Modelo usará tecnologia híbrida na fase inicial, dando inicio ao processo de eletrificação do transporte aéreo
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 12/03/2021, às 15h10 - Atualizado às 15h29
Plataforma básica do futuro avião é baseada no italiano Tecnam P2010, equipado com motores Rolls-Royce
O primeiro avião comercial elétrico pode estar próximo de se tornar realidade e poderá voar regularmente em 2026. A Rolls-Royce, tradicional fabricante de motores aeronáuticos, e a italiana Tecnam, trabalham para viabilizar o primeiro modelo de avião regional híbrido.
Ainda que na fase inicial a aeronave seja híbrida, é o primeiro passo para a eletrificação da aviação comercial. O projeto envolve o uso da estrutura básica do P2010, um pequeno avião regional da Tecnam, equipado com novos motores H3PS1 da Rolls-Royce, que foram os primeiros propulsores híbridos desenvolvidos para aeronaves de maior porte.
O projeto tem como parceria a Widerøe, a maior empresa aérea regional da Noruega, que pretende avançar na redução de emissões de carbono e ruído ainda nesta década. “Esta aeronave mostra a rapidez com que novas tecnologias podem e serão desenvolvidas, e que estamos no caminho certo com nossa ambição de voar com zero emissões por volta de 2025”, disse Stein Nilsen, CEO da Widerøe.
O acordo firmado com a Rolls-Royce, firmado em 2019, tem como objetivo viabilizar um avião ao menos híbrido que possa voar regularmente na segunda metade da década. Um dos desafios é achar um ponto de equilíbrio entre a capacidade energética das baterias e o peso estrutural de cada célula. Uma aeronave híbrida permite manter a confiabilidade dos motores tradicionais, que ainda servem como geradores para carregamento das baterias, reduzindo a quantidade de células necessárias para viabilizar um voo de médio alcance.
O processo é visto como uma fase de transição entre os motores convencionais, abastecidos com combustível líquido derivado de petróleo ou de fontes vegetais, e uma futura motorização completamente elétrica.
“A eletrificação nos ajudará a cumprir nossa ambição de permitir que os mercados em que operamos alcancem carbono zero até 2050”, afirmou Rob Watson, diretor da Rolls-Royce Electrical.
Atualmente, existem alguns projetos de aviões pessoais, como o Alpha Electro, da eslovena Pipistrel, que se tornou o primeiro avião elétrico certificado do mundo. Porém, o alcance é bastante restrito, permitindo apenas voos locais, especialmente de treinamento de pilotos.
O programa firmado entre a Rolls-Royce, Tecnam e Widerøe deverá cobrir todos os elementos de desenvolvimento e entrega de um avião de passageiros totalmente elétrico e possa ser usado no mercado norueguês a partir de 2026.
A Noruega, por causa de sua geografia, faz amplo uso da aviação regional para conectar seu território. O país ainda que tenha fortes laços com a indústria de petróleo, trabalha para reduzir no curto prazo as emissões de poluentes no transporte aéreo.
“Estamos muito entusiasmados com a oferta do papel de operador de lançamento, mas também humildes sobre os desafios de colocar em serviço a primeira aeronave de emissão zero do mundo”, destacou Andreas Aks, diretor de estratégia da Widerøe. Ainda que tecnicamente a tecnologia híbrida não seja um mistério para a indústria, sua aplicação na aviação traz uma série de novos desafios.
Os principais entraves, além do peso das baterias e sua capacidade energética, está a necessidade de uma nova regulamentação. Será necessário criar e padronizar uma série de requisitos novos para permitir a certificação de aeronaves híbridas, um processo especialmente delicado quando se trata da aviação comercial. Os fabricantes, operadores e autoridades terão de encontrar elevados níveis de segurança para garantir a operação destes novos modelos. Além disso, ainda será necessário estabelecer padrões para garantir que empresas possam realizar a apólice de seguros desta nova categoria de aeronaves.
Ainda que conte com uma modesta participação na indústria aeronáutica global, a Tecnam tem oferecido seus aviões da série P2010, que originalmente é equipado com motores convencionais a pistão, para uma série de novos projetos. A estrutura básica do avião deu origem ao P-Volt, uma aeronave totalmente elétrica, com onze assentos. A Nasa também utiliza uma estrutura básica de um avião da Tecnam para o programa X-57 Maxwell, que pesquisa a viabilidade de um avião elétrico de grande eficiência.
A Widerøe foi a primeira empresa aérea do mundo a receber e operar com a nova geração da família E-Jet E2 da Embraer. A companhia tem ampliado sua capacidade ao mesmo tempo que busca alternativas para reduzir pegada ambiental.