AERO Magazine
Busca

Acidente matou quase 80 pessoas a bordo e em solo

Há mais de 40 anos um Boeing 737 também caiu perto da Casa Branca

Dois erros graves da tripulação do Boeing 737 foram os causadores da tragédia, que aconteceu nos arredores da Casa Branca


acidente Air Florida
Momento da retirada dos destroços do Boeing do Rio Potomac - Foto: U.S. DoD.

Em 13 de janeiro de 1982, um Boeing 737-200 (N62AF) da Air Florida, se acidentou logo após decolar do Aeroporto Ronald Reagan, caindo no rio Potomac, pouco mais de 3 quilômetros da Casa Branca, a sede do governo norte-americano. O avião seguia para Fort Lauderdale, com escala prevista em Tampa, ambos na Flórida.

Naquele dia, a tarde foi marcada por uma forte nevasca na região de Washington. O aeroporto havia sido fechado por quinze minutos para a retirada da camada de neve da pista e do pátio. Meia hora depois da reabertura, o Boeing passou pelo processo de degelo com o fluido do tipo II, porque o comandante queria iniciar agilizar a partida assim que o aeroporto fosse reaberto.

Porém, o fluido tinha sido aplicado em uma área de cerca de três metros quando o piloto pediu para encerrar a operação, pois o aeroporto não iria reabrir no horário previsto. Quinze minutos depois, o processo foi retomado.

O lado esquerdo do 737 foi descongelado primeiro. Não foram instaladas tampas ou tomadas sobre os motores ou aberturas de aeronaves durante as operações de degelo.

Em seguida, a aeronave foi finalizada, o caminhão de degelo retirado e a tripulação recebeu autorização para iniciar o pushback. Uma combinação de gelo, neve e glicol na rampa e uma leve inclinação impediram que o rebocador, que não estava equipado com correntes, movesse o 737-200.

Então, ao contrário da orientação manual de voo, a tripulação de voo usou o reverso na tentativa de mover a aeronave do pátio. Isso resultou no motor espalhar neve que pode ter aderido à fuselagem e o próprio motor. Ainda assim, a força dos propulsores não foi suficiente para permitir o movimento do avião, então o rebocador foi substituído e a manobra foi realizada. O Boeing finalmente taxiou para a pista 36.

Novamente, contrariando o manual e práticas elementares de operação, a tripulação posicionou o avião intencionalmente mais próxima de um Douglas DC-9 que estaca à frente na fila. A ideia era manter as superfícies aquecidas através dos gases do motor do DC-9. Porém, isso pode ter contribuído para a adesão do gelo nos bordos de ataque das asas e ao bloqueio das sondas Pt2 do motor.

Esses sensores de pressão total de entrada (Total Pressure) estão localizados na seção de entrada do motor e desempenham um papel crucial no monitoramento e controle do desempenho. Assim, a sondas Pt2 captam a pressão total do ar que entra no motor, composta pela soma da pressão estática e da pressão dinâmica do fluxo de ar.

Depois que o DC-9 recebeu autorização para decolagem, comandante e copiloto do Boeing realizaram o checklist pré-decolagem. A liberação da decolagem foi recebida às 15h58 (17h58 em Brasília). Embora o copiloto tenha expressado preocupação para o comandante por quatro vezes, este não tomou nenhuma ação para abortar a decolagem.

O Boeing 737-200 acelerou a uma velocidade abaixo do normal durante a decolagem, exigindo 45 segundos e quase 1.640 metros de pista, o que representa quinze segundos e quase 600 metros a mais do que o usual para atingir a velocidade de decolagem. O avião inicialmente conseguiu manter uma subida mínima, mas não o suficiente para acelerar no primeiro segmento de decolagem, perdendo rapidamente capacidade de sustentar o voo.

O stick shaker foi ativado quase imediatamente após a decolagem e continuou até o impacto. Três minutos após a decolagem, o Boeing 737 atingiu o sentido norte da ponte da Rua 14 e com o impacto mergulhou violentamente no rio Potomac, que estava coberto de gelo. 

Ao colidir com a ponte, seis automóveis e um caminhão foram atingidos diretamente pelo 737. Quatro pessoas nos veículos morreram e quatro ficaram feridas. Dentre os 79 passageiros a bordo, apenas cinco sobreviveram.

Segundo o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês), a causa provável do acidente foi "a falha da tripulação em usar sistema anti-gelo durante a operação e decolagem do solo, a decisão de decolar com neve/gelo nas superfícies das asas, e a falha do comandante em rejeitar a decolagem durante o estágio inicial quando sua atenção foi chamada [após] leituras anômalas dos instrumentos do motor".

Os investigadores ainda afirmam que contribuiu para o acidente o prolongado atraso no solo, em especial entre o processo de degelo e o recebimento de autorização de decolagem, onde o Boeing 737-200 foi exposto à precipitação contínua de neve e a experiência limitada dos pilotos em operações de inverno.

O acidente foi o estopim de uma grande crise financeira para a Air Florida, que encerrou suas atividades em julho de 1984.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 15/01/2022, às 10h00 - Atualizado em 30/01/2025, às 09h45


Mais Notícias