Países do Oriente Médio desenvolveram aéreas capazes de atender os cinco continentes, estabelecendo novos níveis na aviação comercial mundial
Depois de movimentar mais de US$ 100 bilhões em novos acordos na edição do Dubai Airshow 2023, as companhias aéreas do Oriente Médio deram sinais claros de que os planos de expansão da região permanecerão consistentes nas próximas décadas.
Em uma posição geográfica estratégica, as aéreas da região são referências em conexões internacionais, fidelizando seus clientes por meio de produtos e serviços de alta classe, em grande parte acima dos padrões ocidentais.
Durante o evento no aeroporto Al Maktoum, a anfitriã Emirates reforçou sua frota com pedidos adicionais de 95 aviões de fuselagem larga da Boeing e outros quinze da Airbus, em um investimento avaliado em US$ 58 bilhões, considerando os preços de tabela.
Quando o britânico Tim Clark chegou ao posto de CEO da Emirates no início deste século, as operações se resumiam a rotas pontuais, mas um projeto de longo prazo em conjunto com as autoridades do Emirado tornaram a transportadora um modelo de sucesso.
O plano era conectar os mercados europeus, asiáticos e do pacífico através de um centro de conexões (hub) em Dubai (DXB), estimulando todo o setor de turismo, auxiliado pela ampliação da rede hoteleira, construção de parques, atrações variadas e incentivos para eventos esportivos e de negócios.
Ao mesmo tempo que o número de destinos atendidos era ampliado, a ascensão econômica da Índia e sua influência no mercado global, aumentou significativamente o número de passageiros transportados.
O exôdo de indianos transformou o aeroporto internacional de Dubai em porta de entrada para Índia. Em 2019, ano pré-crise sanitária, DXB movimentou 86,4 milhões de passageiros, sendo a Índia o principal país de destino, com 11,9 milhões, seguida pela Arábia Saudita, com 6,3 milhões de viajantes.
Com aproximadamente cinco mil assentos oferecidos por mês, Dubai possui a maior capacidade de voos internacionais do mundo, e espera movimentar cerca de 83,6 milhões de passageiros durante o ano de 2023, o equivalente a 94% dos níveis de quatro anos atrás.
Outra expoente da região é a Qatar Airways, uma das empresas mais conceituadas do setor, oferece conexões de Doha para mais de 150 destinos em todos os cinco continentes. Nas últimas décadas, a empresa foi uma das que mais cresceram no mundo.
Akbar Al Baker, ex CEO da Qatar Airways, comandou ao longo de 27 anos uma expansão contínua da frota e de sua malha aérea, oferecendo serviços reconhecidos como cinco estrelas pela consultoria britânica Skytrax.
Em um mercado com margens apertadas e extremamente volátil, manter o alto nível é essencial para fidelizar os clientes, o que justifica o investimento em novos produtos, serviço de bordo e instalações como a do novo aeroporto de Hamad, em Doha.
Embora o modelo tenha sido replicado com sucesso no país vizinho, o mesmo não ocorreu com a Etihad. A empresa de Abu Dhabi tentou acompanhar Dubai, mas o crescimento que deveria ser orgânico foi feito por aquisições de empresas endividadas na Europa e Oceania.
Para evitar a diáspora nos aeroportos de Dubai e Doha, a Air India planeja competir de forma direta com as aéreas do Oriente Médio. Sob o comando do grupo Tata, a companhia visa uma maior fatia do mercado indiano, que registra umas das três maiores taxas de crescimento do setor.
Emirates e Qatar Airways são destaques na região, mas enfrentam concorrência de europeias, mais especificamente da Turkish Airlines. A empresa oferece o maior número de destinos internacionais e tem investido constantemente na aquisição de aviões e produtos, incluindo a transferência de suas operações para o novo aeroporto de Istambul, inaugurado em 2018.
A companhia está em fase final de negociação para aquisição de aproximadamente 600 aviões, incluindo jatos da Airbus e Boeing, apoiando a renovação e expansão de sua frota.
A compra de novos jatos visa garantir os planos de crescimento para os próximos dez anos. A Turkish Airlines pretende dobrar sua frota de 435 para 813 aeronaves, transportando 170 milhões de passageiros até o final de 2033.
Com três players estabelecidos, a Árabia Saudita está investindo bilhões de doláres na Riyadh Air. A empresa lançada em março deste ano pretende atender cem destinos até o final de 2030, através de seu centro de conexões em Riad.
A saudita segue conceito similar aplicado pela Emirates, e visa desenvolver a indústria turística por intermédio de conexões em larga escala, mantendo um alto nível no atendimento aos seus passageiros. O plano do governo saudita é atrair 300 milhões de visitantes até meados da próxima década.
A Riyadh Air possui pedido para 39 Boeing 787-9 Dremliner e negocia a compra de jatos de corredor único A320neo e 737 MAX.
A mudança da geopolítica de parte dos países do Oriente Médio está influenciando a indústria aérea, auxiliando na especificação de aviões de fuselagem larga, que necessitam de mais recursos tecnológicos e estabelecendo parâmetros de alto padrão no atendimento ao cliente.
Por Wesley Lichmann
Publicado em 21/11/2023, às 13h10 - Atualizado às 20h20
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