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Uso de celular causou colisão de avião da Gol com veículo no Galeão

Relatório do Cenipa revela falhas graves no controle aéreo que causaram colisão entre Boeing 737 MAX da Gol e veículo no Galeão, em fevereiro


Relatório do Cenipa aponta falha humana, supervisão ineficaz e cultura permissiva no acidente entre avião da Gol e veículo em pista no Galeão - Reprodução/Redes Sociais
Relatório do Cenipa aponta falha humana, supervisão ineficaz e cultura permissiva no acidente entre avião da Gol e veículo em pista no Galeão - Reprodução/Redes Sociais

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, Cenipa, divulgou ontem (5), o relatório final do acidente envolvendo um Boeing 737 MAX 8 da Gol Linhas Aéreas e um veículo de manutenção em uma das pistas do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro.

O órgão da Aeronáutica apontou falhas operacionais críticas e deficiências sistêmicas no controle de tráfego aéreo como causas determinantes para o acidente.

O voo G31674, com destino a Fortaleza, transportava 103 passageiros e seis tripulantes. Durante a corrida de decolagem na pista (RWY) 10, a aeronave atingiu um veículo parado no centro da pista, forçando a tripulação a interromper a decolagem bruscamente. Apesar do impacto, não houve feridos graves, mas tanto o avião quanto o carro sofreram danos significativos.

Segundo o relatório do Cenipa, o acidente foi causado por uma série de erros humanos e falhas organizacionais. O controlador de tráfego aéreo autorizou a decolagem sem verificar visualmente a pista, que já estava ocupada pelo veículo. A decisão ocorreu em um ambiente marcado por distrações, como uso de celulares, conversas paralelas e baixa carga de trabalho.

A supervisão também falhou. O responsável pelo monitoramento das operações estava utilizando o celular no momento do incidente e não impediu a autorização de decolagem. A cultura permissiva do grupo de trabalho, que tolerava condutas incompatíveis com a segurança operacional, foi considerada um fator contribuinte.

Além disso, o relatório destaca falhas na gestão da emergência. A ativação formal do plano de emergência do aeroporto ocorreu com atraso de mais de dois minutos após a colisão, tempo considerado excessivo. O supervisor não coordenou as ações e chegou a abandonar sua posição durante a crise.

Outro ponto crítico foi a comunicação inadequada entre torre e veículo. A fraseologia fora dos padrões comprometeu a compreensão da gravidade da situação pelos ocupantes do carro, que não perceberam a aproximação da aeronave a tempo de liberar a pista.

O Cenipa também criticou o não uso de headsets pelos controladores, prática obrigatória para garantir qualidade na comunicação e manter a consciência situacional. Além disso, foi registrada hesitação por parte dos controladores em revogar a autorização de decolagem, mesmo após se lembrarem da presença do veículo.

A investigação utilizou o modelo de James Reason para analisar falhas ativas e latentes no sistema. O relatório conclui que, embora o erro imediato tenha sido do controlador, as causas estruturais remontam a falhas recorrentes de supervisão, cultura organizacional deficiente e processos ineficazes de prevenção.

O caso evidencia a necessidade urgente de reformas nos protocolos de segurança e no ambiente de trabalho do controle de tráfego aéreo brasileiro. Entre as recomendações implícitas está a adoção rigorosa do conceito de “sala estéril” — que proíbe distrações como uso de celulares — e a melhoria na formação e supervisão dos profissionais envolvidos.

Por Marcel Cardoso
Publicado em 06/08/2025, às 09h21


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