Superjet 100 foi criado em parceria com empresas ocidentais, mas vai receber sistemas exclusivamente russos
Por Gabriel Benevides e Edmundo Ubiratan Publicado em 05/04/2021, às 16h00 - Atualizado às 16h33
Superjet 100 foi o primeiro avião comercial da Sukhoi e marcou uma nova fase na indústria aeronáutica russa
O Sukhoi Superjet 100 passará por um amplo programa de atualização, incluindo motorização e sistemas de aviônicos. Denominado como SSJ NWE (Novo Sukhoi Super Jet em tradução livre), a intenção é ampliar o uso de componentes produzidos na Rússia.
Atualmente Moscou tem adotado uma postura de priorizar as tecnologias locais, após um caminho de abertura de parcerias com empresas internacionais. Oficialmente a intenção é reduzir a dependência de parceiros estrangeiros para não correr riscos de embargos.
O programa será conduzido pela estatal United Aircraft Corporation (UAC), parte da gigante Rostec, que desenvolverá a nova variante do jato regional que deverá contar com os motores Aviadvigatel PD-14 e novos aviônicos produzidos com tecnologia russa.
Ainda que os PD-8 sejam uma variante dos PD-14, que são utilizados no MC-21 (MS-21, no alfabeto latino), seu desenvolvimento ainda está em andamento e a certificação está programada para 2023. A intenção é substituir definitivamente o fornecimento dos motores atuais SaM146, desenvolvidos pela PowerJet, uma joint venture entre a Safran, da França, e russa NPO Saturn.
O Superjet 100 ainda passará por uma ampla reformulação nos seus sistemas aviônicos, elétricos e de comunicação, sendo produzidos totalmente com tecnologias russas. A mudança demandará uma nova certificação para o avião, que deverá ocorrer até 2024.
O programa é a principal aposta da UAC para o mercado regional russo, que mesmo sendo o único obtido pelo modelo, ainda sofre com a falta de interesse da maioria das empresas aéreas do país.
A russa Aviadvigatel criou o motor PD-8 como um derivado do PD-14 usado no MC-21
A maior conquista do Superjet 100, que conta com parceria de vendas da italiana Leonardo, foi um acordo com a empresa mexicana de ultrabaixo custo Interjet. Porém, o modelo teve uma vida operacional curta no México, especialmente em relação ao suporte pós-venda. A Interjet enfrentou dificuldades para a obtenção de peças que eram fornecidas apenas pela UAC, através de um complexo e lento processo de encomenda e liberação.
Projetado no início dos anos 2000, o Sukhoi Superjet 100 nasceu a partir de uma grande cooperação entre as principais fabricantes de aeronaves russas que tinham como ambição implantar um jato que pudesse cumprir rotas regionais e domésticas, além de operar em clima extremamente frio.
O programa contou com a consultoria da Boeing, que apoiou o desenvolvimento dos requisitos do projeto básico, ainda designado como Russian Regional Jet (RRJ 100). Na sequência, a NPO Saturn obteve uma importante parceria com a francesa Safran, para desenvolvimento dos motores SaM146, enquanto a então Finmeccanica (atual Leonardo) se tornou sócia da SuperJet International, que apoia a campanha de vendas no mercado internacional.
Porém, o projeto sofreu diversos atrasos, especialmente em relação ao processo de certificação. A Rússia teve de adaptar todos seus processos para atender aos requisitos de homologação das autoridades de aviação dos Estados Unidos e Europa, que são o padrão internacional. Assim, somente em 2011 o avião iniciou sua operação comercial, na Rússia.
A desconfiança de diversas empresas em relação a capacidade de suporte da UAC, aliada a experiência negativa da Interjet, praticamente tiraram o Superjet 100 do cobiçado mercado de jatos regionais, hoje dominado pelos Airbus A220 e Embraer E-Jet.
UAC pretende substituir toda a suíte de aviônicos do Superjet 100 por um sistema desenvolvido na Rússia
Apesar de toda dificuldade para se adaptar aos requisitos internacionais, a cooperação das empresas aeroespaciais russas foram fundamentais para a criação de novas tecnologias, inclusive rendendo parcerias estratégicas com países importantes, como o caso da China.
Atualmente a Irkut trabalha no MC-21, que conta com grande parte de seus sistemas fornecidos por empresas ocidentais. Além disso, trabalha com a chinesa Comac no desenvolvimento do CR929, o primeiro avião de duplo corredor desenvolvido na Rússia após o fim da União Soviética e o primeiro modelo do tipo na China.