Celulares e redes sociais causam distrações perigosas em voos comerciais, alertam órgãos de aviação e associações de pilotos
Por Marcel Cardoso Publicado em 17/07/2025, às 09h30 - Atualizado às 10h50
O uso de celulares e câmeras por pilotos durante operações aéreas está gerando riscos significativos à segurança de voo, segundo associações internacionais e órgãos reguladores. Incidentes envolvendo distrações na cabine cresceram com a popularidade de vídeos e fotos em redes sociais como Instagram e TikTok, levando entidades como a Ifalpa (Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linha Aérea) a emitir alertas globais.
A Ifalpa, que representa mais de 148 mil pilotos em todo o mundo, apontou em relatório recente que dispositivos pessoais se tornaram fonte de distração operacional. O documento cita casos graves em que equipamentos de gravação bloquearam comandos críticos ou até liberaram fumaça durante o voo. Em um episódio, uma câmera presa ao manche causou uma descida brusca e feriu passageiros.
Vídeos e fotos feitos dentro da cabine se tornaram populares nas redes sociais, mas autoridades alertam que a prática expõe vulnerabilidades operacionais. Em um incidente, uma câmera ficou presa ao manche enquanto o piloto ajustava o assento, causando uma descida repentina que deixou passageiros feridos. Em outro, um equipamento de gravação bloqueou as alavancas de potência, impedindo o controle dos motores.
Relatórios mostram ainda que celulares soltos no cockpit podem gerar panes inesperadas. Em um voo recente, um aparelho caiu e quebrou dentro da cabine, liberando fumaça durante a aproximação para o pouso. Especialistas em segurança classificam esses episódios como falhas potencialmente catastróficas.
Nos Estados Unidos, a FAA (Federal Aviation Administration) proíbe o uso de dispositivos eletrônicos não essenciais por tripulantes durante operações de voo, especialmente abaixo de 10 mil pés. Companhias como Delta, American Airlines e United adotam políticas rígidas contra o uso de celulares na cabine.
No Reino Unido, a CAA (Civil Aviation Authority) reforça a importância de manter o cockpit livre de distrações. No Brasil, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) regulamenta a prática nos RBAC 91, 121 e 135, proibindo o uso de dispositivos em fases críticas do voo.
A Associação Britânica de Pilotos de Linha Aérea (Balpa) destaca que a maioria dos profissionais age com responsabilidade, mas o hábito de gravar conteúdos para redes sociais representa um risco real. O programa britânico Chirp, que recebe relatos anônimos sobre fatores humanos na aviação, registrou casos de pilotos fazendo vídeos “selfie” durante inspeções e até pousos — momentos críticos da operação aérea.
Além da distração, essas gravações podem expor procedimentos de segurança, layouts técnicos e dados da tripulação, elevando a vulnerabilidade operacional.