos essas coisas, eu acho, em novembro ou dezembro de 1944. Para mim, eram luzes fortes na tonalidade branca, mas colegas também viram luzes vermelhas e verdes, e alguns tentaram persegui-las sem sucesso”, relatou Harold F. Augspurger, ex-comandante do 415º Esquadrão de Ataque Noturno dos Estados Unidos a um repórter da Discovery Channel. Na época, os pilotos apelidaram os objetos luminosos de foo fighters (gíria usada na Segunda Guerra para designar objetos luminosos não identificados).

Embora a vida na América parecesse tranquila após a guerra, os relatos sobre a aparição de objetos começaram a se multiplicar e havia um temor de que eles seriam, na realidade, aviões de reconhecimento da União Soviética. Afinal, muitos contatos aconteciam próximos a bases militares, e os norte-americanos já guardavam segredos relativos à utilização da energia nuclear em bombas de destruição em massa. Os relatos sobre a presença de objetos não identificados passaram a ser classificados como relevantes para a segurança nacional e, assim, a polícia deixou de ter acesso a qualquer tipo de material ou testemunhas. Por 22 anos, tudo o que foi coletado passou a fazer parte do Projeto Livro Azul, para investigações confidenciais da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Os militares justificavam dizendo se tratar de um estudo aprofundado sobre o assunto com o intuito de saber se os óvnis representavam uma ameaça para a segurança do país e também se o fenômeno poderia contribuir de alguma maneira para o avanço tecnológico do planeta. Os dossiês foram arquivados em 1969 e a USAF divulgou conclusões segundo as quais os dados eram de má qualidade e nenhuma ameaça existia.

Em 1987, o pesquisador britânico Tim Good encontrou um memorando de 1947 endereçado a Dwight Eisenhower, chefe das Forças Armadas e, posteriormente, presidente dos Estados Unidos, revelando que um óvni caíra a 120 km a noroeste da base aérea do exército em Roswell, no Novo México, e que quatro seres alienígenas teriam sido resgatados sem vida. “Seria uma grande prova de que existem objetos voadores e vida extraterrestre”, disse Stanton Terry Friedman, físico nuclear e autor do livro Top Secret/Majic. Porém, investigações solicitadas por alguns cientistas colocaram em cheque a veracidade dessas informações – a própria assinatura do ex-presidente Harry Truman em um memorando endereçado ao seu secretário de Defesa era falsificada. Apesar das descrenças, até os mais céticos acreditavam haver informações suprimidas e pairava sobre o ar o consenso de que dificilmente alguém saberia toda a verdade sobre o caso Roswell.

CONSTRUÇÕES DEIXADAS POR CIVILIZAÇÕES DO PASSADO E DESENHOS QUE SÓ PODEM SER VISTOS DO ALTO AINDA PEDEM MELHORES EXPLICAÇÕES

O presidente norte-americano que mais teve acesso às informações sobre óvnis foi John F. Kennedy. Quando congressista, chegou a ler o relatório oficial sobre o caso Roswell. E ainda: durante um dos seus voos no Air Force One, foi questionado por Bill Holden, tripulante do jato presidencial, quanto à aparição de objetos não identificados. Kennedy fez uma pausa, pensou bem sobre sua resposta e disse: “Eu gostaria de revelar ao público sobre a situação alienígena, mas minhas mãos estão atadas”. Para o ufólogo norte-americano Robert Hastings, autor do livro UFOs and Nukes, que traz um compêndio das aparições de objetos em áreas de testes nucleares, o esforço do governo norte-americano em manter as informações sob sigilo absoluto se deve à incerteza em relação à reação da população. O maior temor é o de que haja pânico, com consequências imprevisíveis. “Enquanto não houver mais evidências, é preferível deixar as coisas como estão”, diziam as autoridades. Para Hastings, se um dia os óvnis se revelarem, a humanidade estará entrando em uma nova era.

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DEUSES ASTRONAUTAS?
Essa pergunta é o carro-chefe de um dos livros publicados sobre óvnis pelo arqueólogo suíço Erich von Däniken. Para o pesquisador, os sinais deixados por extraterrestres são claros, principalmente, quando se trabalha com culturas antigas e suas crenças nos “deuses” que visitavam o planeta – o livro em inglês tem o nome de Chariots of God, algo como “Carruagens de Deus”, mas a editora que publicou o trabalho no Brasil optou pelo título Eram os Deuses Astronautas. Däniken prefere não afirmar nada, mas deixa no ar pelo menos 238 pontos de interrogação. Como explicar, por exemplo, as pinturas gigantes de animais ou mesmo de uma espécie de astronauta nas chamadas Linhas de Nazca (400 km ao sul de Lima), no Peru, que, segundo os historiadores, remontam a 200 a.C.?

A maioria dos antropólogos, no entanto, se diz contrária às crenças de Däniken. Para eles, não é necessário possuir uma tecnologia muito sofisticada para criar grandes figuras, formas geométricas e linhas retas, não obstante o fato de os desenhos só serem reconhecidos com clareza em altas altitudes, a partir de veículos em voo. Também citam o caso dos círculos perfeitos, encontrados em campos de trigo na Inglaterra e que eram atribuídos à visita de naves espaciais. A teoria foi colocada em cheque em 1991, quando Doug Bower e David Chorley assumiram em público a autoria de pelo menos 250 círculos. Porém, muitos ufólogos ainda não se dão por satisfeitos com explicações dos brincalhões e preferem deixar no ar uma possível resposta para o fenômeno.

Dificilmente alguém saberá toda a verdade sobre o caso Roswell

DESPERDÍCIO DE ESPAÇO
“Não resta dúvida de que não estamos sozinhos”, disse o astrônomo norte-americano Carl Edward Sagan, que foi o responsável pela produção da famosa série de televisão Cosmos (1980). Falecido em 1996, Sagan teve um papel significativo no programa espacial norte-americano como consultor e conselheiro da NASA desde os anos 50. Ele chefiou os projetos da Mariner e Viking, que permitiriam a coleta de importantes informações sobre os planetas Vênus e Marte. Para Sagan, o tamanho e a idade do cosmos estão além da compreensão humana. Cada galáxia é composta por trilhões de sóis, e também por isso nossas medidas de distância têm pouca serventia – utiliza-se uma unidade muito maior que é o chamado ano-luz, que representa a distância que a luz percorre em um ano, aproximadamente 10 trilhões de quilômetros. Assim como estrelas, planetas e pessoas, as galáxias nascem, crescem e morrem, segundo o estudioso. Sagan as comparava aos adolescentes de vidas conturbadas. No caso das galáxias, durante as primeiras centenas de milhões de anos, o núcleo delas pode explodir, liberando gigantescos jatos de energia, destruindo mundos próximos, completamente incinerados. “Imagino quantos planetas e civilizações já podem ter sido destruídos”, escreveu Sagan em seu trabalho sobre o Cosmos.

“Os sinais deixados por extraterrestres são claros, principalmente, quando se trabalha com culturas antigas e suas crenças nos deuses” - Erich Von Däniken

A galáxia natal da espécie humana, também conhecida como Via Láctea, é apenas um ponto luminoso no meio da vasta imensidão do espaço. E foi nas obscuras cercanias do braço espiral Carina-Cygnus que a humanidade evoluiu à consciência e a um reduzido grau de conhecimento. Só a Via Láctea abriga 400 bilhões de sóis. “Dentro dela existem estrelas, mundos e, possivelmente, uma enorme diversidade de seres vivos, seres inteligentes e civilizações capazes de viajar pelo espaço. Eu me pergunto: que aparências teriam? E a política, a tecnologia, a música e a religião? Teriam padrões culturais que nós sequer imaginamos? E seriam eles também um perigo para si mesmos? Uma coisa é certa: se fôssemos só nós, seria um grande desperdício de espaço”, dizia em tom de trocadilho o astrônomo Carl Sagan.

Robert Zwerdling
Publicado em 23/01/2012, às 09h36 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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