Brasil e Suécia oficializam a compra dos 36 caças Saab Gripen NG para a FAB com previsão de transferência de tecnologia para a indústria nacional durante o desenvolvimento do program
Um dia após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o governo brasileiro e a Saab assinaram o contrato de desenvolvimento e produção de 36 aviões Gripen NG no valor total de US$ 5,4 bilhões, US$ 1 bilhão a mais do que o previsto inicialmente. Além de treinamento de pilotos e mecânicos brasileiros na Suécia e apoio logístico, o contrato ainda prevê cooperação industrial e transferência de tecnologia substancial da Saab para a indústria brasileira, sobretudo a Embraer. “Vamos transferir tecnologia e capacidade de projetar e construir caças”, afirmou Håkan Buskhe, presidente e CEO da Saab, durante a cerimônia.
O programa é composto por 28 caças monoposto e oito caças biposto do programa Gripen NG, inconcluso. De acordo com o contrato, o Brasil participará ativamente do desenvolvimento do Gripen NG e será o sócio responsável pelo desenvolvimento da versão F (biposto), que poderá ser empregada para treinamento de pilotos e missões especiais, como guerra eletrônica. Segundo cláusulas contratuais, a transferência de tecnologia para a indústria brasileira será feita gradualmente ao longo de aproximadamente 10 anos, tempo médio do desenvolvimento completo do programa F-X2. O contrato de cooperação industrial entrará em vigor mediante o cumprimento de condições pré-estabelecidas, como as autorizações necessárias de controle de exportação, já durante o primeiro semestre de 2015. As entregas do Gripen NG para a FAB estão previstas para acontecer entre 2019 e 2024.
De acordo com o brigadeiro José Augusto Crepaldi Affonso, presidente da COPAC (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate), a assinatura ocorreu após dez meses de intensas negociações contratuais. “Atualizamos a proposta. Trouxemos os requisitos para um cenário mais moderno”, explica o militar. Pelos cálculos do governo, o desenvolvimento e produção do Gripen NG possibilitará a geração de milhares de empregos diretos e indiretos no país.
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O Gripen NG representa um salto tecnológico e operacional à FAB, incorporando tecnologias inéditas no país, como o radar Raven ES-05, capaz de identificar alvos aéreos ou de superfície a um ângulo de 100° da sua antena. Outro destaque é o sensor de busca infravermelho e datalink, que possibilita a troca de informações entre os aviões de forma segura e criptografada. Quando entrar em serviço, o Gripen NG também será o único caça do Hemisfério Sul com capacidade “supercruise”, ou seja, poderá voar supersônico por longas distâncias sem o uso continuo do pós-combustor. “Esperamos há mais de 18 anos por esse momento. Esse contrato inaugura uma nova era operacional para a aviação de caça no Brasil”, comemora o brigadeiro Alvani Adão da Silva, diretor do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial).
A Embraer terá um papel de liderança como o parceiro estratégico no programa F-X2 e deverá conduzir grande parte do projeto, incluindo a montagem final do Gripen NG. Mas a indústria brasileira em geral também terá um papel importante no desenvolvimento dos novos caças, o que vale para empresas de alta tecnologia como AEL, Akaer, Atech e SBTA.
O Ministério da Defesa confirma que prosseguem as negociações entre a FAB e a Força Aérea da Suécia para o aluguel temporário de um lote de Gripen C/D. As aeronaves, usadas, seriam empregadas no restabelecimento da plena capacidade de defesa aérea brasileira e permitiriam aos militares se familiarizarem com a filosofia de emprego do novo avião. O plano original é utilizar os Gripen C/D até o recebimento das aeronaves novas. Porém, fontes na FAB confirmam que existe o interesse de posterior compra desses aviões para serem destinados a outras unidades aéreas, substituindo, assim, os veteranos F-5EM com custo menor e dentro da filosofia de emprego de uma plataforma unificada.
O governo brasileiro avalia, ainda, a ampliação do contrato do Gripen NG, que, numa segunda fase, poderá contemplar a compra de até 120 caças, substituindo todos os F-5EM e A-1M no médio prazo. A compra de um lote superior aos 100 aviões é visto como estratégico para a indústria de defesa brasileira e para a soberania nacional. Porém, o assunto não será discutido antes do início das entregas do Gripen NG.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 07/11/2014, às 00h00
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