Visando reduzir emissões, os efeitos do decreto limitará apenas três voos domésticos na França
O governo francês publicou ontem (23) um decreto que formaliza a proibição de voos domésticos em rotas que podem ser cumpridas por ferrovias em menos de duas horas e meia.
Apesar do propósito climático da proposta, pela ideia de reduzir as emissões de CO2, o setor aéreo local não sentirá muito os efeitos desta medida, já que ela afetará apenas três rotas que partem do aeroporto de Orly (ORY), em Paris, para Nantes (NTE), Bordeaux (BOD) e Lyon (LYS).
Periodicamente, reguladores franceses farão novos levantamentos para definir novas rotas que possivelmente se enquadrarem no decreto, informando previamente as companhias aéreas sobre os resultados. “Como podemos justificar o uso do avião entre grandes cidades que se beneficiam de conexões ferroviárias regulares, rápidas e eficientes?", disse Clément Beaune, Ministro dos Transportes da França.
Segundo o grupo UFC-Que Choisir, que reúne consumidores franceses, os aviões emitem 77 vezes mais gás carbônico por passageiro que um trem de alta velocidade. A estimativa foi baseada na capacidade de transporte de cada modal. A França é um dos países europeus com menor dependência de gás natural para geração de energia elétrica, tendo aproximadamente 42% da produção baseada em usinas nucleares.
Originalmente um grupo de ambientalistas, sobretudo a Convenção dos Cidadãos sobre o Clima da França, criada em 2019, queria banir todos os voos domésticos com duração inferior ou igual 4 horas, que é basicamente toda a malha nacional francesa.
Inicialmente a expectativa era de reduzir o tráfego aéreo doméstico na França em pouco mais de 10%, para que a competitividade local não pudesse ser afetada, mas, o que realmente será poupado, em matéria de emissões, é incerto.
Em entrevista a agência de notícias AFP, Laurent Donceel, chefe interino do grupo industrial Airlines for Europe (A4E), disse que “a proibição dessas viagens terá apenas efeitos mínimos" na emissão de poluentes.
O setor aéreo, um dos mais atingidos pelas restrições de viagens após março de 2020, com a crise sanitária, trabalha em soluções para atingir a meta de carbono zero até 2050, mas acredita que as soluções deverão ocorrem de forma coordenada.
Atualmente as principais companhias aéreas do mundo e fabricantes estudam forma de viabilizar o combustível de aviação renovável (SAF, na sigla em inglês) que em alguns casos reduz em até 90% as taxas médias de emissão carbono na atmosfera.
Por Marcel Cardoso
Publicado em 24/05/2023, às 06h23
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