Temor israelense é que aeronave possa reduzir sua vantagem militar na região
Por Gabriel Benevides e Edmundo Ubiratan Publicado em 20/08/2020, às 18h00 - Atualizado às 23h43
Estados Unidos negociam a venda de um lote de caças F-35 para os Emirados Árabes Unidos em uma proximação histórica
Mesmo com o possível sinal verde dos Estados Unidos para a venda dos caças F-35 para o Emirados Árabes Unidos, os caças de quinta geração podem enfrentar um poderoso rival no Oriente Médio, Israel.
Ainda que Israel seja um dos principais aliados dos Estados Unidos na região e sócio do programa Joint Strike Fighter, que deu origem ao F-35, o país enxerga no acordo com seus vizinhos árabes uma ameaça iminente.
O governo israelense mantém a alegação que sua sobrevivência está ligada a necessidade de manter sua superioridade militar frente aos demais países do golfo. Ainda assim, a Arábia Saudita dispõe de uma poderosa frota de caças e veículos militares norte-americanos, assim como no passado o Irã recebeu os F-14 Tomcat.
Porém, a Arábia Saudita é vista como um aliado estratégico na região, já que sua queda poderia representar uma instabilidade global, com mudanças na produção de petróleo e o na zona de influência norte-americana.
Mesmo com escolhas pontuais, os Estados Unidos evitam equipar os países do Oriente Médio com equipamentos de ponta, sempre mantendo Israel com uma vantagem militar qualitativa na região.
Com o recente acordo intermediado pelos Estados Unidos, que visa estabilizar a relação entre Israel e os Emirados Árabes, que ainda hoje não possuem relação diplomática, o governo Trump aproveitou o momento para sinalizar a venda de armas e tecnologias de defesa, como ato de boa-fé com seus aliados árabes.
“Nas negociações [com os Emirados Árabes Unidos], Israel não mudou sua posição consistente contra a venda de armas e tecnologias de defesa que poderiam inclinar a balança militar a qualquer país do Oriente Médio”, disse Benjamin Netanyahu, Primeiro-Ministro de Israel.
Dentro da balança geopolítica e militar, alguns estrategistas israelenses acreditam que uma possível venda do F-35 para os Emirados Árabes não é o cenário perfeito, mas também pode representar uma vantagem tática contra inimigos em comum, especialmente o Irã.
O ministro de energia israelense, Segundo Yuval Steinitz, lembrou que no passado os Estados Unidos venderam para os Emirados Árabes um lote de F-16 mais avançado do que os utilizados por Israel, além dos F-15 para a Arábia Saudita. Em ambas as negociações Israel se mostrou contra, mas foi vencido e as aeronaves entregues. “Gostaria de nos tranquilizar. Qualquer F-35 que acabe nos Emirados Árabes Unidos, não que fiquemos felizes com isso, já que sempre querermos ser os únicos [com tais aeronaves] na região, isso é uma ameaça maior ao Irã do que para nós”, destacou Steinitz.
Vale notar que mesmo que o F-35 seja operado pelos Emirados Árabes, o pequeno reino fica distante o bastante de Israel, exigindo assim o reabastecimento em voo em um hipotético conflito, ou o uso das aeronaves com baixa capacidade bélica. Além disso, vizinhos menos amigáveis como o Catar e o Egito, estão modernizando suas forças aéreas com caças Rafale, considerados um dos mais modernos da atualidade. Aliás, o Egito ainda inclui uma encomenda de caças russos, mantendo uma frota diversificada e distante dos potenciais embargos militares israelenses ou norte-americanos.