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Conquista chinesa

Avião comercial chinês avança no processo de certificação e promete rivalizar com Airbus e Boeing

Comac realiza voo com quarto protótipo do C919 que oferece capacidade similar aos A320neo e 737 MAX


A chinesa Comac realizou o voo do quarto protótipo do C919, o primeiro avião comercial desenvolvido na China baseado nos rígidos requisitos de segurança e operação ocidentais. O avião decolou da unidade de produção da Comac, no aeroporto de Shanghai Pudong e voo por 1 horas e 25 minutos, realizando uma série de ensaios e testes no sistema de aviônica e nos sistemas de decolagem e pouso. O quarto protótipo (104) se destacou por ser o primeiro a iniciar a campanha de ensaios ostentando apenas as marcas básicas do fabricante, sem a pintura final completa.

A Comac pretende adicionar outros dois protótipos a campanha de ensaios em voo até o final do ano, quando espera encerrar o programa com seis aviões. Os aviões deverão passara por aproximadamente 729 testes, em solo e em voo, acumulando mais de 4.200 horas no ar.

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O desafio da indústria chinesa é comprovar a capacidade do modelo frente a seus potenciais rivais, como o Airbus A320neo e o Boeing 737 MAX 8. A Comac estabeleceu o C919 como um programa global, utilizando soluções comprovadas na indústria aeronáutica e sistemas fornecidos por grandes nomes do setor. Os motores, por exemplo, são os CFM Leap 1C, fa mesma família que equipa os modelos 737 MAX, sendo também opção a família A320neo.

O C919 se beneficiou dos desafios e contratempos enfrentados pelo ARJ21, o primeiro avião chinês a obter uma certificação similar aos padrões do FAA e EASA. Todavia, o programa utilizou uma série de soluções derivadas do programa MD-80 da extinta McDonnell Douglas, como a seção básica da fuselagem e sistemas em geral.

A expectativa é que o primeiro avião seja entregue em meados de 2021. O programa soma mais de 970 encomendas, a maioria realizadas por companhias aéreas chinesas.

As autoridades chinesas afirmam que o objetivo prioritário do C919 não é o mercado global, mas sim o pujante mercado doméstico da China, que deverá se tornar já na próxima década o maior do mundo. Caso obtenha apenas um terço do próprio mercado interno, a Comac deverá garantir mais de 3.000 aeronaves encomendadas nos próximos anos. Um futuro avanço para o mercado mundial dependerá da capacidade de produção da Comac, aliado a necessidade de certificar o modelo nos Estados Unidos e Europa. Atualmente apenas alguns países da Ásia, África e América do Sul aceitam a certificação chinesa para aviação comercial, o que ainda assim possibilita obter algumas centenas de novos pedidos.

Caso a China opte por focar apenas em mercados emergentes ou em países subdesenvolvidos, a Comac se destaca pela maior flexibilidade de crédito concedido por Pequim a países com pouco ou nenhum acesso a financiamentos em bancos europeus ou norte-americanos. Além disso, a China tem realizado uma série de investimentos em infraestrutura aeroportuária em países da África, atendendo as exigências mínimas para operação dos ARJ21 e C919.

O preço final do C919 é estimado em US$ 50 milhões, aproximadamente metade do valor de tabela dos rivais da Airbus e Boeing, o que poderá tornar o modelo atrativo para centenas de companhias ao redor do mundo.

A crise de confiança no programa 737 MAX, proibido de voar desde abril, quando as autoridades chinesas foram as primeiras a impedir que o modelo voasse, pode abrir algumas oportunidades em mercados que tradicionalmente não aceitariam um produto chinês.

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Por Edmundo Ubiratan | Imagens: Divulgação
Publicado em 01/08/2019, às 18h00 - Atualizado às 19h27


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