Descubra qual avião executivo atende melhor às suas missões, com análise de custos, desempenho e operação na aviação de negócios
Por Jonas Lopez Publicado em 04/06/2025, às 08h00
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A escolha entre um jato leve e um avião turboélice continua sendo uma dúvida comum entre compradores da aviação executiva no Brasil. Com o avanço dos jatos leves, que oferecem menor custo de manutenção e desempenho semelhante aos turboélices em voos de maior distância, muitos proprietários avaliam se vale a pena investir em um jato leve ao invés de um monoturboélice ou bimotor.
Este comparativo detalha os custos operacionais, a autonomia, o conforto da cabine, a infraestrutura de pistas e os aspectos técnicos que influenciam na decisão entre jatos leves e turboélices para uso corporativo ou pessoal.
Ainda hoje, muitos se perguntam se devem seguir uma “teoria evolutiva aeronáutica” ao ingressar no universo da aviação privada. Ficam em dúvida se precisam passar primeiro por um monomotor a pistão, em seguida um bimotor a pistão, depois um turboélice (mono ou bimotor) e, só então, comprar um jato. A resposta é não necessariamente.
Claro que não há problema algum em seguir essa lógica, mas considere que a aquisição de uma aeronave pode ocorrer sem que se cumpra uma regra pré-determinada. Na verdade, o importante é levar em conta os aspectos técnicos e operacionais de suas futuras missões, geralmente representados por 75% das operações previstas.
Durante o desenvolvimento dos chamados jatos leves a indústria tinha como objetivo diminuir os custos dos novos aviões em relação aos de jatos de negócios convencionais, tornando suas despesas mais próximos às de modelos turboélice, além de incluir em seu portfólio modelos capazes de preencher a lacuna que havia entre jatos médios e turboélices – representando o que se poderia chamar de “evolução natural”.
Com o lançamento dos primeiros modelos de VLJ, ou Very Light Jets, em meados dos anos 2000, verificou-se uma redução de custos tanto em termos operacionais como, principalmente, de manutenção. Assim, os custos deixaram de ser um aspecto incomparável no momento da escolha de uma aeronave, como costumava acontecer com jatos de geração anterior, sobretudo em relação aos biturboélices.
Hoje, as diferenças dos valores gastos com a manutenção de um bimotor turboélice e um VLJ ao longo de um curto período de operação (de seis anos, por exemplo) já não são tão representativas e tendem a ficar mais próximas podendo até, em alguns casos, ser mais vantajoso para o VLJ – que não precisa cumprir uma série de inspeções programadas típicas de alguns turboélices. O mesmo, porém, não acontece no caso de um turboélice monomotor, que ainda leva vantagem em relação a um jato bimotor no quesito custo operacional e de manutenção, além de oferecer muito mais espaço interno.
As distâncias voadas em cada trecho também podem influenciar diretamente nos custos, neste caso no custo operacional. Nas pernas mais curtas, os turboélices têm um custo por hora voada imbatível, enquanto o jato tende a apresentar um custo por hora maior, o que o coloca em clara desvantagem. Se suas missões cumprirão principalmente viagens curtas, não há muita dúvida em relação ao tipo de aeronave a escolher.
Ainda assim, dependendo da situação, vale considerar uma variável na equação. Ao pensarmos na aviação de negócios (excetuando-se os taxis-aéreos, cuja lógica é mais complexa), estamos falando de aeronaves que vão suprir as necessidades de uma empresa e, em muitos casos, também de seus controladores.
Como exemplo, considere uma aeronave que voe semanalmente uma rota de 600 quilômetros, cumprindo os compromissos de seu proprietário. Imagine, agora, que essa mesma aeronave, nos fins de semana, voe mais 1.800 quilômetros para o lazer da família. Nesse caso, a vantagem do custo operacional relativo à hora voada não tem o mesmo peso se comparado àquele em que as viagens mais distantes são exceção.
Para dar uma noção mais prática, nesta missão de 1.800 quilômetros um jato leve bimotor e um turboélice bimotor teriam custos de operação similares e a aeronave a jato chegaria ao destino cerca de uma hora antes, por ser de 30% a 40% mais rápida do que turboélices, e com um conforto maior proporcionado por uma cabine de passageiros mais silenciosa, voando em altitudes maiores em busca de ar mais calmo. Além disso, usando menos tempo de voo, aumenta-se o intervalo de algumas intervenções de manutenção.
Mais uma vez, no caso da comparação com um monoturboélice, que também são bastante rápidos, a vantagem do custo volta para a aeronave a hélice, o que vai obrigar o futuro proprietário a avaliar cada pró e contra de maneira mais meticulosa.
Alguns outros aspectos, como segurança de voo, seguros, custos com pilotos, custos de aquisição e hangaragem, possuem pouca ou nenhuma diferença entre os modelos e, embora sejam de alto grau de importância operacional no voo cotidiano, num processo de escolha teriam baixo peso devido ao alinhamento de custos e de confiabilidade que essas aeronaves apresentam.
O mesmo não acontece ao analisarmos o quesito pistas. Diante da necessidade de operar em pistas sem preparo, como terra, cascalho ou grama, temos razão suficiente para optar por um turboélice. Com exceção do novo Pilatus PC-24, jatos civis não devem operar em superfícies que não sejam de asfalto ou concreto.
De novo, se a necessidade de se ter um jato pesar na escolha, mesmo que seus destinos tenham aeródromos com pistas despreparadas, é possível considerar as redondezas. O uso de aeroportos em uma cidade ou uma propriedade vizinha com uma pista que possa receber uma aeronave com propulsão a jato sem problemas operacionais são mais comuns do que se imagina.
Na prática, a equação de escolha entre um turboélice e um jato leve não é tão exata ou óbvia como pode parecer. Com a chegada dos VLJ, os jatos ganharam terreno na concorrência com os turboélices, mas a disputa continua acirrada ao se considerar a infraestrutura aeroportuária do Brasil e também a performance principalmente dos monoturboélices em relação ao custo.
Também pesam a favor dos turboélices várias décadas de aprimoramento em comparação aos “recentes” VLJ, ainda que a evolução tecnológica se revele muito mais rápida hoje do que era há 40 anos, com produtos atingindo sua maturidade mais rapidamente. Por fim, a versatilidade é e sempre será a maior vantagem dos turboélices, que podem ser empregados nas mais variadas missões.
*Jonas Lopez é piloto, administrador de empresas e pós-graduado em Marketing.
**Publicado originalmente na AERO Magazine 310 · Março/2020 – Texto atualizado para publicação online.