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A Defesa Aérea

1º GDA espera seus novos moradores

Enquanto os Gripen não chegam, pela segunda vez em oito anos, os F-5 preenchem o gap filler da base que protege a capital federal do Brasil


Quando entrarem em operação, a partir de 2018, os Gripen NG da FAB vão operar na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, lar do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA). A unidade tem suas origens na Primeira Ala de Defesa Aérea (1ª Alada). Ativada em 09 de fevereiro de 1970, a unidade foi criada para ser o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Sisdacta), implantado para prover uma rede de meios eletrônicos de detecção capaz de rastrear e identificar as aeronaves que sobrevoam o território brasileiro. Desde então, duas gerações de Mirage foram responsáveis pela defesa e interceptação nos céus do Brasil Central. Incluindo os dias atuais, por duas ocasiões, durante a aposentadoria dos Mirage, a defesa esteve sob a responsabilidade de diferentes versões do Northrop F-5 Tiger II.

Quando a unidade surgiu foram adquiridos, em maio de 1970, jatos supersônicos franceses Mirage III, fabricados pela Avions Marcel Dassault-Breguet Aviation (AMD-BA), nas versões monopostos EBR e bipostos DBR, conhecidos oficialmente na Força Aérea Brasileira como F-103E e F-103D, respectivamente. O primeiro Mirage III da FAB voou em 6 de março de 1972, em Bordeaux, na França, já ostentando o cocar da Força Aérea Brasileira. O primeiro voo sobre o território brasileiro ocorreu em 27 de março de 1973.

A 1ª ALADA foi depois reestruturada, passando a ser denominada Base Aérea de Anápolis (BAAN), sediando o Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), criado em 11 de abril de 1979 pelo do decreto presidencial reservado nº 4, assinado pelo presidente João Baptista Figueiredo. Sua unidade operacional é o Esquadrão Jaguar.

Os Mirage III da FAB foram desenvolvidos para missões de defesa aérea, embora mantivessem alguma capacidade de ataque ao solo. O motor é um Snecma Atar 09C, com potência máxima em pós-combustão de 17,71 kN (13.900 lbf), atingindo a velocidade máxima de Mach 2,2 (2.350km/h). O sistema de controle de fogo era baseado no radar Thomson-CSF Cyrano II, que originalmente operava integrado ao míssil ar-ar infravermelho francês Matra R530, depois substituído pelo míssil israelense Python III. Como armamento fixo, a aeronave era dotada de dois canhões DEFA de 30 mm. Para navegação, os Mirage III da FAB utilizavam sistemas Doppler. No início dos anos 1990, a FAB incorporou ao Esquadrão Jaguar missões de ataque ao solo, passando a utilizar bombas de queda livre e casulos para foguetes. Neste período já era preocupante a obsolescência desses aviões.

Após a desativação oficial dos Mirage III, em 14 de dezembro de 2005, a FAB partiu para uma solução temporária, gap filler ou tampão, com a aquisição de 10 Mirage 2000C e dois Mirage 2000B desativados pela Armée de l’Air, a Força Aérea Francesa, e reformados para a reequipar o Esquadrão Jaguar. As duas primeiras unidades chegaram em 04 de setembro de 2006. As restantes foram entregues em lotes sucessivos até 2008.

Foi uma solução controvertida e por demais temporária. Os Mirage 2000 eram apenas 10 anos mais novos do que os Mirage III e totalmente incompatíveis com o sistema de defesa aérea que estava sendo implantado na FAB. Nele, os caças brasileiros trocariam informações via datalink com os aviões R-99 de alerta antecipado do Esquadrão Guardião (2º/6º GAv), valendo-se da detecção de longo alcance do radar aerotransportado. O Guardião também está baseado em Anápolis. Além disso, os Mirage 2000 vieram com armamentos considerados superados e sem condições de receber os novos armamentos que estavam sendo instalados nos demais caças da força.

Entre o período da desativação do Mirage III e a operação definitiva do Mirage 2000, o Esquadrão Jaguar utilizou aeronaves Embraer AT-26 Xavante para manter a proficiência de seus pilotos, que deixaram de atuar em interceptações. Essas missões foram conduzidas em rodízio pelos Northrop F-5E Tiger II do 1º Grupo de Caça (Santa Cruz, RJ) e do Esquadrão Pampa (Canoas, SP). Após esse período, os Xavante retornaram ao Esquadrão Pacau (então em Natal, RN).

Durante 7 anos, o mirage 2000 entrou em ação uma vez, em 2009, para interceptar um tupi

Na Força Aérea Brasileira, os Mirage 2000C receberam a designação de F-2000C e os Mirage 2000B, de F-2000B. Ambos os modelos estavam equipados com turbofans SNECMA M53-P2, capazes de desenvolver 93 kN (20.900 lbf) de empuxo e armamento fixo composto por dois canhões GIAT/DEFA 554 de 30 mm, além de capacidade para transportar bombas e mísseis nos diversos pontos duros sob as asas e fuselagem. Excepcionais quando lançados, os já defasados Mirage 2000 utilizados pelo Brasil não deixarão tanta saudade.

Durante os sete anos em que esteve em serviço, o Mirage 2000 entrou em ação real apenas uma vez, quando, em março de 2009, foi acionado para interceptar um monomotor Tupi, que voava sem plano de voo, ou contato, e se aproximava dos limites do Distrito Federal. O homem no comando havia roubado a aeronave no aeroclube de Luziânia e, mesmo sem carteira, permaneceu no ar por mais de uma hora. O Tupi caiu no estacionamento do ­shopping Flamboyant, em Goiânia, matando o piloto e sua filha de 5 anos de idade.

Enquanto o Gripen não chega, desde dezembro, unidades equipadas com o F-5M Tiger II, modernizado pela Embraer e pela Elbit, preenchem pela segunda vez em pouco mais de oito anos o gap filler do GDA.

Colaborou André Vargas

Por Santiago Oliver
Publicado em 29/01/2014, às 00h00 - Atualizado em 30/01/2014, às 00h18


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