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Perda do sistema elétrico e pouso acima do peso

Entenda o que levou ao pouso de emergência do 777 em Confins

Problemas de infraestrutura ainda afetam o sistema aeronáutico no Brasil


Imagens: Via WhatsApp

Na madrugada de hoje um Boeing 777-300ER da Latam realizou um pouso de emergência após uma falha elétrica. O voo que partiu de São Paulo com destino a Londres alternou no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte.

Segundo apuração inicial da equipe de AERO Magazine, com apoio da troca de comunicação entre a aeronave e a torre,  possivelmente o avião apresentou uma falha elétrica, passando o sistema elétrico ser suprido pelas baterias de emergência e pela RAT (Ram Air Turbine).

As baterias são um backup de emergência com capacidade de manter os sistemas principais da aeronave energizados por aproximadamente 10 minutos, enquanto a RAT, que funciona como um pequeno gerador elétrico, prioriza os sistemas hidráulicos do avião, ainda que supra parte da energia.

Embora seja uma falha critica e o próprio fabricante estipule no manual que o pouso deve ocorrer imediatamente no aeroporto mais próximo, a aeronave possui condições de manter o voo na eventualidade da falta de opções de pouso. Um avião necessita apenas de velocidade e controle para manter um voo, que era possível nesse caso. Inclusive tal fato é previsto durante o projeto, visto que em muitos casos a aeronave poderá estar distante de qualquer aeroporto, sobrevoando oceanos ou cadeias de montanhas. 

Pneus esvaziam automáticamente evitando estourar por alta temperaturas

Segundo a comunicação entre o 777 e o controle Belo Horizonte, ao constatar a pane os pilotos tentaram iniciar um procedimento de emergência para alijar o combustível, no entanto, por falta de capacidade elétrica o processo não pode ser realizado, obrigando um pouso acima do peso.

O que exige maior atuação dos freios, já que o peso excessivo aumenta a carga no sistema, ampliando consideravelmente a temperatura e que em alguns casos podem levar a um incêndio. Além disso, para evitar o estouro dos pneus, acima de determinada temperatura, uma válvula arma esvaziando o conjunto de rodas do trem principal.

Após o pouso o aeroporto ficou interditado, até que as equipes da Latam pudessem trocar o conjunto de pneus avariados, um procedimento que leva em média 40 minutos por roda.

Embora o pouso tenha ocorrido no aeroporto internacional de Belo Horizonte, um dos principais aeroportos do país, o fechamento da pista e seu comprimento evidenciaram as limitações de infraestrutura aeroportuária que ainda se fazem presentes no Brasil.

O aeroporto conta com apenas uma pista de 3.600 m, sendo útil 3.000 metros, enquanto os demais 600 m ainda não foram homologados. Ainda que em casos de emergência se considere o comprimento total, a falta de pistas com mais de 4.000 m no Brasil demonstra a exigência de pousos mais críticos em caso de emergência, como no caso do 777 que estava acima do peso de pouso. Outro entrave é o aeroporto ter apenas uma pista,que em casos de interdição poderá ocasionar o cancelamento de centenas de voos ao longo do dia.

Interdição de pista já foi problema recente

Em 2012, um MD-11F sofreu um colapso do trem de pouso principal no aeroporto de Viracopos, em Campinas, ocasionando uma série de problemas para a malha aérea nacional. Todavia, nesse caso a Infraero não possuía um recovery kit, utilizado para remover aeronaves acidentadas da pista. No caso de Belo Horizonte, por não operar aeronaves do porte do 777, o aeroporto não dispõe de um sistema tão complexo.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 20/12/2018, às 14h30 - Atualizado em 21/12/2018, às 02h27


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